O ecossistema de pagamentos digitais no Brasil passa por uma transformação estrutural, impulsionada pela busca incessante por eficiência operacional, redução de fraudes e aumento de conversão. Nesse cenário, soluções como Click to Pay e Passkeys despontam não apenas como tendências, mas como componentes essenciais de uma arquitetura robusta para operações de e-commerce em larga escala.

O papel estratégico do cartão no e-commerce nacional
O cartão de crédito consolidou-se como o principal instrumento de pagamento no e-commerce brasileiro, sustentando o crescimento do setor e viabilizando modelos de negócio como assinaturas, vendas recorrentes e omnichannel. A aceitação quase universal, a capacidade de parcelamento e a integração com programas de fidelidade são fatores determinantes para a preferência do consumidor. Entretanto, esse protagonismo traz consigo desafios técnicos relevantes:
– Gestão de risco e fraude: o Brasil figura entre os mercados com maior incidência de tentativas de fraude em transações CNP (Card Not Present), exigindo camadas adicionais de autenticação e monitoramento em tempo real.
– Abandono de carrinho: processos de checkout extensos e múltiplas etapas de autenticação impactam negativamente a conversão, especialmente em mobile.
– Compliance e segurança: a necessidade de aderência a padrões como PCI DSS e LGPD impõe complexidade à arquitetura de dados e à integração entre adquirentes, gateways e plataformas.
Click to Pay: padronização e eficiência no checkout
Click to Pay é uma solução baseada no padrão EMVCo Secure Remote Commerce (SRC), desenvolvida pelas principais bandeiras globais para padronizar e simplificar a experiência de pagamento online. Diferentemente de métodos tradicionais, o Click to Pay propõe uma abordagem de integração centralizada, com os seguintes diferenciais técnicos:
– Tokenização nativa: os dados sensíveis do cartão são convertidos em tokens pelas próprias bandeiras, eliminando o armazenamento local e mitigando riscos de vazamento.
– Perfil unificado do portador: o consumidor cadastra seus cartões em um perfil vinculado ao e-mail ou telefone, acessível em múltiplos estabelecimentos e dispositivos.
– Autenticação adaptativa: o sistema reconhece o usuário e aplica autenticação baseada em risco (risk-based authentication), reduzindo fricção sem comprometer a segurança.
– Interoperabilidade: a solução é compatível com diferentes adquirentes, gateways e plataformas, facilitando a implementação em operações multicanal e internacionais.
Impacto operacional
A adoção de Click to Pay no e-commerce brasileiro permite ganhos mensuráveis em KPIs críticos:
– Redução do tempo de checkout: menos etapas e preenchimento automático dos dados aumentam a taxa de conversão, especialmente em mobile.
– Diminuição do abandono de carrinho: a experiência fluida e a confiança transmitida pelo ícone Click to Pay resultam em menor evasão no funil de compra.
– Mitigação de fraude: a tokenização e a centralização do gerenciamento de credenciais reduzem a superfície de ataque e facilitam a conformidade com PCI DSS.
Passkeys: a evolução da autenticação para pagamentos digitais
O avanço das Passkeys representa um salto qualitativo na segurança e usabilidade dos pagamentos online. Fundamentadas no padrão FIDO (Fast IDentity Online), as Passkeys substituem senhas tradicionais por autenticação biométrica (impressão digital, reconhecimento facial) ou PIN local do dispositivo. No contexto do e-commerce, sua aplicação traz benefícios concretos:
– Eliminação de senhas e OTPs: o usuário autentica a transação usando biometria, tornando o processo mais ágil e menos suscetível a ataques de phishing.
– Resistência a fraudes de credenciais: como as Passkeys não são reutilizáveis e não trafegam pela internet, o risco de interceptação é praticamente eliminado.
– Transferência de responsabilidade (liability shift): em fluxos autenticados via Passkeys, a responsabilidade por chargebacks pode ser transferida ao emissor, protegendo o lojista e simplificando a gestão de disputas.
Em poucas palavras, Passkeys são credenciais digitais baseadas em autenticação forte, que substituem o uso de senhas por métodos biométricos ou PIN, tornando o checkout mais seguro e conveniente para transações de alto valor ou recorrentes.
Integração e desafios técnicos para grandes operações
A implementação de Click to Pay e Passkeys em operações de e-commerce de grande porte exige atenção a aspectos técnicos e de governança:
– Orquestração de múltiplos PSPs e adquirentes: para garantir resiliência e otimização de custos, é fundamental integrar Click to Pay a uma camada de orquestração capaz de roteamento inteligente, fallback e balanceamento de carga entre provedores.
– Gestão de dados e compliance: a centralização dos dados de pagamento nas bandeiras reduz o escopo PCI, mas exige revisão dos fluxos de dados, logs e reconciliação financeira.
– Experiência do usuário omnichannel: o perfil Click to Pay deve ser acessível e interoperável em diferentes canais (web, mobile, app, PDV físico), mantendo consistência de UX e de autenticação.
Perspectivas para o mercado brasileiro
O Brasil se destaca pela rápida adoção de inovações em pagamentos digitais, impulsionada por um ambiente regulatório dinâmico (Open Finance, LGPD, instant payments) e por consumidores cada vez mais exigentes. Grandes varejistas já reportam ganhos de conversão e redução de fraudes com a implementação de Click to Pay. A chegada das Passkeys tende a acelerar essa curva, elevando o padrão de segurança e experiência para o patamar global.
Para operações de e-commerce sênior, a recomendação é clara: investir em arquitetura de pagamentos aberta, interoperável e preparada para as próximas ondas de inovação. Click to Pay e Passkeys não são apenas recursos incrementais, mas pilares de uma estratégia de pagamentos orientada à eficiência, segurança e escala.
Considerações finais
A evolução dos meios de pagamento no e-commerce brasileiro exige uma abordagem técnica, orientada por dados e aderente às melhores práticas internacionais. Click to Pay e Passkeys representam avanços significativos, mas seu real potencial só será alcançado por operações que tratam pagamentos como parte central da estratégia de negócios, integrando tecnologia, compliance e experiência do usuário em um ciclo contínuo de otimização.