Logo E-Commerce Brasil

Amazon reduz tarifas e expande logística no Brasil, mas a disputa real é por poder no e-commerce

Por: Rebecca Fischer

Chief Strategy Officer (CSO) de co-fundadora da Divibank

Chief Strategy Officer (CSO) de co-fundadora da Divibank, ela é formada pela Universidade de Georgetown e tem mais de 12 anos de experiência na indústria de marketing e publicidade. Iniciou sua carreira em 2008 como estagiária na Pinacoteca do Estado de São Paulo e, ao longo dos anos, ocupou Diretora de Sucesso do Cliente na Skai (antiga Kenshoo), onde atendeu clientes como Mercado Livre, Nubank e iFood. Em 2020, uniu-se a Jaime Taboada para fundar a Divibank, combinando sua expertise em marketing digital com a experiência financeira de Jaime.

Ver página do autor

A corrida pelo domínio do e-commerce brasileiro ganhou novos contornos em 2025. Com a expansão do programa Fulfillment by Amazon (FBA) para cinco novos estados e uma agressiva redução de tarifas logísticas, a gigante americana dá um recado claro ao mercado: não pretende ceder espaço para concorrentes como Mercado Livre e Shopee. A estratégia, no entanto, vai além da simples redução de preços – trata-se de consolidar infraestrutura, atrair pequenos vendedores e, sobretudo, construir um ecossistema logístico que contenha o avanço de rivais em um dos mercados mais promissores do mundo.

Caixa com o logo da Amazon e os dizeres "Fulfillment by Amazon" sobre esteira em centro de distribuição.
Imagem gerada por IA.

O Brasil já é, há tempos, um laboratório de disputas entre plataformas globais. Mas o novo passo da Amazon revela um grau de maturidade distinto: não se trata apenas de operar no país, mas de moldar a lógica do mercado. Com centros de distribuição chegando ao Nordeste, Centro-Oeste e outras regiões fora do eixo SP-RS, a companhia elimina barreiras para que vendedores locais possam operar com seus próprios CNPJs, mantendo benefícios fiscais. É uma jogada que fala diretamente ao bolso do pequeno empreendedor, que antes precisava abrir empresa em outras unidades federativas para acessar o FBA.

Essa movimentação também é uma resposta ao avanço chinês, cada vez mais presente na logística brasileira. Plataformas como Meituan e Didi – esta última dona do iFood – estão atentas ao potencial de crescimento local, investindo em velocidade, eficiência e diversificação de serviços. A Amazon se antecipa a uma possível virada de chave, construindo capilaridade logística e eliminando gargalos regionais. Ao aproximar centros de distribuição dos consumidores e reduzir a dependência do transporte aéreo, a empresa não apenas melhora o tempo de entrega, mas também reforça seu argumento de sustentabilidade – outro trunfo em tempos de pressão ambiental.

O corte de tarifas, por sua vez, é o coração da ofensiva. Produtos abaixo de R$ 79 terão redução de até 89% nos custos logísticos, com preços fixos que transformam o jogo para quem vende itens de baixo valor agregado. Isso acontece justamente após o Mercado Livre também rebaixar o preço mínimo para frete grátis – de R$ 79 para R$ 19 – e oferecer descontos relevantes a novos vendedores.

O timing das medidas revela que estamos diante de uma guerra de margens, em que as gigantes estão dispostas a abrir mão de lucros momentâneos para capturar uma fatia maior do mercado e, com isso, fidelizar vendedores e consumidores no médio prazo.

Porém, há um ponto pouco debatido nesse cenário: a dependência crescente dos empreendedores de plataformas específicas. Ao centralizar a logística, o atendimento e até mesmo a emissão de notas fiscais, empresas como a Amazon transformam-se em verdadeiras operadoras do e-commerce nacional. Isso reduz a autonomia dos vendedores, ainda que traga vantagens operacionais. O risco é que, no futuro, esses pequenos negócios fiquem vulneráveis a mudanças súbitas de política, reajustes tarifários ou novos critérios impostos por plataformas que hoje parecem generosas, mas operam sob a lógica do poder e do monopólio.

No fim das contas, a Amazon não está apenas oferecendo um serviço logístico mais barato. Está pavimentando uma infraestrutura própria, amarrando vendedores ao seu ecossistema e reposicionando sua marca como protagonista de uma nova fase do varejo digital. Em um ambiente tão competitivo quanto o brasileiro, essa postura pode determinar não só quem lidera as vendas online, mas também quem dita as regras do jogo. O consumidor ganha em agilidade e preço, sim. Mas o real embate está no controle da cadeia e, nesse quesito, a Amazon acaba de subir mais um degrau.