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Pix Automático chegando: como o e-commerce deve se preparar

Por: Betina Wecker

Co-fundadora e VP de Novos Negócios da Appmax

VP de Novos Negócios na Appmax, startup de pagamentos online com foco no aumento de faturamento de e-commerces e negócios digitais. Formada em administração pela Unisinos, atua na área de e-commerce e meios de pagamentos digitais desde 2015.

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Quando o Banco Central anunciou o Pix, em 2020, o sistema rapidamente transformou a forma como os brasileiros lidam com o dinheiro. Hoje, mais de 160 milhões de pessoas já utilizaram o Pix pelo menos uma vez, segundo o próprio BC. Mas a próxima evolução já tem data: o Pix Automático, previsto para ser lançado este mês, promete inaugurar uma nova fase no ecossistema de pagamentos e os e-commerces precisam se preparar.

Pessoa autorizando um pagamento recorrente via Pix Automático em um smartphone, com notebook ao fundo sobre mesa de madeira.
Imagem gerada por IA.

Como especialista em pagamentos digitais e cofundadora de uma empresa que acompanha de perto a evolução desse mercado, vejo no Pix Automático não apenas uma inovação tecnológica, mas uma mudança de comportamento de consumo e de modelo de negócios.

Mais que um método de pagamento: uma nova lógica de relacionamento com o cliente

O Pix Automático permitirá autorizar débitos futuros com agilidade e segurança diretamente via Pix, sem intermediação bancária tradicional. Na prática, será possível o cliente autorizar um fornecedor ou serviço a debitar periodicamente um valor da sua conta – uma solução ideal para quem trabalha com vendas recorrentes, como clubes de assinatura, cursos e mensalidades.

Para os negócios digitais, isso representa uma disrupção no modelo de cobrança de assinaturas, memberships, SaaS e outras recorrências. Hoje, a dependência do cartão de crédito limita o alcance desse modelo, seja pela barreira do limite de crédito, seja pelo número de pessoas desbancarizadas ou com restrições ao crédito.

O Pix Automático expande o mercado potencial, simplifica o checkout e elimina a fricção de renovação ou atualização de cartões vencidos. Segundo estudo da IDtech Ebanx, 36% dos consumidores brasileiros já manifestaram interesse em aderir a assinaturas via Pix, número que tende a crescer conforme a funcionalidade se popularize.

Diante desse cenário, diversas plataformas e provedores de tecnologia já estão se preparando para lançar a funcionalidade assim que o Banco Central fizer a liberação oficial – e nós estamos nos preparando para isso também. Esse movimento reflete a urgência de adaptar a infraestrutura dos e-commerces a essa nova modalidade.

Por que essa mudança importa?

Estar entre os primeiros a implementar o Pix Automático pode representar uma vantagem competitiva relevante, mas não automática. A adoção dessa modalidade envolve desafios tecnológicos, regulatórios e operacionais.

A liquidação imediata, que é uma das grandes promessas do Pix, impacta o fluxo de caixa e reduz intermediários, mas também transfere maior responsabilidade para o próprio negócio na gestão de inadimplência e cancelamentos. Se no cartão o estorno é gerenciado pela bandeira, no Pix as políticas e os processos precisarão ser definidos internamente.

Além disso, o Pix Automático ainda é uma aposta: embora as projeções sejam otimistas, o comportamento do consumidor brasileiro pode demorar a migrar parte relevante das transações recorrentes para o Pix, dada a cultura de uso do cartão por benefícios como pontos, cashback e seguros associados.

O que os líderes de e-commerce precisam considerar agora?

Para os donos e executivos de e-commerce, o Pix Automático exige uma abordagem estratégica, que vai além da integração técnica. Algumas perguntas-chave que recomendo colocar na mesa:

1. Como o Pix Automático se encaixa na jornada de pagamento atual? Há espaço para oferecer como método principal ou secundário?
2. Quais são os riscos regulatórios, operacionais e de experiência do cliente que precisam ser mapeados? Como vamos lidar com disputas, erros de cobrança ou solicitações de cancelamento?
3. O parceiro de tecnologia atual já está preparado para suportar essa integração?
4. Como comunicar essa mudança ao consumidor? O cliente precisa ser educado para entender e confiar no novo modelo?

Além dessas questões, os negócios digitais devem considerar o impacto do Pix Automático em seu modelo de recorrência, churn, controle de cancelamentos e até na precificação. Se o Pix Automático elimina intermediários e taxas bancárias, há espaço para repassar parte dessa economia ao consumidor como diferencial competitivo?

Entre otimismo e realismo: o caminho da liderança estratégica

Sou otimista com o Pix Automático, mas com o cuidado que a experiência me trouxe: nenhuma tecnologia, por si só, resolve os desafios de crescimento e sustentabilidade de um negócio digital. Ela amplia possibilidades, mas o diferencial continua sendo como a liderança do negócio traduz essas possibilidades em estratégias executáveis.

Nos próximos meses, veremos um movimento acelerado de plataformas, gateways e soluções de pagamento para viabilizar o Pix Automático. Mas a escolha de adotar (ou não) essa tecnologia deve ser uma decisão baseada em dados, alinhada ao perfil do público-alvo, e acompanhada de um olhar atento aos riscos e às oportunidades.