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Americanas permanece fora do ar e empresa avalia extensão do ocorrido

Por: Júlia Rondinelli

Editora-chefe da redação do E-Commerce Brasil

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e especialização em arte, literatura e filosofia pela PUC-RS. Atua no mercado digital desde 2018 com produção técnica de conteúdo e fomento à educação profissional do setor. Além do portal, é editora-chefe da revista E-Commerce Brasil.

Os sites dos marketplaces Americanas e Submarino saíram do ar na manhã de sábado, 19, por conta de um ataque sofrido pela empresa na madrugada do mesmo dia. Hoje, segunda-feira, 21, tanto as plataformas quanto os aplicativos seguem sem funcionar.

Em comunicado oficial, a empresa alegou que voltou a suspender parte dos servidores do e-commerce por conta de um acesso não autorizado. Além disso, avalia a extensão do ocorrido para normalizar a segurança o mais rápido possível.

Ainda segundo a Americanas, as lojas físicas não foram afetadas.

Confira o comunicado:

“A Americanas informa que voltou a suspender proativamente parte dos servidores do ambiente de e-commerce na madrugada deste domingo (20/02) e acionou prontamente seus protocolos de resposta assim que identificou acesso não autorizado. A companhia atua com recursos técnicos e especialistas para avaliar a extensão do evento e normalizar com segurança o ambiente de e-commerce o mais rápido possível. A companhia reitera que trabalha com rígidos protocolos para prevenir e mitigar riscos. As lojas físicas não tiveram suas atividades interrompidas e permanecem operando.”

O site Shoptime, que também pertence ao grupo Americanas.com, sofria com instabilidades desde a manhã desta segunda-feira e foi retirado do ar de maneira preventiva.

Impacto para os lojistas

A companhia não informou até a conclusão desta matéria o impacto que a situação teria sobre os vendedores que atuam dentro das plataformas de e-commerce afetadas. A principal preocupação é com relação ao tempo em que as operações de muitos deles ficará inoperante por conta do ataque.

O E-Commerce Brasil ouviu diversos lojistas de e-commerce que atuam na plataforma para entender os impactos da situação sobre as vendas.

Vanessa Ferraz, Head de E-commerce na Emcompre e especialista em marketplace, explicou que a Americanas é hoje o principal canal de vendas da marca e que os impactos serão significativos. “O prejuízo será grande para sellers pequenos e para os grandes, pois quanto maior a venda, maior o tombo”, explica a executiva. 

Ela explica ainda que não tem dimensões se os pedidos feitos na sexta-feira, antes da queda, serão afetados, pois não tem nenhum acesso ao portal para verificar pedidos realizados, dúvidas no chat e possíveis reclamações. “Não temos a dimensão ainda de o quanto isso prejudicará a busca no site, SEO, produtos dentro da plataforma, reclamações não atendidas pela plataforma e também a repercussão disso no Reclame AQUI para a marca”, completa.

Thiago Barcellos, Head E-commerce & Marketplace nas Lojas Mineiras, conta que o cenário para o seller é de insegurança, principalmente pela queda no faturamento, considerando que as vendas do começo do ano já começaram em um ritmo mais lento.

“A Americanas é o nosso segundo maior canal de vendas e não tivemos absolutamente nenhum pedido aprovado desde sábado, quando ocorreu a queda. É de acender o sinal vermelho, afinal de contas os boletos e funcionários não esperam”, conta Barcellos.

O executivo explica que a Americanas hoje corresponde a cerca de 20% do faturamento da empresa e se preocupa com a gravidade da situação pelo tempo em que o site está fora do ar.

Sandro Dias, CEO e Founder da Avant Market, explicou que para a indústria o impacto deste episódio ainda não foi significativo, mas para um dos seus clientes varejistas, que vende pela Americanas, as consequências serão grandes, uma vez que 50% do seu faturamento vem de lá.

“De um modo geral o que observo é que varejistas ainda não tem capital de giro que contemple situações como essa, conta o executivo. A curto prazo vai implicar na busca por crédito externo para suprir a falta que o faturamento. A longo prazo eu acho que a grande mudança vai ser fazer com que os sellers se deem conta do perigo que é depender de um marketplace apenas ou concentrar um alto percentual de suas vendas em apenas um”.

Segundo Dias, mesmo sem um impacto direto sobre a indústria, existe preocupação pela repercussão que a queda pode ter nas empresas B2B, que vendem para varejistas que estão na plataforma.

Conselhos para os sellers

É consenso entre os especialistas ouvidos que o principal conselho que se pode dar aos lojistas é investir na diversificação dos canais.

“Acho que é um conselho que eu dou a mim mesma: aquele velho ditado de não deixar os seus ovos em uma cesta só e sempre se preocupar em diversificar e cuidar de todos os canais”, aconselha Ferraz. “Precisamos aproveitar que no Brasil temos vários canais e marketplaces bem posicionados, bem como o sortimento dos produtos. Pois se a venda não vier por um, pode ser realizada por outros meios”.

“Manter a calma e pensar no que pode fazer para manter a organização e garantir o capital de giro que seu fluxo de caixa necessita. Agindo desta maneira, as hipóteses de se tornar refém financeiro de apenas um canal diminui e situações como essas ficam um pouco menores, mas, no fundo no fundo, a realidade é que ninguém espera uma Americanas fora do ar já há três dias”, completa Barcellos.

Dias conta que como consultor tem visto muitos lojistas investirem boa parte de seus esforços em um único marketplace e que isso não é saudável a longo prazo. “Os markeplaces são uma ferramenta importante, porém é fundamental não depender de apenas um ou dois. Não é saudável manter seu faturamento concentrado em apenas um canal. Invista no site próprio, em social mídia e em CRM”, ele explica. “Hoje foi um ataque hacker, amanhã pode ser uma mudança política do MP que pode fazer com que sua categoria deixe de ser alvo, ou outra coisa qualquer”.

Outros ataques

O caso da Americanas não é isolado, mas sim parte de uma série de ataques sofridos por sites e e-commerces nos últimos meses. Empresas como as Lojas Renner, JBS, CVC e Porto Seguro também sofreram ataques semelhantes em 2021.

Em outubro do ano passado, o Facebook ficou fora do ar por seis horas, por conta de uma falha no DNS, levando consigo o Instagram e o WhatsApp. Estima-se que o prejuízo tenha sido de US$ 80 milhões (cerca de R$ 435 milhões, na cotação do dia), somente em publicidade.

Por Júlia Rondinelli, da redação do E-Commerce Brasil.