As casas de apostas online, popularmente conhecidas como bets, se consolidaram como o segundo destino mais acessado da internet no Brasil, atrás apenas do Google. A informação vem da plataforma SimilarWeb, que monitora o tráfego digital no mundo inteiro.

O avanço coloca as bets à frente de gigantes como YouTube, Globo, WhatsApp, TikTok e redes sociais como Facebook e Instagram. Mas, ao mesmo tempo que crescem em visibilidade, as plataformas também enfrentam críticas pelo risco de vício entre os usuários e pelos impactos sociais e financeiros que isso pode gerar.
A alta no tráfego também reflete na loja de aplicativos da Google. Com a liberação para a entrada de apps de apostas, incluindo cassinos e os famosos “jogos do tigrinho”, o acesso às bets ficou ainda mais facilitado.
Panorama das plataformas legalizadas
Os dados dizem respeito exclusivamente às operadoras legalizadas no Brasil, hoje em número de 193 segundo o Comitê Gestor da Internet (CGI). O levantamento não contempla as casas ilegais, que ainda respondem por uma fatia significativa do setor.
Leonardo Benites, diretor de comunicação da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), explicou que o crescimento era esperado. “Até pelos investimentos de marketing feitos hoje pela indústria, faz total sentido a quantidade de tráfego que geramos. Isso só reforça que é algo que o brasileiro buscava e vai continuar buscando”, afirmou ao UOL.
Ele também lembrou que o Brasil vive um represamento histórico nesse setor. “Os jogos foram banidos legalmente desde 1948. Eu tenho certeza que hoje o tráfego só está em segundo porque trata somente das bets reguladas.”
Regulamentação e virada de chave
Embora legalizadas em 2018, foi a partir de 2025 que as operadoras passaram a seguir regras mais rígidas: licenciamento junto à Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, pagamento de R$ 30 milhões para operar e normas de rastreabilidade dos apostadores, além da exigência de troca de domínio, de .com.br para .bet.br.
A mudança nos domínios ajudou a SimilarWeb a consolidar os dados de acesso por categoria, reunindo todos os sites sob a mesma extensão. A própria empresa afirmou que essa configuração busca oferecer uma visão mais precisa do mercado, embora já esteja em revisão.
Tráfego em números e comportamento
Logo no primeiro mês de regulamentação, em janeiro, as bets registraram média diária de 55 milhões de acessos. Esse número foi crescendo mês a mês, até atingir 68 milhões por dia em maio. No acumulado daquele mês, foram 2,7 bilhões de visitas, o dobro do YouTube, com 1,3 bilhão.
Outras plataformas tradicionais ficaram para trás: Globo (765 milhões), WhatsApp (759 milhões) e TikTok (740 milhões). O domínio .bet.br agora é o 14º mais visitado do mundo, com 99,92% do tráfego concentrado no Brasil.
Os acessos se mantêm relativamente constantes, mas há picos em dias de jogos decisivos. Na final da UEFA Champions League, entre PSG e Inter de Milão, as bets bateram 73,8 milhões de acessos. O recorde, no entanto, veio em 7 de maio, com 76,7 milhões de visitas, dia de semifinais da Champions e jogos de clubes brasileiros em torneios continentais.
Patrocínios e visibilidade midiática
Após a liberação para operar legalmente, as operadoras passaram a investir pesadamente em marketing. Patrocinaram clubes de futebol, programas esportivos e influenciadores de diversos nichos. A visibilidade aumentou ainda mais com a CPI das Bets, que convocou nomes como Virgínia Fonseca e Rico Melquíades para depor no Senado.
Durante os debates, o setor publicitário também foi ouvido, incluindo representantes do Conar. As campanhas de divulgação das bets são tema de um projeto de lei aprovado no Senado e em tramitação na Câmara. A proposta impõe restrições como:
- Proibição da participação de influenciadores, atletas e artistas em campanhas;
- Veto a mensagens que associem apostas a sucesso financeiro;
- Restrições de horário para veiculação de publicidade;
- Proibição de anúncios voltados ao público infantojuvenil;
- Obrigatoriedade de alertas sobre os riscos do jogo.
A chegada dos apps nas lojas
Com a entrada dos aplicativos de apostas na Google Play Store, o acesso às plataformas deve se tornar mais simples e rotineiro. Hoje, o usuário precisa digitar o endereço manualmente e passar por autenticação facial. Com o app, o processo se reduz a alguns toques.