Entre todos os itens à venda nos canais digitais, o vestuário sempre foi um dos mais complexos, isso porque, embora exista um padrão de tamanho e tabela de medidas, cada corpo tem suas próprias curvas e formatos. Além da falta de um elemento indispensável nas compras: o provador. E nesse impasse, de um lado estão os consumidores desconfiados para saber se a peça veste bem ou tem o tamanho correto; do outro, estão as empresas, que desejam reduzir a taxa de devolução e a insatisfação dos seus clientes.

Para contornar esse impasse no varejo de moda, a IA generativa chega no e-commerce com uma versão digital do provador. É uma das soluções que propõe a Doris, fashiontech brasileira que oferece ao público a prova virtual de roupas em seus próprios corpos, em qualquer lugar, seja no online ou loja física, garantindo também a combinação de peças e recomendação ideal de tamanho. Desde 2023 no mercado, a startup acumula em seu currículo a prova de peças da Reserva, Grupo AMC, Aramis, Decathlon e outras.
Após debutar em maio seu novo recurso, Doris Studio, lançando uma campanha 100% feita por IA em colaboração com a Rebook, conversamos com Caio Brito, Diretor Comercial da Doris. Em entrevista, o executivo comentou sobre a importância de ofertar comodidade, privacidade dos dados e os próximos passos da Doris após fechar uma parceria com a NVIDIA em março deste ano.
A tecnologia da Doris promete reduzir devoluções e abandono de carrinho. Na prática, quais têm sido os principais resultados percebidos pelos varejistas após a implementação da ferramenta?
Na prática, o maior valor está na forma como conectamos todo o ecossistema: conhecemos o cliente no online, na loja física e até no pós-compra, atuando como uma ferramenta de impacto transversal — desde a produção de conteúdo, passando pela comunicação da marca, até o atendimento pelo vendedor. Já ajudamos parceiros a reduzir em até 66% a logística reversa, diminuindo custos diretos e fricção para o cliente.
No ambiente físico, com o Doris Mirror, entregamos fluxo qualificado para a loja, incremento de até 12 pontos percentuais nos produtos expostos e impulsionamos vendas adicionais ao apresentar looks completos, estrategicamente alinhados com o DNA da marca e o perfil de quem compra. Para mim, o mais interessante é saber que isso é só uma parcela de onde podemos (e vamos) chegar.
A solução exige que o usuário tire fotos do corpo para recomendar tamanhos com precisão. Como vocês lidam com a questão da privacidade e segurança desses dados sensíveis?
Privacidade é inegociável na Doris. As imagens são processadas em tempo real, não ficam armazenadas nem localmente e são imediatamente anonimizadas. Nenhuma informação sensível fica disponível. Isso garante conformidade total com LGPD e GDPR, trazendo segurança tanto para o cliente final quanto para o varejista.
A empresa promete um aumento de até 2,5 vezes na taxa de conversão e até 60% no ticket médio. Esses números se mantêm consistentes entre marcas de diferentes portes e públicos?
Sim, e geralmente, os resultados são até maiores quando existe abertura para co-criar conosco. O grande diferencial é que, quanto mais o parceiro avança na Stack de soluções da Doris, mais dados desbloqueamos, o que eleva exponencialmente a nossa inteligência sobre o comportamento de compra.
O sucesso começa com o engajamento do consumidor final – entender o valor da solução e saber usar é essencial – mas se consolida com o engajamento do próprio parceiro, que funciona como um catalisador para escalar os resultados de forma mais rápida, sustentável e integrada.
Recentemente vocês fizeram uma campanha com a Reebok. Como tem sido a adesão das marcas (principalmente as brasileiras) ao provador virtual da Doris? Existe alguma resistência por parte do varejo ou o mercado está maduro para esse tipo de solução?
A campanha com a Reebok foi só o começo de uma parceria sólida. Mostramos que conseguimos entregar 10 vezes mais rápido do que métodos tradicionais e reduzir custos em até 90% – além de viabilizar a mesma peça vestida por modelos com diferentes biotipos, aumentando a representatividade e, consequentemente, a conversão.
O mercado brasileiro está cada vez mais maduro, mas ainda enfrenta barreiras internas, como filas de tecnologia e prioridades de integração. Por outro lado, nossa solução é de fácil implementação, temos times dedicados e, quando o cliente entende o valor do ecossistema Doris, conseguimos acelerar o processo e entregar resultados em pouco tempo.

O recurso de Mix & Match oferece uma experiência imersiva ao cliente. Vocês pretendem expandir essa funcionalidade para além da moda? Por exemplo, em acessórios ou calçados?
Expandir faz parte do nosso roadmap, mas antes, nosso foco é dominar o vestuário — que é o maior e mais complexo mercado. A partir daí, o céu é o limite: quem disse que não podemos extrapolar para acessórios, calçados e até perfumes? Não nos limitamos ao hoje, mas temos plena consciência de dar um passo de cada vez, sempre com um horizonte evolutivo bem definido.
Considerando o potencial da solução para o mercado global, há planos de expansão internacional? Se sim, quais regiões são prioridade para a Doris?
Nosso primeiro objetivo é liderar o mercado brasileiro, onde já entregamos inovação de ponta. Hoje, o ecossistema é acessível e conseguimos atuar em grande parte do nosso mercado.
Em paralelo, já estamos presentes no Oriente Médio, um polo forte de IA e muito alinhado culturalmente com o tipo de experiência que oferecemos.
Além disso, contamos com parceiros globais como Oracle e NVIDIA, que potencializam nossa entrada em novos mercados e fortalecem nossa entrega tecnológica. Hoje, o foco é amadurecer onde já atuamos, mas sempre com a porta aberta para oportunidades em outros mercados estratégicos.