O aumento das tarifas de importação dos Estados Unidos para produtos brasileiros, anunciado no início de julho pelo presidente Donald Trump por meio de uma rede social, tem provocado instabilidade no comércio exterior. Empresas e especialistas relatam impacto direto na logística, nos contratos e no planejamento das operações, com um cenário marcado por burocracia ampliada e incertezas regulatórias.

A medida inclui uma lista de quase 700 exceções, o que cria complexidade semelhante ao sistema tributário brasileiro. Para alguns exportadores, o desafio é prever mudanças e adaptar contratos. Marcos Dillenburg, CEO da Novus, fabricante gaúcha de equipamentos eletrônicos, explica que 80% das vendas para os EUA entraram na lista de isenções, mas apenas para fornecimento à aviação civil — segmento fora do foco da empresa.
O impacto já é sentido na logística. Antes da entrada em vigor da sobretaxa, embarcadores anteciparam envios, elevando a taxa de ocupação dos navios entre Brasil e EUA, especificamente na Costa Leste, para 98%, segundo a Solve Shipping. Há expectativa de redução de volume e queda no preço do frete, que costuma subir nesta época do ano.
Algumas empresas optaram pelo transporte aéreo para evitar riscos, como a Frescatto, processadora de pescados, e a Netzsch, fabricante de bombas industriais. Ambas aceleraram entregas antes de confirmar que parte das cargas poderia embarcar até 6 de agosto sem a tarifa extra.
Mais segmentos
A situação afeta setores variados. A Frooty Açaí e a marca de moda praia Despi intensificaram a produção e os embarques para os EUA nos últimos meses. Já empresas do polo moveleiro do Sul, atendidas pela operadora logística Allog, buscam alternativas como armazenar produtos em terminais alfandegados à espera de eventual flexibilização das tarifas.
No segmento de perecíveis, a estratégia é mais limitada. A safra de manga do Vale do São Francisco, por exemplo, começou a ser enviada em menor volume, segundo Erika Marques, diretora comercial da Ftrade. “Resta saber se o consumidor americano vai pagar mais pela manga ou substituir por outra fruta”, diz.
De acordo com Giorgio Rossi, gerente da Firjan Internacional, a incerteza força exportadores a revisar orçamentos e estratégias. Para muitos, a nova tarifa muda não apenas a logística, mas também a viabilidade econômica das operações com o mercado norte-americano.
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