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Branding em tempos de IA: por que o toque humano segue fundamental

Por: Taise Kodama

Head de Design & Digital

Taise Kodama é partner e head de Design & Digital da consultoria de marca e experiência Gad. Apaixonada por comportamento humano, marcas e tecnologia, em seus 25 anos de liderança em projetos de design, comunicação, conteúdo e interface de usuário foi cofundadora do Clube dos Jovens Criativos RS, professora de Projeto de Criação Digital na PUCRS, atualmente conselheira do Clube de criação RS, tendo trabalhado para marcas como O Boticário, Fiat, Sensodyne, Gillette, Nestlé, Old Spice, BR Petrobras, Claro, Faber Castell, entre outras.

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Vivemos um momento em que as marcas se tornaram, simultaneamente, mais automatizadas e mais emocionais. A inteligência artificial acelera processos, amplia capacidades e democratiza o acesso à informação, mas, sem intencionalidade humana, o resultado é vazio. O desafio que se impõe não é mais “qual ferramenta usar?”, e sim “como pensamos junto com elas?”.

Reunião de negócios com a palavra “branding” e ícones de marketing sobrepostos.
Imagem: Freepik.

De acordo com estimativas da Bain & Company e do Goldman Sachs, grandes corporações, empresas de tecnologia e concessionárias de serviços públicos devem investir globalmente cerca de US$ 1 trilhão em IA generativa nos próximos anos. Um número impressionante, que revela o ritmo frenético da inovação, mas também o risco de se perder o essencial: a capacidade de dar sentido ao que criamos.

Tecnologia com sentido: por que o humano continua indispensável

Algumas marcas já entenderam isso. A Heineken, por exemplo, utilizou dados e inteligência artificial para lançar a campanha #SocialOfSocials, criada pela LePub, que alerta sobre o uso excessivo das redes sociais e propõe reconectar as pessoas à convivência real. O insight é simples e poderoso: usar a tecnologia para falar de humanidade.

Outro caso é o do Spotify, que experimenta IA para criar playlists hiperpersonalizadas, mas sabe que o que engaja de fato são as narrativas humanas que contextualizam cada experiência. Em um estudo publicado no blog de pesquisa da empresa – Contextualized Recommendations Through Personalized Narratives using LLMs -, o Spotify mostrou como combinou modelos de linguagem com edição humana contínua para oferecer recomendações mais empáticas e relevantes. O resultado: até quatro vezes mais cliques nos conteúdos recomendados.

Esses exemplos têm algo em comum: a tecnologia como meio, não como fim. Sem times preparados para ler padrões, questionar dados e cultivar empatia, a IA se torna apenas uma ferramenta a mais. A tecnologia é a chave para a evolução, mas a chave, sozinha, não abre a porta.
Por isso, compartilho cinco práticas para fortalecer times verdadeiramente High-Tech & High-Touch, capazes de equilibrar automação e humanização no dia a dia das marcas.

Cinco práticas para times High-Tech & High-Touch

1. Treine para perguntas, não apenas respostas

Ferramentas de IA entregam saídas rápidas, mas a qualidade depende da pergunta. Estimule o time a formular questões mais criativas e profundas – é o humano que continua sendo o motor da tecnologia.

2. Estabeleça rituais de leitura de dados com empatia

Dashboards importam, mas só fazem sentido quando traduzem histórias sobre pessoas, comportamentos e cultura. Promova leituras coletivas que transformem números em narrativas de necessidade, oportunidade e significado.

3. Crie espaços seguros para experimentação

Reserve parte do tempo dos projetos para que cada equipe teste novas ferramentas ou metodologias. O erro controlado gera aprendizado coletivo e fortalece a confiança para inovar.

4. Misture competências diversas

Monte squads que unam designers, analistas, estrategistas, antropólogos, comunicadores. A diversidade de repertórios gera criatividade, porque cruzar dados não constrói experiência simbólica. O impacto nasce quando tecnologia encontra sensibilidade.

5. Reforce a cultura de responsabilidade e impacto positivo

Tecnologia pode escalar processos, mas não substitui empatia. Estimule sempre a pergunta: “Como essa solução melhora a vida de alguém?” – o toque humano é o que transforma recurso em valor.

Talvez o futuro das marcas não dependa tanto da tecnologia em si, mas da cultura que decidimos construir ao redor dela. As ferramentas continuarão evoluindo, tornando-se mais autônomas. Cabe a nós garantir que o uso do tempo, da mente e da sensibilidade continue sendo o que dá direção.

O futuro do branding será definido pela capacidade de orquestrar tecnologia e humanidade. Times High-Tech & High-Touch não se apoiam apenas na inovação digital, mas naquilo que a torna verdadeiramente relevante: o impacto humano.