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Brasil sofre tarifa inédita dos EUA mesmo com déficit; preços de carne, café e chocolate devem subir no mercado americano

Por: Alice Lopes

Jornalista no E-Commerce Brasil

Jornalista no E-commerce Brasil, graduada pela Universidade Nove de Julho e apaixonada por comunicação.

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O Presidente americano Donald Trump anunciou nesta quarta-feira (9) a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida chamou atenção não apenas pelo impacto econômico, mas também por atrelar questões comerciais a motivações políticas, algo incomum na diplomacia comercial entre os dois países. Ainda mais atípica é a escolha do Brasil como alvo, considerando que o país possui déficit na balança comercial com os Estados Unidos.

Donald Trump
(Imagem: reprodução/Daniel Torok/White House)

Déficit brasileiro e papel estratégico no comércio com os EUA

O Brasil figura entre os 20 maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. Em 2024, importou aproximadamente US$ 44 bilhões em produtos americanos, enquanto exportou cerca de US$ 42 bilhões, conforme dados oficiais dos EUA. Ou seja, diferentemente de outros países frequentemente citados nas disputas comerciais com Washington, o Brasil não mantém superávit.

Entre os sete países listados por Trump nesta nova rodada de tarifas, apenas as Filipinas também aparecem entre os 50 maiores parceiros comerciais dos EUA, com cerca de US$ 14,1 bilhões exportados ao país no último ano. Os demais seis países juntos exportaram menos de US$ 15 bilhões em 2024, sendo que o Iraque, grande fornecedor de petróleo, respondeu por quase metade desse valor.

Impactos no e-commerce: pressão sobre preços e prazos

No ambiente digital, a nova tarifa deve repercutir diretamente em operações de cross-border commerce, especialmente no segmento B2C. Varejistas brasileiros que dependem da importação de produtos dos EUA, como eletrônicos, itens de alto valor agregado e marcas premium, devem enfrentar aumento de custos e possíveis atrasos logísticos.

O efeito imediato tende a ser o encarecimento de categorias específicas no e-commerce nacional, além de maior pressão sobre margens operacionais. Para marketplaces que atuam no modelo de seller internacional, o movimento pode gerar uma revisão de mix de produtos e fornecedores.

Além disso, plataformas com sede nos EUA e operação local, como Amazon e Apple, podem ser forçadas a reajustar estratégias de precificação ou até rever contratos com parceiros logísticos no Brasil. A tarifa amplia o clima de incerteza em um momento de alta competitividade no varejo digital e deve afetar o planejamento de importadores, distribuidores e consumidores.

Carne, café e produtos tropicais estão na mira

Com o rebanho bovino americano no menor nível desde a década de 1950, os frigoríficos dos EUA têm aumentado sua dependência de fornecedores internacionais, especialmente do Brasil. Em 2024, os EUA importaram cerca de US$ 1,4 bilhão em carne bovina brasileira. E os embarques realizados entre janeiro e maio de 2025 já superaram os do mesmo período do ano anterior.

Além da carne, o Brasil supre os Estados Unidos com produtos tropicais como café e cacau, culturas inviáveis em território americano. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, quase US$ 2 bilhões em café brasileiro foram importados em 2024.

Analistas veem risco institucional nas relações bilaterais

Mais do que um entrave comercial, a decisão de Trump acende um sinal de alerta sobre o futuro das relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos. Apesar de já terem sido liderados por presidentes com visões ideológicas distintas, os dois países historicamente mantiveram uma cooperação sólida.

Para Solange Srour, economista-chefe do Brasil no UBS Global Wealth Management, o anúncio reflete uma deterioração institucional entre as nações. “Não se trata apenas de comércio bilateral. Essas tarifas demonstram que nossas relações como um todo estão degradadas e prejudicadas. Uma tarifa de 50% pode, em muitos casos, inviabilizar exportações”, alertou.