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Stablecoin como forma de pagamento no e-commerce

Por: Marcelo Bentivoglio

É cofundador e CFO da QI Tech. Líder empresarial inovador, possui ampla experiência multifuncional em diversos setores, incluindo startups, empresas de médio porte e um renomado banco global. Iniciou sua carreira no Goldman Sachs e, em 2014, fundou a Banfox (posteriormente adquirida), uma das pioneiras no financiamento de faturas para PMEs no Brasil. Após a Banfox, cofundou a QI Tech, a primeira SCD (Sociedade de Crédito Direto) aprovada pelo Banco Central do Brasil. Hoje, a QI Tech atende mais de 1.000 grandes clientes com tecnologia de ponta, transaciona bilhões e emite mensalmente mais de 4 bilhões de reais em novos empréstimos.

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No Brasil, quando falamos de meios de pagamento digitais, o Pix virou sinônimo de simplicidade, o cartão de crédito ainda domina muitas transações e as carteiras digitais avançam em nichos específicos. Mas existe um protagonista em potencial que permanece à margem dessa discussão: as stablecoins.

Imagem com Pix, cartão de crédito e stablecoin como meios de pagamento.
Imagem gerada por IA.

Embora concentrem a maior parte das transações globais com criptoativos, ainda são um recurso pouco explorado no e-commerce, sobretudo quando comparadas à velocidade com que o Pix se consolidou.

O que trava a adoção das stablecoins

Mas o que falta para que esse mercado decole? O primeiro ponto é reduzir a fricção para os lojistas. Hoje, integrar stablecoins como meio de pagamento ainda exige soluções paralelas, conhecimento técnico e um apetite regulatório que poucos varejistas têm. Se plataformas e gateways incorporarem de forma nativa essa opção, o caminho começa a se abrir. Outro aspecto é o regulatório. Sem clareza sobre tributação e compliance, dificilmente veremos massa crítica.

O exemplo do Pix mostra como a confiança nasce quando o ecossistema enxerga segurança jurídica. Há também um espaço óbvio para operações internacionais. O lojista que importa ou exporta poderia ganhar muito ao liquidar vendas diretamente em dólar digital, evitando custos cambiais e burocracias que hoje travam margens.

Stablecoins como complemento ao Pix

A pergunta inevitável é: quais são os atributos das stablecoins que justificariam seu espaço na prateleira de opções de pagamento? Diferentemente de outras criptomoedas, elas não carregam o peso da volatilidade. A liquidação é rápida e funciona globalmente, sem depender de sistemas locais. E, em determinados fluxos, especialmente cross-border, o custo é menor do que aquele enfrentado em bancos tradicionais. Se o Pix democratizou as transferências instantâneas no mercado doméstico, a stablecoin pode ser vista como um Pix internacional, pronto para conectar compradores e vendedores em diferentes geografias.

Isso não significa que o stablecoin vá competir de igual para igual com o Pix.

O apelo do Pix está em sua simplicidade e na onipresença. A stablecoin joga outro jogo. Pode oferecer ao consumidor a possibilidade de pagar em diferentes moedas estáveis, sem depender de bancos correspondentes. Pode criar uma experiência de compra que começa no Brasil e termina em outro país, sem que o cliente precise pensar em câmbio, tarifas ou burocracias. Nesse sentido, o stablecoin complementa o Pix, em vez de rivalizar.

Exemplos práticos no mercado global e latino-americano

Nos Estados Unidos, a Shopify anunciou em parceria com a Coinbase e a Stripe a possibilidade de lojistas aceitarem pagamentos em USDC, uma stablecoin lastreada em dólar, diretamente em seus checkouts. Na América Latina, o Mercado Pago lançou no Brasil a stablecoin Meli Dólar, também atrelada ao dólar americano, com o objetivo de oferecer uma alternativa de proteção frente à volatilidade cambial. Já processadoras globais como a Visa expandiram seu suporte para liquidação com stablecoins, incluindo USDC e até a PYUSD do PayPal, em redes como Ethereum, Solana, Stellar e Avalanche, sinalizando que a infraestrutura de pagamentos tradicional começa a absorver esse novo modelo.

No fim das contas, a tecnologia não é a barreira. As stablecoins podem inaugurar a expansão dos limites da digitalização de pagamentos e levar o varejo brasileiro a operar com a mesma naturalidade dentro e fora de suas fronteiras.