A quarta edição do Indicador de Tendência de Consumo e Varejo (ITCVcev), produzida pelo Centro de Excelência em Varejo da FGV EAESP em parceria com a FFC-MDS Serviços Financeiros, traz uma leitura estratégica sobre o desempenho do varejo brasileiro e traça projeções para os próximos 18 meses. O estudo, referente a junho de 2025, destaca a influência do cenário macroeconômico, tanto doméstico quanto internacional, sobre o setor.

Desempenho do início do ano contrasta com perda de fôlego
A análise mostra que, apesar do bom ritmo da economia no primeiro trimestre, impulsionado pela safra recorde do agronegócio, há sinais claros de desaceleração nas vendas do comércio varejista. A conclusão parte de dados da PNAD Contínua e da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), ambas do IBGE.
A leve revisão para baixo nas projeções econômicas da FGV não altera substancialmente o cenário base: a economia ainda caminha com razoável vigor, mas os efeitos de esfriamento já são perceptíveis em comparação com o final de 2024.
Cenário internacional aumenta a incerteza
O estudo também considera a influência da conjuntura global. Os riscos políticos e fiscais nos Estados Unidos elevam a volatilidade econômica internacional, o que pode afetar a confiança e o fluxo de investimentos no Brasil.
Um dos pontos centrais do relatório é o desalinhamento entre as políticas fiscal e monetária. O governo, segundo a análise, tende a buscar apenas o limite inferior da meta fiscal, déficit de 0,25% do PIB, o que configura uma política fiscal ainda expansionista. Esse estímulo, por sua vez, compromete a efetividade da política monetária mais rígida adotada pelo Banco Central.
Essa falta de coordenação tem gerado efeitos colaterais importantes: as expectativas inflacionárias continuam acima da meta, a dívida pública segue sem estabilidade e as empresas enfrentam altos custos financeiros. Para o varejo, setor historicamente pressionado por margens reduzidas, esse ambiente torna a operação ainda mais desafiadora.
Indicadores mistos reforçam cenário de cautela
O relatório também apresenta um quadro misto entre os principais indicadores econômicos:
- A taxa de desemprego voltou a cair;
- A confiança do consumidor, no entanto, seguiu em queda;
- O crescimento da renda perdeu ritmo em relação às projeções anteriores;
- A inadimplência na carteira de crédito aumentou, assim como o custo dos empréstimos com recursos livres;
- O nível de endividamento das famílias também subiu.
Perspectiva para 2025 segue moderada, com atenção ao varejo
Apesar dos desafios macroeconômicos, a agropecuária voltou a se destacar com um forte desempenho no primeiro trimestre. Isso deve garantir que o nível de atividade econômica permaneça acima de 2% ao longo de 2025. No entanto, para o varejo, o cenário exige cautela: margens pressionadas, crédito mais caro e consumo instável podem impactar o crescimento do setor nos próximos meses.