Logo E-Commerce Brasil

Primeiros 90 dias de caixa: por que o retorno rápido nem sempre é o melhor sinal

Por: Lucas Mello

Diretor de Aquisição na Loja Integrada

Lucas Mello é especialista em marketing digital e growth, atuando como Diretor de Aquisição da Loja Integrada. Com um histórico sólido em estratégias de aquisição e retenção de clientes, ele é entusiasta do crescimento sustentável de negócios online.

Ver página do autor

Nos primeiros meses de operação de um e-commerce, é comum acreditar que o sucesso está em recuperar o investimento o quanto antes. Mas, na prática, os 90 primeiros dias servem para entender o ritmo do negócio, testar preços, ajustar processos e descobrir o que funciona.

Mulher em ateliê segurando peças de couro e carteiras artesanais.
Imagem: Reprodução.

É nessa fase que se constroem as bases da operação: como controlar o dinheiro que entra e sai, gerenciar o estoque, definir preços e começar a investir em divulgação; tudo o que vai garantir que o negócio consiga se manter e crescer de forma saudável.

O cenário do e-commerce brasileiro até 2026

O comércio eletrônico brasileiro segue em expansão. Segundo projeções da ABComm, o setor deve alcançar R$ 234,9 bilhões em faturamento em 2025, consolidando o Brasil entre os maiores mercados digitais do mundo.

Esse crescimento mostra oportunidade, mas também concorrência. Por isso, o desafio de quem está começando é equilibrar expectativa e preparo: crescer, mas com controle.

Por que os primeiros 90 dias não devem ser uma corrida por lucro

Nos primeiros meses, o foco não deve ser “lucrar rápido”, e sim entender o comportamento das vendas e organizar o básico: caixa, estoque e precificação.

Consolidação da base financeira

Antes de pensar em lucro, é importante saber quanto custa manter a loja funcionando, desde o domínio até o frete. O objetivo é simples: fazer o dinheiro render até o próximo mês.

Crie um controle, mesmo que em planilha, para anotar o que entra e o que sai. Isso ajuda a visualizar se o negócio está de pé e quanto tempo o caixa aguenta.

Buscar retorno rápido pode enganar: as vendas podem até crescer, mas se o dinheiro demora para cair na conta ou é todo reinvestido sem controle, o caixa aperta rapidamente.

Controle de estoque e precificação

Com estoque, vale a regra do equilíbrio. Comprar demais para “se antecipar” pode deixar o dinheiro parado, e comprar de menos faz perder venda.

Na precificação, evite definir o valor apenas olhando a concorrência. Inclua no preço todos os custos do produto: compra, embalagem, frete e taxas da plataforma. Assim, dá para saber se a venda realmente está dando lucro.

O mito do crescimento acelerado

Crescer rápido demais pode parecer bom, mas costuma custar caro. Quando o investimento em anúncios é maior do que o retorno, por exemplo, a conta não fecha.

O ideal é crescer de forma constante, acompanhando o que o caixa permite. Estudos de mercado apontam que muitos e-commerces que tentam escalar logo no início acabam ficando sem capital de giro porque não conseguem equilibrar os prazos de pagamento e recebimento.

Estratégias para um caixa sustentável até 2026

Ter um caixa saudável não exige muito dinheiro, mas disciplina e visão de curto prazo. O segredo é organizar o que é possível hoje e preparar o terreno para crescer amanhã.

Planejamento financeiro

Monte um controle simples de entradas e saídas, e tente planejar o próximo mês com base nas vendas que já tem. À medida que o negócio amadurece, esse controle pode evoluir para previsões mais longas, mas o essencial é não deixar o caixa virar um mistério.

Margem e estoque como sinais de saúde

Monitore quanto sobra de cada venda depois de pagar todos os custos. Se sobrar pouco, talvez o preço esteja baixo demais, ou o frete e as taxas estejam pesando.

Mantenha um estoque que você consiga repor com facilidade, sem comprometer o dinheiro necessário para rodar o negócio.

Sustentabilidade e reservas

Se sobrar algum valor no fim do mês, guarde uma parte para emergências, mesmo que pequena. Essa reserva ajuda em períodos de queda nas vendas, atrasos de entrega ou aumento nos custos de insumo.

Principais riscos de buscar retorno rápido

Buscar retorno imediato pode parecer o caminho mais seguro, mas é justamente o que faz muitos negócios fecharem cedo.

Um dos principais riscos é a falsa sensação de sucesso. Campanhas com muito desconto ou anúncios impulsionados podem aumentar as vendas rapidamente, mas deixam pouca margem. Quando o investimento em divulgação é maior que o lucro, o caixa some em pouco tempo.

Outro erro comum é o estoque mal planejado. Comprar em excesso para aproveitar descontos ou vender tudo muito barato gera pouco retorno e trava o dinheiro que poderia ser usado para o dia a dia.

Também há o risco da falta de reserva. Reinvestir tudo de uma vez, sem guardar nada, deixa o negócio vulnerável a imprevistos, como um atraso no pagamento ou um aumento repentino de frete.

Por fim, há o desalinhamento de foco. Quando o objetivo é “faturar rápido”, o empreendedor deixa de construir relacionamento com o cliente e de pensar no longo prazo. O crescimento saudável é aquele que dá lucro e cria base para o mês seguinte, não apenas o que gera pico de vendas.

Em resumo, o retorno rápido só é positivo quando vem acompanhado de controle, margem e planejamento, não quando acontece por sorte ou desespero.

O foco inicial deve ser estruturação

Os primeiros 90 dias de um e-commerce são o momento de aprender, testar e ajustar. Não é sobre ter lucro imediato, e sim entender o ritmo do negócio e construir um caminho para que ele dure.

O verdadeiro sinal de sucesso é ver o negócio funcionando de forma previsível e saudável, mês após mês, com cada passo dado de forma consciente e sustentável.