Muitos lojistas que começam a importar para vender no e-commerce têm o foco total no produto e no fornecedor. Pesquisam tendências, escolhem modelos, negociam preços e definem prazos, mas acabam deixando de lado um aspecto fundamental: as regras e exigências legais que envolvem a importação. Ignorar essa parte do processo pode resultar em atrasos, multas, apreensões de mercadoria e, em casos mais graves, na inviabilidade completa do negócio. Conhecer e seguir essas regras não é opcional. É o que garante que a operação seja sustentável e lucrativa no longo prazo.

Certificações e autorizações obrigatórias
Cada tipo de produto pode ter exigências específicas para ser importado e vendido no Brasil. Um erro comum é acreditar que basta pagar os impostos para liberar a carga. Na prática, muitos produtos só podem entrar no país se tiverem certificações emitidas por órgãos reguladores.
Brinquedos, eletrodomésticos e equipamentos elétricos, por exemplo, precisam de certificação do INMETRO, que garante a segurança e a conformidade técnica do produto. Cosméticos, suplementos alimentares e produtos de higiene pessoal exigem registro ou notificação junto à ANVISA, que avalia a composição, rotulagem e segurança do item. Já produtos de origem animal ou vegetal, como alimentos e insumos, passam pela fiscalização do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Ignorar essas exigências pode fazer com que a carga fique retida na alfândega por tempo indeterminado. Em alguns casos, a mercadoria pode ser devolvida ao país de origem ou até destruída, gerando um prejuízo irreversível.
Classificação fiscal correta
Outro ponto crítico é a classificação fiscal do produto, definida pelo código NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul). Esse código não apenas determina a alíquota de impostos a ser paga, como também define se há necessidade de licenças específicas e quais são as exigências para importação.
Um erro no NCM pode levar à cobrança retroativa de impostos, multas e, em alguns casos, a processos administrativos. Além disso, a classificação incorreta pode causar atrasos na liberação da carga, já que a Receita Federal e os órgãos anuentes podem exigir correção e reenvio da documentação.
Para evitar problemas, é recomendável trabalhar com um despachante aduaneiro ou consultor especializado, que possa confirmar o enquadramento fiscal correto antes de fechar a compra.
Documentação e organização
A burocracia na importação pode assustar, mas é indispensável manter todos os documentos em ordem. Isso inclui nota fiscal, fatura comercial (invoice), packing list, certificados de origem, licenças de importação e, quando aplicável, laudos técnicos.
Erros simples, como divergência entre as informações da invoice e do packing list, podem atrasar o desembaraço aduaneiro. Também é importante que os documentos sejam enviados no momento certo e no formato exigido.
Um processo organizado não apenas agiliza a liberação da carga, mas também evita custos adicionais, como armazenagem prolongada em portos e aeroportos. Ter uma rotina de conferência de documentos antes do embarque é uma prática que reduz riscos e melhora a previsibilidade da operação.
Gestão de riscos na importação
Seguir as regras e manter a documentação em dia é fundamental, mas também é preciso adotar uma gestão ativa dos riscos envolvidos na importação. Isso inclui avaliar a confiabilidade do fornecedor, inspecionar a qualidade dos produtos antes do embarque, contratar seguros de transporte e acompanhar de perto o status da carga.
Por exemplo, um lote de eletrônicos que chega com defeito ou fora das especificações pode gerar prejuízos não apenas pelo valor do produto, mas também pela perda de vendas e pelo impacto na reputação da loja. Ter cláusulas contratuais que prevejam reposição ou reembolso nesses casos é uma forma de proteção.
Também é importante considerar os riscos cambiais. Como a importação geralmente envolve pagamento em moeda estrangeira, variações no câmbio podem alterar significativamente o custo final do produto. Negociar prazos de pagamento, utilizar contratos de câmbio travados ou trabalhar com fornecedores que aceitem pagamento em reais são estratégias para minimizar esse impacto.
Importação como vantagem competitiva
Cumprir todas as regras e mitigar riscos pode parecer burocrático e trabalhoso, mas, na prática, é isso que separa operações amadoras de e-commerces sólidos e escaláveis. Um processo de importação bem estruturado garante previsibilidade de prazos, estabilidade nos custos e segurança jurídica.
Quando o lojista domina essas etapas, a importação deixa de ser uma fonte de incertezas e se torna um diferencial competitivo. Com isso, é possível investir em produtos exclusivos, aumentar margens e fortalecer a marca, sem correr riscos desnecessários.
Em um mercado onde a confiança do consumidor é decisiva para a compra, cumprir as regras e ter um processo de importação seguro não é apenas uma exigência legal, mas uma estratégia para crescer e se manter competitivo.