O comércio eletrônico no Brasil já não se limita às capitais e grandes centros urbanos. Ele vem ganhando espaço em comunidades e regiões que, até pouco tempo atrás, sequer apareciam nos mapas de entrega das transportadoras. Para muitas operações, esses locais ainda são considerados áreas de difícil acesso. Mas é justamente nesses territórios que está o novo desafio, e também uma das maiores oportunidades para o setor: a democratização da logística, da primeira até a última milha.

Expandir cobertura logística não significa apenas alcançar mais consumidores. É uma estratégia que resolve três questões centrais: atender clientes que já compram online, mas estão fora das rotas convencionais; reduzir custos de transporte, com reflexos diretos na sustentabilidade; e promover inclusão territorial e social por meio do acesso ao comércio digital.
O desafio do CEP
Em muitas periferias, o endereço do cliente não aparece corretamente nos sistemas de entrega. Isso gera atrasos, cobranças extras ou até mesmo impossibilidade de concluir o envio. O consumidor acaba frustrado e o lojista perde tanto a venda quanto a confiança.
Há também o impacto sobre pequenos empreendedores que atuam em áreas periféricas ou rurais. Sem acesso a soluções logísticas adequadas, eles têm sua capacidade de competir no e-commerce reduzida, mesmo oferecendo produtos com alta demanda.
Modelos alternativos de última milha
Para enfrentar esses desafios, o setor tem discutido e testado modelos alternativos de distribuição, como os pontos de retirada e entrega (PUDOs). Esse formato permite que o consumidor retire ou entregue seu pedido em locais convenientes, reduzindo custos de tentativas de entrega malsucedidas e trazendo previsibilidade às operações.
Quando esses pontos estão integrados ao cotidiano das comunidades e, em muitos casos, operados por moradores locais, a logística ganha em capilaridade e confiança. A combinação entre tecnologia e conhecimento territorial não apenas aumenta a eficiência, mas também gera inclusão econômica, criando novas oportunidades de renda e protagonismo local.
Inclusão como estratégia de mercado
Tratar a última milha em comunidades apenas como um problema operacional é um equívoco. O que está em jogo é o acesso de milhões de consumidores a produtos e serviços digitais. Democratizar a logística significa reconhecer que esses territórios não são exceção, mas parte essencial do mercado de consumo brasileiro.
Há ainda um aspecto de sustentabilidade. Reduzir deslocamentos desnecessários, otimizar rotas e adotar modelos de distribuição descentralizados são práticas que diminuem emissões e melhoram a eficiência geral da cadeia. Isso responde não só a pressões ambientais, mas também a uma necessidade econômica: operar com menos desperdício.
O que muda para quem vende e para quem compra
Para os lojistas, ampliar a cobertura em áreas antes negligenciadas representa menos custos, maior alcance e a chance de entregar uma experiência de compra padronizada em todo o território nacional. É também um movimento estratégico de competitividade: ignorar esses mercados significa deixar espaço para concorrentes mais ágeis.
Para os consumidores, o ganho é direto: mais opções de entrega, maior confiabilidade e a possibilidade de escolher pontos de retirada ou horários que se encaixem no seu dia a dia. Em outras palavras, o e-commerce começa a tratar todos os clientes com o mesmo nível de importância.
A expansão do e-commerce brasileiro depende de sua capacidade de inclusão. A democratização da logística, por meio de soluções que tornem a primeira e a última milha mais acessíveis, previsíveis e sustentáveis, é peça-chave nesse processo.
Não se trata apenas de vender mais. Trata-se de integrar territórios historicamente excluídos das cadeias de consumo – transformar comunidades em polos logísticos e reconhecer que o futuro do comércio digital no Brasil será tanto mais robusto quanto mais democrático for o acesso à entrega.