Estamos vivenciando um momento histórico: a chegada da inteligência artificial generativa ao mercado de trabalho traz não apenas automação, mas uma possibilidade autêntica de transformação – abre-se espaço para que profissionais deem foco ao que é humano, criativo e estratégico.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 25% dos empregos globais estão expostos à IA generativa, com risco de automação mais alto em países de alta renda, chegando a 34%. Essa exposição é especialmente relevante em funções administrativas e operacionais – setores com significativa participação feminina -, podendo agravar desigualdades se não houver políticas inclusivas. No Brasil, estima-se que 37 milhões de trabalhadores estejam em funções com influência da IA, e apenas uma parcela tem acesso às ferramentas digitais necessárias para aproveitar tais transformações.
Impacto global e geração de novas vagas
Por outro lado, o Relatório sobre o Futuro do Trabalho 2025, do Fórum Econômico Mundial, prevê que a IA gerará 170 milhões de empregos até 2027, mesmo que elimine 92 milhões – um saldo positivo claro que demanda preparo e investimento em novas competências. Ou seja: a tecnologia cria mais do que destrói, desde que seu uso seja intencional e ético.
O Brasil tem potencial: a área de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) projeta gerar até 147 mil novos empregos formais em 2025, mas o número de formados por ano (em torno de 46 mil) apresenta um déficit estrutural que exige cuidado. Somente entre 2021 e 2025, a demanda por profissionais qualificados pode chegar a 797 mil, com um déficit acumulado de 530 mil talentos.
Democratizar acesso e investir nas novas competências
Por isso, vejo a IA generativa não como ameaça, mas como catalisadora de mudança – uma mudança que só será benéfica se for bem conduzida. O efeito real da IA depende das escolhas que fazemos agora: democratizar o acesso às tecnologias, investir em requalificação contínua, diversificar oportunidades e, claro, promover inclusão de gênero e origem socioeconômica.
As novas competências mais valorizadas não estão ligadas apenas ao uso da tecnologia, mas à criatividade, ao pensamento crítico, à alfabetização digital e à capacidade de reunir informação, raciocínio e empatia. Em vez de competir com a IA, vamos aprender a operar com ela, fortalecendo nossos valores mais autênticos.
A verdade é clara: a IA generativa pode elevar a produtividade global em cerca de 3,5% do PIB até 2030, conforme projeções da IDC – um impacto econômico gigantesco, equivalente a 17,9 trilhões de euros. Mas, para que esse impacto seja distribuído e sustentável, precisamos de políticas proativas e empresas comprometidas com uma transição justa.
O futuro do trabalho será construído com inteligência artificial e com pessoas. A pergunta que deixo aqui é simples: queremos um futuro para alguns ou um futuro para todos?