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Jornadas conectadas exigem novos mapas: entenda o futuro do marketing digital

Por: Amanda Lucio

Jornalista e Repórter do E-Commerce Brasil

A transformação no comportamento do consumidor, o avanço das tecnologias de IA e a necessidade de repensar estruturas tradicionais do marketing foram alguns dos temas centrais da masterclass “Jornadas conectadas, negócios escaláveis: como conectar dados, estratégia e experiência em ecossistemas digitais”, realizada nesta terça-feira (29), durante o Fórum E-Commerce Brasil 2025.

Da esq. para a dir., Camilo Barros, Augusto Rocha, Leonardo Naressi e Gerson Ribeiro apresentam a masterclass (Imagem: Welber/R2PM)

Na plenária Marketing & Vendas, Camilo Barros (Institute for Tomorrow), Leonardo Naressi (DP6), Gerson Ribeiro (B&Partners.co) e Augusto Rocha (Pmweb) apontaram caminhos para um cenário em que o consumidor já não segue uma jornada linear, os dados exigem integração inteligente e o uso da IA redefine o papel das marcas.

O consumidor não é mais o mesmo

“Como negócio, estamos fazendo a jornada de um consumidor que não existe mais”, afirmou Camilo Barros. Segundo ele, o crescimento de quase 20% nas transações via mobile contrasta com a realidade de que 67% dos sites ainda não estão adaptados ao formato. A crítica é direta: há um descompasso entre o que o consumidor espera e o que as empresas entregam.

Barros também destacou o impacto das novas formas de busca, como a voz e a inteligência artificial, que tornam obsoleto o modelo de SEO tradicional. “Estamos quebrando no universo da busca por voz. O quanto estamos preparados pra isso?” A tendência do zero click journey mostra que as pessoas buscam respostas diretamente em assistentes de IA, sem clicar em links externos, mudando toda a lógica de funil.

Ele propõe quatro novos pilares para entender a jornada do consumidor hoje: search, scrolling, streaming e shopping. E reforça que a omnicanalidade não é apenas sobre presença em múltiplas plataformas, mas sim sobre a integração entre elas: “o consumidor não quer interagir com vários canais, mas quando interage, ele quer que o canal entenda essa movimentação”.

O novo papel do CRM

Augusto Rocha trouxe à discussão a evolução do CRM como ferramenta estratégica, um tema que ele se dedica há 17 anos. Para ele, o futuro do CRM passa pelo reconhecimento do comportamento do consumidor nos diversos canais e pela personalização com propósito.

Ao citar um estudo da Forrester, Rocha lembrou que marcas que reconhecem seus consumidores mais devotos conseguem gerar até metade de suas vendas com esse grupo. O desafio está em parar de transferir complexidades para o cliente — como exigir que uma devolução seja feita apenas em um canal específico — e assumir a responsabilidade por uma experiência integrada.

Ele propôs uma abordagem optichannel, em que a escolha do canal parte do cliente, e não da marca. “Não é sobre o que a gente fala, mas sobre como a gente se conecta.” O case da Shell, com uma estratégia de CRM construída ao longo de dez anos, resultando em 40% do tráfego do Shell Box, foi citado como exemplo de consistência e resultado.

Martech precisa sair do papel

Leonardo Naressi trouxe dados sobre o uso de tecnologias de marketing. Segundo a Gartner, o orçamento do setor no varejo se mantém estável em 7%, mas a adoção de ferramentas de martech caiu de 58% em 2020 para 33% em 2023. “Talvez não estejamos sabendo executar essa ferramenta corretamente”, apontou.

Para ele, é preciso construir um ecossistema de IA orquestrável, em que dados, plataformas e agentes conversam entre si. “É importante um agente porque eles orquestram operações, eles podem tocar todo o trabalho.” Na nova arquitetura proposta, os dados viram contexto e os contextos, ações.

Naressi ainda destacou a ascensão de ferramentas no-code como Replit e Bolt, que permitem a qualquer profissional gerar soluções a partir de comandos simples. É o que ele chama de movimento do desenvolvedor-cidadão.

O marketing do agora

Fechando a masterclass, Gerson Ribeiro reforçou a urgência de adaptação. “Se eu só mando a IA fazer tudo que eu preciso, tudo sai igual.” Segundo ele, o marketing vive uma era de excesso e repetição, em que a diferenciação está na capacidade de entender o contexto do consumidor, não apenas os números.

“Precisamos parar de lutar contra o consumidor e integrá-lo ao canal que ele prefere”, defendeu. O funil tradicional perde sentido diante de jornadas complexas e interativas, com decisões influenciadas por IA e algoritmos. Em vez de segmentar por canal ou tipo de mídia, Ribeiro propõe pensar o negócio como um todo, com equipes integradas de dados, planejamento, compra e operação. “Quanto mais rápido testarmos, mais barato vamos pagar”, afirmou, incentivando a experimentação com novos formatos como retail media e plataformas como TikTok Shop.

A conclusão é direta: a transformação digital não é uma meta distante. “O futuro do e-commerce não é uma previsão, ele é vivo e acontece agora.”