Governos da região amazônica mobilizam-se para contestar a possível aprovação do pedido da gigante do varejo online Amazon.com para o domínio gTLD “.amazon”. Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela registraram uma “notificação” na Icann (Corporação para Atribuição de Nomes e Números na Internet). A disputa pelo domínio se arrasta desde dezembro, quando Brasil e Peru enviaram uma carta à Icann contestando o pedido da Amazon.com.
Na ocasião, a ICANN disse que enviaria à Amazon.com um “alerta precoce” solicitando que a empresa explicasse suas razões usar o domínio pedido, e então pesar os argumentos de cada parte e tomar sua decisão final sobre quem deve ser autorizado a usar o domínio. O prazo para essa decisão final não foi determinado. Até esse momento, a Amzon já havia investido 185.000 dólares na tentativa de registrar o domínio, valor que será devolvido se o pedido foi rejeitado, em última análise, segundo relatou o GlobalPost.
Por que a disputa pelo “.amazon” voltou para as manchetes agora? Porque os primeiros domínios genéricos aprovados _ que, certamente, serão aqueles que não tiveram nenhuma objeção _ estão previstos para serem lançados em março de 2013.
Semana passada, entidades latino-americanas se mobilizaram para enviar uma carta conjunta ao GAC (Government Advisory Committee da ICANN) apoiando a contestação feita pelos países. Entre elas o Instituto Nupef, do Brasil, a ISOC e Alfa-Redi, do Peru, a Fundación REDES, da Bolivia, o NIC, da Argentina, a Colnodo, da Colombia, a Paraguai RDS, de Honduras e a ALER (Asociación Latinoamericana de Educación Radiofónica) APADIT.
O argumento dessas entidades é o de que “a Amazônia constitui uma parte importante do território da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, devido à sua grande biodiversidade e incalculáveis naturais recursos. Concessão de direitos exclusivos para este gTLD para uma empresa privada impediria a utilização deste domínio para fins de interesse público, relacionado com a proteção, promoção e sensibilização sobre questões relacionadas ao bioma Amazônia”.
Ainda segundo as entidades, a concessão do domínio à Amazon.com impossibilitaria também a possibilidade de utilização deste domínio para a reunião de sites relacionadas com a população que habita essa região geográfica. Tem mais: “essa sequência de gTLD solicitada pelo “Amazon UE Sarl” corresponde a parte do nome, em inglês, da “Amazon Cooperation Treaty Organization”, organização internacional que coordena iniciativas no âmbito do Tratado de Cooperação Amazônica, assinado em julho de 1978 pela Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela”, explica o texto da carta enviada ao GAC.
Contexto: um endereço para chamar de seu
É fácil entender os motivos que fizeram o pedido de autorização do gTLD “. amazon” pela Amazon.com não ter o aopoio e simpatia dos governos dos países da região amazônica. Há, nesses países, quem não veja porque a Amazon.com não possa se contentar com o domínio amazon.com, que identifica a empresa desde sempre, e seus domínio derivados, como amazon.com.br. Há quem entenda perfeitamente que os novos modelos de negócio baseados na nuvem justifiquem o pedido do registro “.amazon” para lançamento de novos produtos e serviços.
A questão é delicada.
O mundo online de hoje é definido por 23 domínios de primeiro nível genéricos (gTLDs) diferentes, como .com e .net, e aproximadamente 250 TLDs de código de país (ccTLDs), como .br para o Brasil, .it para Itália ou .de para Alemanha. Mas, na nova economia global, comandada pela Internet, os novos domínios de primeiro nível genéricos (gTLDs) passarão a oferecer para comunidades e marcas a oportunidade de serem reconhecidas na Internet com seus próprios domínios, associados a interesses particulares ou setores de atividade, sem a necessidade dos sufixos “.com” e dos códigos de país (.br), gerando novas oportunidades de negócios online.
De olho nessas novas possibilidades de negócio, empresas e governos de todo o mundo todo estão postulando essas novas terminações envolvendo marcas, nomes geográficos e palavras genéricas. Aqueles que tiverem o seu pedido aprovado, operarão como registradores da sua terminação, definindo as regras de quem pode ter endereços e contas de e-mail nessa raiz. Não atoa, empresas encarregadas da venda de domínios, como a Domania, já estão coletando reservas de registros em baixo do domínio “.amazom”.
Desde que a ICANN abriu a possibilidade de empresas registrarem gTLDs globais, em junho de 2011, recebeu mais de 1.900 solicitações (a lista completa está aqui), incluindo, aqui do Brasil, os pedidos para registros dos domínios “.rio”, “.globo”, “.vivo”, “.ipiranga”, “.itau”, “.bradesco”,.”natura” e .”uol”, entre outros. Nos últimos nove sete meses, a Icann vem analisando esses pedidos e também as respectivas solicitações de impugnação. Algumas empresas e entidades encarregadas de registros, como o Registro.br, tentam registrar endereços genéricos como “.gay”, “.rio”, etc. O Brasil pediu os registros de “.bom”, “.final” e “.ltda. A própria Amazon quer o .book e .store, questionados por outras empresas e países.
A tendência é que as grandes empresas passem a usar domínios com o nome de suas marcas e produtos mais famosos. Isso aumentaria a chance de aparecerem nos mecanismos de buscas. Facilitaria a criação de comunidades de aficionados em torno dessas marcas e produtos. Mais força no marketing e nas vendas.
O processo
O processo de aplicação para o registro de um novo gTLD é extremamente complexo. São centenas de páginas altamente técnicas que devem ser providenciadas junto a uma extensa documentação que será avaliada pela ICANN. Confira abaixo, no esquema reproduzido do site no Nic.br.
Impossível, portanto, precisar quanto tempo a Icann levará para analisar cada objeção a pedidos de domínio, como aconteceu com “.amazon”. E até que critérios utilizará para a tomada de decisão.
Os solicitantes atendidos precisam oferecer uma infraestrutura técnica segura e confiável, bem como demonstrar capacidade a longo prazo de aplicar a política e administrar o domínio. Isso reforça a missão principal da ICANN de manter a estabilidade e a segurança do DNS. Quem ficará responsável pelo domínio “.amazon”, caso ele não seja liberado para uso da Amazon.com, o Lacnic? Seria atribuição do Lacnic, ou não? O que o Lacnic diz a respeito? E como o domínio “.amazon” será efetivamente usado para defesa da biodiversidade da Amazonia o da Bacia Amazônica?
Essas questões se somam a outras, mais objetivas. Que critérios a Icann usará para definir sobre o domínio “.amazon”? O de comunidades? Estaríamos diante de uma questão interesse de determinada comunidade versos interesse de determinada marca? As discussões a respeito andam mobilizando a entidade, e esquentaram de vez na última semana.
IMPORTANTE: Vale ler o documento do link anterior. Alguns membros consideram que uma comunidade como o Tratado Amazônico deva ter prioridade no uso do domínio sobre uma marca comercial, mesmo que essa marca seja a de uma gigante como a Amazon.com. Mas pesa contra o argumento de que o termo “Amazon” não é a palavra usada em espanhol ou em português para designar a região amazônica, ou o rio Amazonas, mas a sua tradução para o inglês.
A Icann decidiu convocar todos os representantes da América Latina reconhecidos pela entidade para se pronunciarem a respeito. Parece que a decisão está próxima.
Com informações de IDGNow!