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Entrevista com Daniel Rabinovich, Chief Technology Officer (CTO) do MercadoLivre

Por: Redação E-Commerce Brasil

Equipe de jornalismo E-Commerce Brasil

Há 11 anos no mercado, o MercadoLivre é, hoje, líder em comércio eletrônico na América Latina, atuando em 13 países. Em 2010 foram comercializados na plataforma 39,2 milhões de produtos, o que representou um volume de US$ 3,4 bilhões. A média de buscas no site atualmente é de 600 buscas por segundo.

Um dos responsáveis pela história de sucesso da empresa, especificamente na parte tecnológica, é Daniel Rabinovich, que começou no MercadoLivre em 2000, cinco meses depois de Marcos Galperin fundar a empresa em Buenos Aires, na Argentina.

Rabinovich é graduado em Sistemas de Informação pela Universidade de Buenos Aires e Mestre em Gestão de Serviços de Tecnologia e Telecomunicações pela Universidade de San Adrés. Quando começou na companhia, como programador, tinha 21 anos. Ele foi um dos criadores da primeira versão em tecnologia Java “in-house” do MercadoLivre.  Logo se tornou arquiteto, assumiu a posição de líder de projetos, gerente, diretor, vice-presidente e agora é o novo Chief Technology Officer (CTO) da empresa.

Nessa entrevista exclusiva para a revista e-Commerce Brasil, ele conta a história do MercadoLivre pelo foco da tecnologia, dos primeiros códigos aos novos desafios.

Como foi o começo tecnológico do MercadoLivre?

Quando o MercadoLivre começou, há quase 12 anos, as primeiras páginas do site haviam sido geradas dentro da base de dados em  PL/SQL, usando Oracle OAS. A programação era muito orientada a SQL e, embora apresentasse bom desempenho, não permitia escalabilidade. Eram tempos vertiginosos e era preciso lançar funcionalidades todos os dias. A partir do ano 2000, o MercadoLivre começou a desenvolver toda a plataforma internamente. Hoje continua utilizando Oracle e experimenta as bases de dados NoSQL.

Quais foram as principais mudanças da plataforma nesses 12 anos?

Há alguns marcos importantes na história tecnológica do MercadoLivre. O primeiro seria a migração de um enlatado (OpenSite) para um sistema próprio. Depois, houve a migração de uma base de dados para um Cluster. Tivemos então o desafio de absorver as empresas adquiridas, como iBazar, Lokau e Arremate. O lançamento do MercadoPago, nossa plataforma de pagamentos online, é uma nova etapa. Agora, estamos diante de outro momento histórico da empresa, que é a abertura da plataforma.

Quais os esforços e sucessos da tecnologia em toda sua história?

Creio que as principais conquistas são haver criado um Search Engine especialmente desenhado para a plataforma de compra e venda, o desenvolvimento da infra-estrutura para o MercadoPago e, mais recentemente, a virtualização de todo o nosso Datacenter.

Recentemente você disse que a velocidade é uma obsessão da empresa. O que vocês fazem para ter este ritmo e manter a competitividade no mercado?

Do ponto de vista do nosso negócio, a prioridade é trabalhar para manter o site simples, em vez de atuar na obtenção de receitas financeiras de curto prazo, como uso de anúncios e banners que geram conteúdo “pesado” e irrelevante.

Neste sentido, realizamos fortes mudanças na estrutura e na navegação do site para eliminar o que se chama de “ciclo vicioso” da contaminação visual. Há alguns anos, nossa página principal era repleta de banners promocionais, publicidade de grandes empresas e de varejistas reconhecidos, que obviamente geravam receita para nossa companhia. No entanto, com o objetivo de oferecer uma melhor experiência a nossos usuários, por meio de um site com melhor navegação e rapidez, transformamos a estrutura geral da página e fomos gradualmente eliminando os banners e transformando-os no formato de publicidade de textos com links, que não afetam o tempo para carregar e navegar pelos conteúdos.

Nossa prioridade é a velocidade, fundamental para um site de comércio eletrônico. Atualmente, nosso tempo para carregar uma página é de 9.93 segundos, notadamente bem inferior aos anos anteriores. Foi uma decisão de negócios que impactou na plataforma de uma forma muito positiva para o usuário.

No nível técnico, é necessário minimizar a quantidade de solicitações de HTTP, compressão de resultados, utilizar CDNs para conteúdos estáticos e trabalhar os objetos de DOM para que a página já comece a surgir na tela antes mesmo de carregar completamente, para otimizar a sensação de velocidade.

Em 2010 você comentou no Brasil sobre a possibilidade do MercadoLivre abrir sua plataforma naquele mesmo ano. Por que isto ainda não foi feito?

Para a abertura da plataforma, existe uma progressão clássica que se desenvolve em três passos. Primeiro, realiza-se o que chamamos de “First Party Apps”, que significa que a companhia reescreve seu código para suas aplicações. O segundo passo é a busca de parceiros e o terceiro passo é “Open Ecosystem”.

Nós já completamos a primeira etapa e atingimos o segundo passo.  Estamos buscando parceiros que queiram desenvolver aplicações e funcionalidades sobre a plataforma MercadoLivre. Vamos aguardar um pouco mais para abrir a desenvolvedores anônimos.

Como vai ser o processo da API?

Quando estivermos suficientemente confortáveis com nossos parceiros de negócios, abriremos a plataforma aos desenvolvedores em geral, que poderão usar o “self service”.

Quais são as expectativas sobre a API?

Esperamos que as APIs nos permitam executar e inovar muito mais rapidamente e complementem nosso ecossistema com aplicações nas quais tanto os desenvolvedores externos quanto nós poderemos ganhar juntos. Acredito que, assim como milhares de empresas vivem por meio de seus negócios no MercadoLivre, em um futuro próximo haverá muitos desenvolvedores de aplicativos que irão montar seus negócios sobre o nosso.

Em seu ponto de vista, qual a tendência do comércio eletrônico?

Acredito que o comércio eletrônico vai ser similar ao comércio de bairro de 20 anos atrás, mas com suporte digital. Você receberá saudação nominal; serão conhecidos seu entorno social, seus gostos e costumes; haverá recomendações pertinentes ao seu perfil e sugestões de onde comprar produtos e serviços não disponíveis no comércio tradicional.

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