O varejo vive um paradoxo: nunca houve tanto acesso a dados sobre o consumidor, mas poucas empresas conseguem usá-los de maneira realmente eficaz. O CRM, por anos visto como a solução definitiva para gestão de clientes, é insuficiente em um mundo onde a interação entre marcas e consumidores é omnichannel, fluida e, acima de tudo, imprevisível.

Criado para organizar informações sobre clientes já conquistados, o CRM é eficiente para estruturar dados transacionais e disparar campanhas segmentadas. No entanto, sua limitação fica evidente quando olhamos para a complexidade do comportamento do consumidor moderno. Ele transita entre canais online e offline, interage nas redes sociais, pesquisa produtos no Google, assiste a lives de influenciadores e espera uma comunicação coerente, independentemente do ponto de contato. O CRM, sozinho, não tem capacidade para conectar todas essas interações e extrair insights acionáveis em tempo real.
A evolução para a customer data platform (CDP)
É aqui que entra a Customer Data Platform (CDP). Diferentemente do CRM, que organiza informações estruturadas, a CDP centraliza dados de múltiplas fontes e cria uma visão unificada do consumidor. Isso significa que interações via WhatsApp, redes sociais, site e loja física são conectadas em um único perfil, permitindo uma análise muito mais precisa do comportamento do cliente.
E os números mostram o impacto dessa mudança. Um estudo da Twilio Segment revelou que 89% das empresas que implementaram uma CDP viram melhoria significativa na personalização das campanhas e no engajamento dos clientes.
Mas uma CDP, por si só, também não resolve todos os desafios. O diferencial competitivo vem da combinação com inteligência comportamental, que transforma dados brutos em previsões precisas sobre as próximas ações dos consumidores. A análise de padrões de comportamento permite que as marcas antecipem desejos e necessidades, oferecendo produtos e experiências personalizadas no momento certo.
Personalização e fidelização como diferenciais estratégicos
A Amazon é um exemplo emblemático desse modelo. Combinando dados transacionais, navegação e histórico de compras, a empresa consegue prever quais produtos serão do interesse de um cliente antes mesmo que ele faça uma busca ativa. Essa estratégia gerou um aumento expressivo na taxa de conversão e na retenção de clientes. No Brasil, varejistas que apostam nessa abordagem também colhem resultados expressivos. Redes como Magalu e Renner têm investido pesado em CDPs e inteligência artificial para otimizar ofertas e recomendar produtos com base no histórico de navegação e nas interações com a marca. O resultado é um crescimento consistente em engajamento e faturamento.
A estratégia de personalização também impacta diretamente a fidelização. De acordo com a Bain & Company, um aumento de apenas 5% na retenção de clientes pode gerar um incremento de até 95% nos lucros da empresa. Isso acontece porque clientes recorrentes tendem a gastar mais, interagir mais e ter um ciclo de vida mais longo com a marca.
Para os decisores do varejo, o recado é claro: continuar apostando apenas no CRM significa abrir mão de oportunidades valiosas. Empresas que querem crescer de forma sustentável precisam de uma abordagem mais sofisticada, que una tecnologia e inteligência de dados para criar experiências realmente conectadas. O futuro não está apenas na coleta de informações, mas na capacidade de transformá-las em insights acionáveis. Quem entender isso primeiro terá uma vantagem competitiva inestimável.