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Murilo Gun reflete sobre as nuances da criatividade e saúde mental no segundo dia do Fórum E-Commerce Brasil 2025

Por: Redação E-Commerce Brasil

Equipe de jornalismo E-Commerce Brasil

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Com leveza e autenticidade, o humorista e palestrante comenta sobre sua experiência na liderança criativa e cuidados com saúde mental no trabalho. Na tarde do segundo dia do Fórum E-Commerce Brasil 2025, Murilo Gun, comediante, palestrante e idealizador da Keep Learning School, subiu ao palco da plenária Gestão e Operações para compartilhar suas ideias sobre liderança com criatividade e coragem.

Imagem: R2PM

Murilo teve grandes experiências no campo da tecnologia: aos 16 anos fundou a startup BIT, criou um serviço de delivery via pager chamado Peça Comida (que resultou em duas premiações IBest) e morou por três meses em um centro de pesquisa da NASA, no Vale do Silício.

O que é a criatividade?

Murilo afirma que, por diversas vezes, o significado de criatividade é atrelado exclusivamente à determinadas profissões, estilos de vida e imagem pessoal. “A criatividade é compreendida por uma visão romântica, artística”, afirma. No entanto, de acordo com a expertise conquistada com o tempo, o palestrante apresenta uma outra maneira de entender: criatividade é a imaginação aplicada para resolver um problema – seja grande ou pequeno.

Seguindo essa lógica, somos apresentados a duas abordagens: a memorização e a imaginação na solução de problemas. A memorização, como o próprio nome sugere, utiliza de experiências passadas para encontrar o melhor caminho para enfrentar um desafio. Já a imaginação nasce de novas possibilidades ainda inexploradas, sempre precedidas pela mesma pergunta: “E se?”.

O desequilíbrio entre a memorização e a imaginação

Ambas maneiras de solucionar problemas são válidas, e não há maior qualidade em nenhum dos dois. No entanto, nota-se uma desvalorização cultural na imaginação coletiva, resultado da imposição do pensamento lógico por toda nossa vida.

A humanidade, como espécie, foi educada a resolver problemas a base de extrema obsessão pela memorização como meio único de resolução. Na escola e na vida adulta, ainda é presente a constante repressão da imaginação, se tornando fator impeditivo à inovação e criatividade pessoal.

Como exemplo, Murilo toma a avaliação de desempenho do aluno por meio de provas: “somos ensinados a decorar, como se pudéssemos gabaritar a vida”, diz. Há muita exatidão na memorização, e não sobra espaço para que a criatividade flua.

O medo como resultado da imaginação reprimida

“O maior inimigo da inovação é o medo”, afirma Murilo, referenciando a fala do CEO da Doris em palestra anterior. Novas possibilidades, geralmente resultado do pensamento criativo e imaginativo, são recheadas de um fenômeno que, por vezes, é difícil de lidar: o desconhecido.

A repressão da imaginação é um fator que afasta do desconhecido, impede de criar um histórico de exploração e aventura em ideias e possíveis soluções. E, sem saber lidar com o que é inexplorado, o medo de errar, de não ser capaz, invade o pensamento.

Em um time de criatividade reprimida, o medo de inovar é insistente e resulta no impedimento coletivo de seguir em frente com novas possibilidades. “O que você faz quando o desconhecido surge na sua realidade?”, Murilo pergunta, lançando a reflexão à plateia.

O exterior reflete o interior: saúde mental no âmbito profissional

Durante a conversa, compartilhou com o público um desafio bastante pessoal enfrentado enquanto administrava a Keep Learning School, logo após voltar de sua experiência no parque militar da NASA nos Estados Unidos: experienciou a baixa de sua saúde mental por conta da alta demanda de trabalho. “Nos KPI’s (Key Performance Indicators) da vida externa, tudo andava bem. Mas no meu mundo interno, as coisas não estavam nada bem. Eu estava zoado, estava uma bagunça!”, desabafou.

Apesar da negação inicial sobre o estado de sua saúde, percebeu que precisava fazer algo a respeito quando sua esposa, também colaboradora da plataforma de cursos, interviu na situação mensurando, com um gráfico, sua escala de trabalho diária, exaustiva e absurda. “Minha primeira reação ao ver o gráfico que minha esposa fez foi reclamar. Mas, depois daquele momento, comecei a me observar mais e percebi que, mesmo tudo indo muito bem na empresa, eu reclamava o tempo inteiro”, compartilhou com o público.

Essa observação direcionou Murilo a uma descoberta: tudo o que externalizamos é, na verdade, um reflexo do nosso interior. Se ele só reclamava, significava que algo interior não estava certo, e que era hora de começar a olhar para isso.

Olhe para dentro e entenda o que você anda carregando

“A qualidade de uma intervenção depende do estado interno do interventor. A qualidade de uma ação depende do estado interno do ator.”, refletiu Murilo, recordando uma frase que leu na época. Ressalta que, em todos os momentos de nossa existência, existe uma pergunta que não pode deixar de ser feita: como você está? Não há como promover uma escalada no desempenho comercial de sua marca, loja ou negócio se, por dentro, há desordem. “Onde quer que você vá, você estará lá. Você pode trocar de área, cidade, empresa, profissão, mas você não pode fugir de si”, ressalta.

A meditação vem sido reconhecida como uma prática em alta para os que buscam alcançar um estado de paz interior. Apesar disso, a ideia de que meditar é uma atividade exclusiva para pessoas mais calmas é persistente na concepção dos leigos. “Muita gente agitada fala ‘meditação não é para mim’, e eu sempre respondo ‘a meditação é exatamente para você!’”, diz. Para Murilo, esse tipo de autocuidado é indispensável para lidar com a turbulência do mundo.

Existem evidências empíricas sobre o poder da respiração. “Se alguém está passando mal, nervoso, ou com qualquer sentimento à flor da pele, sempre instruímos a pessoa a respirar. Quando você erra um retorno, por exemplo, é automático dar aquela respirada profunda para não bater em outro carro”, explica.

De acordo com o palestrante, trabalhar a respiração é um caminho para um lugar pouco visitado: a presença. As pessoas, por vezes, passam o tempo remoendo o passado e se preocupando muito com o futuro, e nunca estão de fato no presente. “É um lugar gostoso. Ele nos dá uma paz. A cultura da minha empresa é ter cultura de presente, pois é a melhor qualidade interna para fazer qualquer coisa. Tenho certeza de que nunca nenhum copo foi derrubado na presença”, explica.

A intuição são os sussurros dos nossos corações

Às vezes é necessário incluir em nossas métricas aquilo que é imensurável: a intuição. As novas tecnologias chegam para auxiliar o trabalho de forma lógica, em prol de abrir espaço e oportunidades para que os seres humanos trabalhem sua criatividade, sentimentos e intuição.

“Sentir é sempre mais, porém fomos educados ao contrário. Essa inteligência, de sentir, o ChatGPT não tem. Ele não consegue. É uma coisa totalmente única ao ser humano. Nesse quesito, o ChatGPT sonha em ser humano”, diz.

O coração, símbolo do sentimento e intuição, opera no silêncio. A intuição, segundo Murilo, é um sussurro do coração – impossível de ser escutado em meio às turbulências internas. “Para ouvir o que o coração fala é preciso estar em silêncio. E o maior barulho que o ser humano pode carregar é o das mágoas – por qualquer que seja seu tamanho”, afirma. Aqui, há um estimulo ao perdão, um incentivo à resolução de questões internas, abrindo espaço para exploração do desconhecido.

“Guardamos mágoas bobas, sem sentido. Dentro de você está tão lotado de coisa ruim que não há mais espaço para nada!”

Não permita que falte o fator humano

Ao final, ficou claro que o maior obstáculo da inovação não está na ausência de tecnologia ou ideias, mas na incapacidade de materializá-las em meio ao caos cotidiano. A saúde mental (ou a falta dela) tornou-se um cenário tão comum que já não desperta atenção. Normalizamos o cansaço, a pressa, o desalinho interno, e esquecemos que criatividade exige presença, silêncio e espaço interior.

Como destacou o palestrante, a respiração é uma tecnologia natural, acessível e poderosa para reconectar-se com o essencial. Mais do que soluções externas, a inovação nasce do equilíbrio interno — e isso só é possível quando se cuida das mágoas, se pratica o perdão e se escuta, de verdade, o que o coração tem a dizer.