No cenário do varejo esportivo brasileiro, duas marcas protagonizaram uma disputa emblemática ao longo dos anos: Netshoes e Centauro. Enquanto a primeira apostou exclusivamente no e-commerce e na revenda de produtos de terceiros, a segunda investiu em um modelo omnichannel e no desenvolvimento de marcas próprias. Essa diferença estratégica foi determinante para os resultados de longo prazo de ambas as companhias, e os números falam por si.

A estratégia da Netshoes: um caminho 100% digital
Fundada em 2000, a Netshoes foi uma das pioneiras do e-commerce esportivo no Brasil. Rapidamente se consolidou como um dos principais players do mercado, oferecendo um vasto catálogo de produtos de diversas marcas. No entanto, a ausência de lojas físicas e a dependência exclusiva do modelo de revenda limitaram sua rentabilidade e competitividade.
O ápice da Netshoes veio em 2017, quando realizou seu IPO na bolsa de Nova York (NYSE), alcançando um valuation de aproximadamente US$ 560 milhões. Porém, a empresa enfrentou desafios operacionais e financeiros, registrando seguidos prejuízos. Isso culminou em sua venda para o Magazine Luiza em 2019 por apenas US$ 115 milhões, um valor significativamente menor que seu pico de mercado.
O modelo omnichannel e as marcas próprias da Centauro
A Centauro, pertencente ao Grupo SBF, seguiu um caminho diferente. Fundada em 1981, a empresa combinou a presença física de lojas com a venda online, criando uma experiência de compra integrada. Além disso, investiu fortemente em marcas próprias, garantindo maior controle sobre margens e diferenciação no mercado.
Em 2019, a Centauro realizou seu IPO na B3, levantando cerca de R$ 772 milhões. Seu valuation à época girava em torno de R$ 4 bilhões, muito superior ao valor pelo qual a Netshoes foi adquirida no mesmo ano. Desde então, a empresa seguiu uma trajetória de crescimento, adquirindo a operação da Nike no Brasil em 2020 e consolidando-se como a principal varejista esportiva do país.
O retorno da Netshoes ao varejo físico: uma mudança de rota?
Após 18 anos operando exclusivamente no digital, a Netshoes surpreendeu o mercado ao anunciar a abertura de sua primeira loja física, um outlet de dois mil metros quadrados em São Paulo. Essa iniciativa pode representar uma tentativa de reposicionar a marca e aumentar sua competitividade em um cenário no qual a integração de canais se tornou essencial.
Essa mudança de estratégia reforça um aprendizado crucial do varejo moderno: a experiência do consumidor não está restrita a um único canal. Empresas que conseguem integrar o digital e o físico, ao mesmo tempo em que fortalecem sua oferta de produtos próprios, tendem a ter maior resiliência e sucesso no longo prazo.
Conclusão: quem venceu a disputa?
A história da Netshoes e da Centauro demonstra como a escolha do modelo de negócios pode impactar diretamente a sustentabilidade e o crescimento de uma empresa. Enquanto a Netshoes brilhou no início como pioneira do e-commerce esportivo, sua falta de diversificação e rentabilidade a levaram a um desfecho menos favorável. Já a Centauro, ao adotar uma abordagem omnichannel e investir em marcas próprias, consolidou-se como líder do setor.
O retorno da Netshoes ao varejo físico pode ser um sinal de reviravolta? Só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: no varejo, a capacidade de adaptação e inovação continua sendo o grande diferencial competitivo.