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Além da compra única: como o re-commerce redesenha o futuro do e-commerce

Por: Pedro Henrique Sobral

Gerente de Marketing

É gerente de marketing na Tray, unidade de e-commerce da LWSA. Com mais de 10 anos de vivência no mercado de tecnologia e e-commerce, Pedro, gerenciou equipes de marketing de conteúdo, mídias sociais, branding, comunicação e marketing de produto. Tem MBA em Marketing, graduação em Processos Gerenciais e licenciatura em Filosofia, também atua como palestrante e professor no ensino superior.

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Em um mercado no qual a sustentabilidade, o consumo consciente e a experiência do cliente ganham cada vez mais importância, o re-commerce surge como uma estratégia poderosa para marcas e consumidores repensarem o valor dos produtos, estendendo seu ciclo de vida e criando novas oportunidades de negócio.

Mulher vê site de re-commerce no notebook, com produtos usados e caixa com símbolo de reciclagem ao lado.
Imagem gerada por IA.

Embora não seja possível apontar com exatidão quando essa transformação de consumo teve início, há indícios de que a pandemia de Covid-19 marcou um ponto de virada no comportamento de compra do consumidor.

Um levantamento da pesquisa Brasil Digital: Itens Parados em Casa revelou que, durante aquele período, 45% dos entrevistados realizaram sua primeira compra de produtos usados pela internet. Desde então, o contexto evoluiu e o e-commerce seguiu o mesmo caminho.

Ao longo desta leitura, vamos explorar como a tendência do re-commerce transforma as vendas online tradicionais, abre espaço para novos modelos e desafia empresas a inovar para se manterem relevantes no futuro do varejo digital. Acompanhe!

Re-commerce: o que é e por que ele é a nova aposta do e-commerce

Re-commerce é o modelo de negócios baseado na revenda de produtos usados por meio de plataformas digitais, sendo a grande aposta do e-commerce atual por alinhar rentabilidade à sustentabilidade.

Impulsionado pelo avanço do mercado de segunda mão online, esse modelo se insere na lógica da economia circular no e-commerce, promovendo o reuso de bens, a redução de resíduos e o prolongamento do ciclo de vida dos produtos.

O crescimento do re-commerce no Brasil reflete uma mudança significativa nas tendências de consumo para 2025, marcada pelo aumento do consumo consciente e pela busca por alternativas mais acessíveis e ecológicas.

Esse movimento atende tanto consumidores preocupados com o impacto ambiental quanto empresas interessadas em explorar novas fontes de receita e fidelização de clientes.

Os impulsionadores da mudança: por que o consumidor busca o usado e seminovo

O crescimento do re-commerce está diretamente ligado à transformação do comportamento do consumidor, cada vez mais motivado por valores sociais, econômicos e ambientais.

A preferência por itens usados e seminovos não é apenas uma tendência passageira, mas um reflexo de uma nova mentalidade de consumo, impulsionada pela sustentabilidade no e-commerce, pela consciência ambiental e pelo desejo de consumir de forma mais inteligente e responsável.

A seguir, destacam-se os principais fatores que explicam essa mudança:

A força da sustentabilidade como valor de compra

No cenário do re-commerce, a sustentabilidade emerge como um valor de compra fundamental que influencia diretamente o comportamento dos consumidores.

Comprar produtos usados ou seminovos não é apenas uma questão de economia, mas uma atitude consciente que reflete o compromisso com a redução do impacto ambiental gerado pelo consumo desenfreado e pelo descarte precoce de bens.

Ao optar pelo re-commerce, o consumidor participa ativamente da economia circular, contribuindo para a diminuição de resíduos e para a preservação dos recursos naturais.

Essa valorização da sustentabilidade como critério de compra fortalece a conexão emocional entre marcas e clientes, já que os consumidores modernos buscam empresas alinhadas com seus valores ambientais e sociais.

Assim, no e-commerce, a sustentabilidade deixa de ser apenas um diferencial e se torna um elemento central para conquistar a confiança e a fidelidade do público, impulsionando o crescimento do re-commerce como uma alternativa viável e necessária para um futuro mais sustentável.

O fator econômico: acessibilidade e custo-benefício

O fator econômico – em especial a acessibilidade e o custo-benefício – é um dos principais motivadores para o crescimento dessa modalidade dentro do e-commerce.

Consumidores encontram na revenda e compra de produtos usados ou seminovos uma alternativa mais acessível em comparação aos itens novos, o que torna possível adquirir bens de qualidade por preços significativamente menores.

Essa acessibilidade democratiza o consumo, permitindo que mais pessoas tenham acesso a produtos antes restritos a faixas de renda mais altas. Além disso, o re-commerce oferece um excelente custo-benefício, pois muitos produtos usados ainda estão em ótimas condições, atendendo às necessidades do consumidor sem que ele precise arcar com o valor total de um item novo.

Para marcas e varejistas, isso representa uma oportunidade de ampliar seu público e aumentar a receita, ao mesmo tempo em que contribuem para a sustentabilidade ao prolongar o ciclo de vida dos produtos.

Dessa forma, o re-commerce se posiciona não apenas como uma escolha consciente do ponto de vista ambiental, mas também como uma decisão economicamente inteligente e atraente para os consumidores atuais.

O alinhamento com as novas gerações (millennials e geração z)

O alinhamento com as novas gerações – especialmente millennials e geração Z – é um dos principais motores que impulsionam o crescimento desse modelo de negócio.

Essas gerações são reconhecidas por seus valores ligados ao consumo consciente, à sustentabilidade e à busca por experiências autênticas, o que faz do re-commerce uma alternativa naturalmente atraente para elas.

Millennials e geração Z tendem a priorizar marcas que promovem a economia circular e oferecem transparência em suas práticas, além de valorizarem a possibilidade de comprar produtos de qualidade a preços mais acessíveis, muitas vezes com histórias e personalidades únicas.

Além disso, essas gerações estão acostumadas ao ambiente digital e às plataformas colaborativas, facilitando a adoção do re-commerce, que muitas vezes se baseia em marketplaces, trocas peer-to-peer e sistemas de aluguel ou assinatura.

Para as marcas, entender esse alinhamento é fundamental para desenvolver estratégias que falem a linguagem desses consumidores, criando conexões genuínas e fidelizando um público que deve representar a maior parte do mercado nos próximos anos.

A busca por exclusividade e itens vintage

A busca por exclusividade e itens vintage se destaca como um dos grandes atrativos que impulsionam o interesse dos consumidores, em especial dentro do universo do e-commerce.

Ao optar por produtos usados ou seminovos, muitos consumidores encontram peças únicas, com histórias e características que dificilmente estariam disponíveis em coleções tradicionais ou em produtos novos de produção em massa.

Essa exclusividade, aliada ao apelo estético e cultural dos itens vintage, cria uma experiência de compra diferenciada, que vai além da simples aquisição de um bem – trata-se de expressar personalidade, estilo próprio e até mesmo um engajamento com valores de sustentabilidade e autenticidade.

No re-commerce, esse desejo por singularidade se traduz em uma oportunidade para marcas e plataformas que sabem curar e destacar esses produtos, atendendo a um público que valoriza a raridade e a identidade, reforçando o apelo emocional e o vínculo com o consumidor.

Modelos de negócio no re-commerce: diversas formas de vender o que já foi seu

O avanço do re-commerce não se resume a um único formato de operação.

Com base na lógica da circularidade no varejo, surgiram modelos de negócio inovadores que permitem a revenda, reutilização ou redistribuição de produtos, atendendo a diferentes perfis de consumidores e empresas.

De grandes plataformas a redes entre usuários, o mercado se diversificou, consolidando-se como uma frente robusta e estratégica no cenário do e-commerce moderno.

Marketplaces de revenda: o boom de plataformas como Enjoei e Trocafone

Os marketplaces de usados se tornaram os pilares do re-commerce digital, facilitando a conexão entre quem quer vender e quem quer comprar.

Plataformas como Enjoei, Trocafone e OLX ganharam espaço ao oferecer soluções práticas e seguras para revenda de moda, eletrônicos e acessórios, com alto volume de transações e foco na experiência do usuário.

Programas de “take-back” das próprias marcas: recuperando o valor

Muitas marcas passaram a implementar programas de troca (trade-in) ou “take-back”, nos quais o consumidor devolve produtos usados em troca de crédito para novas compras.

Esses programas permitem que as empresas recuperem valor, reforcem seu compromisso com a sustentabilidade e cultivem a fidelização do cliente, enquanto alimentam seu próprio ecossistema de re-commerce.

Modelos de aluguel e assinatura de produtos

O aluguel de produtos e os modelos de assinatura vêm ganhando tração, especialmente em nichos como moda, móveis e tecnologia.

Esses formatos permitem que os consumidores tenham acesso a bens de alto valor por tempo limitado, reduzindo o desperdício e tornando o consumo mais flexível e acessível, alinhado à proposta de consumo sob demanda.

Iniciativas p2p (peer-to-peer) e comunidades de troca

As plataformas de revenda entre usuários, baseadas em modelos peer-to-peer, criaram comunidades em que a confiança e o senso de pertencimento fortalecem o comércio de segunda mão.

Aplicativos e grupos especializados permitem trocas, vendas e doações diretas, ampliando o alcance do re-commerce e fomentando uma economia mais colaborativa e descentralizada.

Vantagens para todos: benefícios do re-commerce para consumidores e marcas

O re-commerce se consolida como uma estratégia ganha-ganha para o ecossistema do varejo, trazendo benefícios diretos tanto para os consumidores quanto para as marcas.

Além de promover a redução de resíduos e apoiar a economia circular, ele gera oportunidades de receita adicionais, amplia o ciclo de vida dos produtos e fortalece o vínculo entre empresas e seus clientes.

Ao repensar o consumo e a distribuição de bens, o re-commerce amplia o alcance do e-commerce tradicional, agregando valor econômico, social e ambiental.

Para o consumidor: acesso, economia e impacto positivo

Consumidores se beneficiam com mais acesso a produtos de qualidade por preços reduzidos, encontrando no mercado de seminovos uma alternativa econômica e alinhada com seus valores.

A possibilidade de consumir com consciência, e ainda gerar impacto positivo no meio ambiente, amplia o apelo emocional da compra, promovendo um novo padrão de consumo mais sustentável e inclusivo.

Para as marcas: novas fontes de receita e fortalecimento do propósito

O re-commerce abre espaço para marcas monetizarem estoques devolvidos, peças com pequenos defeitos ou produtos recomercializados, gerando novas fontes de receita com margem de lucro em seminovos.

Além disso, a participação ativa nesse modelo reforça o compromisso da marca com a sustentabilidade, contribuindo para um posicionamento mais relevante e conectado ao público atual.

Fortalecendo a reputação de marca e o engajamento

Ao investir no re-commerce, as empresas constroem uma imagem mais ética e responsável, o que aumenta a fidelização de clientes no re-commerce e amplia o engajamento em torno da marca.

Os consumidores valorizam marcas que compartilham seus valores, o que se traduz em lealdade e maior presença em canais orgânicos e redes sociais.

A expansão do ciclo de vida do produto

Estender o uso de um item por meio da revenda ou reuso aumenta significativamente seu ciclo de vida, reduz a necessidade de produção contínua e torna o modelo de negócios mais eficiente e sustentável.

Essa abordagem permite que os produtos continuem gerando valor por mais tempo, otimizando recursos e reforçando o papel estratégico do re-commerce na construção de um varejo mais resiliente.

Integrando o re-commerce: estratégias para marcas no e-commerce

À medida que o re-commerce ganha relevância, torna-se essencial que marcas do varejo digital integrem esse modelo em suas operações de forma estratégica e escalável.

Essa integração exige ações coordenadas que envolvem desde o uso de tecnologia no re-commerce até práticas sustentáveis como logística reversa e curadoria de produtos seminovos.

A chave está em adotar uma abordagem omnichannel que conecte canais de venda, relacionamento e recompra, promovendo engajamento contínuo com o consumidor e novas oportunidades de rentabilidade.

Veja mais detalhes sobre a integração do re-commerce com estratégias para marcas a seguir!

Criando sua própria plataforma de revenda

Marcas com estrutura e base de clientes sólida podem desenvolver plataformas próprias de revenda, criando um ecossistema fechado no qual o consumidor vende ou troca produtos diretamente com a marca.

Essa estratégia amplia o controle sobre a experiência, fortalece a fidelização e permite um acompanhamento preciso da jornada do cliente dentro do re-commerce.

Parcerias com marketplaces de usados

Para empresas que desejam agilidade na entrada no mercado secundário, firmar parcerias com marketplaces de usados é uma forma prática e eficaz de começar.

Plataformas como Enjoei já oferecem estrutura tecnológica, base de usuários e visibilidade, permitindo que marcas expandam sua presença com baixo investimento inicial.

Programas de take-back e incentivo à troca

Incluir programas de take-back dentro da operação de e-commerce é uma tática poderosa para estimular a recompra e reforçar o compromisso ambiental.

Ao oferecer benefícios – como descontos ou cashback – para consumidores que devolvem produtos usados, as marcas não apenas alimentam o ciclo do re-commerce, como também criam pontos de contato contínuos com o cliente.

Comunicação e marketing para o público do re-commerce

O sucesso do marketing para re-commerce está em comunicar valores como sustentabilidade, economia e exclusividade.

A estratégia deve incluir campanhas educativas, conteúdo voltado para o consumo consciente, depoimentos reais e uso de influenciadores alinhados à causa. Integrar a narrativa da economia circular às campanhas publicitárias amplia o engajamento e reforça o posicionamento da marca.

O re-commerce e a economia circular: um futuro mais sustentável para o varejo

O avanço do re-commerce representa uma mudança estrutural no e-commerce, alinhando o crescimento do varejo digital com os princípios da economia circular.

Em vez de seguir o modelo linear tradicional de produzir, vender e descartar, o re-commerce promove a extensão do ciclo de vida do produto, reduzindo o impacto ambiental do e-commerce ao evitar a produção desnecessária e o descarte precoce de itens ainda funcionais.

Isso torna o varejo mais resiliente, adaptável e ético.

A sustentabilidade no varejo, portanto, deixa de ser apenas uma pauta institucional e passa a ser uma vantagem competitiva real, capaz de atrair consumidores mais conscientes e engajados, especialmente entre as novas gerações.

Além disso, ao fomentar modelos de negócio de impacto social, como plataformas de revenda, aluguel e troca, o re-commerce democratiza o acesso a bens de consumo e favorece a inclusão econômica, fortalecendo cadeias locais e colaborativas.

Para o futuro, marcas que integrarem o re-commerce com tecnologia, logística eficiente e propósito claro estarão mais bem posicionadas para crescer de forma sustentável e relevante.

Portanto, o re-commerce está deixando de ser uma tendência para se consolidar como uma transformação estrutural no varejo digital.

Ao unir sustentabilidade, acessibilidade e inovação, ele redesenha o e-commerce ao oferecer novas formas de consumir, vender e se relacionar com produtos e marcas.

Assim, em um mercado cada vez mais guiado por propósito e eficiência, adotar o re-commerce não é apenas uma resposta às demandas do presente – é um passo estratégico rumo ao futuro do consumo.