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Crescer com consistência: o recado de Isabela Matte para marcas que apostam apenas em viralizar

Por: Alice Lopes

Jornalista no E-Commerce Brasil

Jornalista no E-commerce Brasil, graduada pela Universidade Nove de Julho e apaixonada por comunicação.

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Não é incomum que empresas, diante de metas de curto prazo, direcionem esforços para viralizar um vídeo, alcançar números impressionantes nas redes sociais ou buscar uma explosão repentina de vendas. O problema é que isso, sozinho, raramente sustenta um negócio. Para Isabela Matte, educadora, influencer, empreendedora e fundadora da Imatize e Sparkz, o mercado digital ainda sofre de um vício: confundir visibilidade com resultado.

Isabela Matte no "Posso mandar um áudio?", do E-commerce Brasil.
(Imagens: divulgação/Thiago Bruno)

Um bom negócio cresce com consistência, não com saltos aleatórios”, afirma a influenciadora, em entrevista ao quadro Posso Mandar Áudio?, do E-Commerce Brasil. Ela atua diretamente com marcas que querem vender mais por meio do posicionamento digital e observa que a obsessão pela viralização é, muitas vezes, consequência da falta de foco, estratégia e referências sólidas.

A questão, segundo ela, não está apenas nas ferramentas ou nos formatos de conteúdo. Está na mentalidade de quem empreende. “O empreendedor precisa filtrar o que consome. Não dá para seguir conselhos de vinte pessoas diferentes e esperar coerência. Escolha uma ou duas fontes que realmente compartilhem dos seus valores e trilhe seu próprio caminho.”

Crescimento sustentável exige clareza estratégica

O alerta de Isabela se encaixa em um cenário em que, cada vez mais, os resultados não se medem apenas por alcance. Um estudo da Deloitte mostra que marcas com estratégias digitais integradas e orientadas por propósito registram crescimento médio 3 vezes maior em vendas e 2 vezes mais fidelização.

É nesse ponto que o discurso da influenciadora ganha força. Para ela, mais importante do que buscar picos de performance é manter uma lógica de recorrência, margem e escala. “É melhor crescer 5% ao mês com previsibilidade do que tentar dobrar de tamanho e não conseguir atender os clientes que chegaram.”

“Posso mandar aúdio?” com Isabela Matte (Reprodução/Instagram/E-commerce Brasil)

De acordo com a especialista, a pressão por volume, quando mal administrada, compromete a experiência do consumidor. O que, no e-commerce, pode ter efeitos duradouros. Segundo levantamento da PwC, 32% dos consumidores abandonam uma marca após uma única experiência negativa. Ou seja: viralizar sem estrutura pode sair caro.

Quem resolve de verdade, comunica com inteligência

Matte destaca um erro comum entre marcas: acreditar que estão resolvendo uma dor relevante, quando na verdade só geram confusão para o consumidor. Segundo ela, o problema começa internamente. Se a própria empresa não sabe exatamente qual problema resolve, ninguém vai saber.

A solução passa por um processo quase analítico: escrever, listar, destrinchar quais dores a empresa resolve, de que forma e por que isso importa. A partir dessa compreensão, nasce a comunicação que conecta, seja com histórias de clientes, bastidores da operação ou conteúdo visual.

Resolver problemas de forma profunda é o que diferencia. E você precisa ter certeza de que é melhor para o cliente pagar pelo que você entrega do que continuar sem aquilo. Se nem isso está claro, talvez seja hora de repensar o produto.”

Esse raciocínio vai ao encontro de uma das maiores tendências de branding hoje: a criação de valor por meio da autenticidade e da utilidade prática. Marcas que comunicam bem o que fazem e para quem fazem, constroem relacionamentos mais duradouros.

A construção em público e a força da autenticidade

Ao olhar para a própria trajetória, Matte é direta: se tivesse que começar do zero hoje, faria tudo mais “em público”. Compartilhar a jornada, desde os bastidores até os erros, não apenas humaniza, como gera identificação e fortalece a comunidade em torno da marca.

“Não abriria mão de fazer o melhor com o que tenho. Mas hoje mostraria ainda mais os processos, os desafios e os aprendizados. Isso engaja com profundidade”, diz.

Ela ressalta que autenticidade não é ausência de evolução. É, sim, estar alinhado com o que se acredita, mesmo enquanto se aprende. E, talvez mais importante, parar de mirar a régua dos outros. “Eu parei de acompanhar o que os outros fazem. Faço o meu. Isso me dá paz e me faz criar com originalidade.”

Esse tipo de narrativa, de vulnerabilidade real e protagonismo de bastidor, tem se tornado uma das maiores fontes de conversão no ambiente digital, sobretudo entre pequenos e médios negócios. Consumidores querem mais do que produtos: querem se conectar com histórias verdadeiras.

Posicionamento vai muito além da estética

A influenciadora desmonta a ideia de que posicionamento se resume a um feed bonito no Instagram. “Posicionamento é o lugar que você ocupa na mente do cliente em relação à concorrência. Não adianta parecer estratégico se você não for”, afirma.

A diferença, segundo ela, está na percepção. Quando a promessa feita no digital não se confirma na prática, o resultado é a quebra de expectativa, e de confiança. E confiança, reforça, é construída fora das redes, no atendimento, na entrega, na experiência real. “Reputação é o ativo mais valioso de um negócio, e ela se constrói offline.”

Em um mercado no qual imagem e performance disputam protagonismo, o recado é direto: consistência, clareza e verdade ainda são os maiores diferenciais. Isso significa saber exatamente qual problema se resolve, estruturar bem a operação para entregar o que se promete e comunicar tudo isso de forma autêntica. Mais do que buscar viralização, marcas que crescem com solidez entendem que posicionamento começa na estratégia, passa pela experiência real do cliente e só então chega ao conteúdo. Resultado sustentável nasce de propósito bem definido e execução coerente.