A corrida pelo domínio do e-commerce brasileiro ganhou novos contornos em 2025. Com a expansão do programa Fulfillment by Amazon (FBA) para cinco novos estados e uma agressiva redução de tarifas logísticas, a gigante americana dá um recado claro ao mercado: não pretende ceder espaço para concorrentes como Mercado Livre e Shopee. A estratégia, no entanto, vai além da simples redução de preços – trata-se de consolidar infraestrutura, atrair pequenos vendedores e, sobretudo, construir um ecossistema logístico que contenha o avanço de rivais em um dos mercados mais promissores do mundo.

O Brasil já é, há tempos, um laboratório de disputas entre plataformas globais. Mas o novo passo da Amazon revela um grau de maturidade distinto: não se trata apenas de operar no país, mas de moldar a lógica do mercado. Com centros de distribuição chegando ao Nordeste, Centro-Oeste e outras regiões fora do eixo SP-RS, a companhia elimina barreiras para que vendedores locais possam operar com seus próprios CNPJs, mantendo benefícios fiscais. É uma jogada que fala diretamente ao bolso do pequeno empreendedor, que antes precisava abrir empresa em outras unidades federativas para acessar o FBA.
Essa movimentação também é uma resposta ao avanço chinês, cada vez mais presente na logística brasileira. Plataformas como Meituan e Didi – esta última dona do iFood – estão atentas ao potencial de crescimento local, investindo em velocidade, eficiência e diversificação de serviços. A Amazon se antecipa a uma possível virada de chave, construindo capilaridade logística e eliminando gargalos regionais. Ao aproximar centros de distribuição dos consumidores e reduzir a dependência do transporte aéreo, a empresa não apenas melhora o tempo de entrega, mas também reforça seu argumento de sustentabilidade – outro trunfo em tempos de pressão ambiental.
O corte de tarifas, por sua vez, é o coração da ofensiva. Produtos abaixo de R$ 79 terão redução de até 89% nos custos logísticos, com preços fixos que transformam o jogo para quem vende itens de baixo valor agregado. Isso acontece justamente após o Mercado Livre também rebaixar o preço mínimo para frete grátis – de R$ 79 para R$ 19 – e oferecer descontos relevantes a novos vendedores.
O timing das medidas revela que estamos diante de uma guerra de margens, em que as gigantes estão dispostas a abrir mão de lucros momentâneos para capturar uma fatia maior do mercado e, com isso, fidelizar vendedores e consumidores no médio prazo.
Porém, há um ponto pouco debatido nesse cenário: a dependência crescente dos empreendedores de plataformas específicas. Ao centralizar a logística, o atendimento e até mesmo a emissão de notas fiscais, empresas como a Amazon transformam-se em verdadeiras operadoras do e-commerce nacional. Isso reduz a autonomia dos vendedores, ainda que traga vantagens operacionais. O risco é que, no futuro, esses pequenos negócios fiquem vulneráveis a mudanças súbitas de política, reajustes tarifários ou novos critérios impostos por plataformas que hoje parecem generosas, mas operam sob a lógica do poder e do monopólio.
No fim das contas, a Amazon não está apenas oferecendo um serviço logístico mais barato. Está pavimentando uma infraestrutura própria, amarrando vendedores ao seu ecossistema e reposicionando sua marca como protagonista de uma nova fase do varejo digital. Em um ambiente tão competitivo quanto o brasileiro, essa postura pode determinar não só quem lidera as vendas online, mas também quem dita as regras do jogo. O consumidor ganha em agilidade e preço, sim. Mas o real embate está no controle da cadeia e, nesse quesito, a Amazon acaba de subir mais um degrau.