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Jumia: empresa africana aposta em reestruturação e crescimento regional

Por: Lucas Kina

Jornalista e produtor de Podcasts no E-Commerce Brasil

A Jumia, empresa pan-africana de e-commerce conhecida como “Amazon da África”, tem intensificado os esforços para retomar a confiança de investidores após anos de promessas não cumpridas e forte desvalorização de mercado. Desde a abertura de capital em 2019, na Bolsa de Nova York, a companhia viu suas ações recuarem quase 90%, reflexo de resultados abaixo do esperado e de uma concorrência crescente no continente.

Jumia empresa africana aposta em reestruturação e crescimento regional para recuperar confiança do mercado
(Imagem: BBC)

À frente da empresa desde o fim de 2022, o CEO Francis Dufay tem conduzido uma reestruturação com foco na redução de custos, enxugamento da operação e meta de alcançar o equilíbrio financeiro até 2027.

“Entre agora e 2027, vamos nos concentrar em apresentar números. Isso será mais efetivo do que grandes discursos”, afirmou em entrevista ao Financial Times. Desde sua nomeação, o prejuízo anual da empresa caiu de US$ 206 milhões para uma projeção de até US$ 55 milhões em 2025.

Momento diferente

A nova fase da Jumia também passa por uma mudança estratégica: em vez da expansão para novos mercados, a companhia decidiu fortalecer sua presença nos nove países em que já atua — número menor que os 14 cobertos na época do IPO. A Nigéria foi destacada por Dufay como o mercado com maior potencial de crescimento e lucratividade. Egito, Uganda e Quênia também são vistos como prioritários.

Desafios no mercado

Mesmo pioneira no e-commerce em muitos desses mercados, a Jumia agora enfrenta pressão de gigantes chinesas como Temu e Shein. Como resposta, a empresa tem ampliado o número de vendedores chineses em sua plataforma. Atualmente, esses lojistas — responsáveis por categorias como moda, beleza e eletrônicos — representam cerca de um terço do volume total de vendas. Para dar suporte a essa frente, a empresa mantém uma equipe de 70 pessoas em Shenzhen, na China.

Além do desafio da concorrência, o avanço do e-commerce na África esbarra em entraves estruturais, como a baixa inclusão bancária, dificuldades logísticas e de pagamento, além da volatilidade macroeconômica em diversos países. Ainda assim, Dufay acredita que a Jumia pode se beneficiar de um potencial represado na região, especialmente em segmentos fora dos grandes centros urbanos.

A Jumia também enxerga oportunidade em um possível redirecionamento das exportações asiáticas diante das novas tarifas comerciais impostas pelos EUA.

“Com a desaceleração das exportações da China e do Sudeste Asiático, haverá busca por novos mercados. A África é uma região em expansão, ainda pouco atendida, e a Jumia está bem posicionada para conectar essa demanda a fornecedores internacionais”, disse Dufay.

A avaliação de mercado da Jumia gira hoje em torno de US$ 400 milhões — menos da metade do valor que justificou seu status de unicórnio em 2019.