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Unified commerce é caminho sem volta para o varejo

Por: Gustavo Chapchap

Graduado em Marketing com especialização em Gestão de Projetos, trabalha com comunicação há mais de 20 anos e com e-commerce desde 2006. Redigiu o projeto que originou o Dia do Profissional Digital #404DigitalDay aprovado no plenário da Câmara Municipal da Cidade de São Paulo em 2014. Colaborou com o lançamento do Guia de e-Commerce ABRADi-SP Sebrae-SP escrevendo o capítulo de plataformas, atua como CMO na JET. Em 2019 foi premiado como MVP no Fórum E-Commerce Brasil.

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Indicado como tendência há alguns anos, o comércio unificado alcança hoje outro patamar: tornou-se necessidade para quem busca relevância no mercado atual e futuro.

Um dos fatores que justificam essa mudança é o fato de as compras serem mais multicanal. A estimativa é que cerca de 60% das experiências de compra agora começam em um dispositivo e terminam em outro.

Notebook e celular exibindo produtos em loja física.
Imagem gerada por IA.

Mais do que isso, como demonstram vários estudos, os clientes utilizam cada vez mais canais de interação com as marcas durante o processo de compra.

Definitivamente, a jornada de compra não é mais linear, como no passado, envolvendo múltiplas telas e momentos de contato.

Para quem tem um negócio, reside nesse aspecto a principal vantagem do unified commerce: as empresas assumem o controle de cada parte da jornada do cliente, não importa quantos canais estejam envolvidos.

Diferentes comportamentos consumo

No cenário atual, ter mais controle desse processo é fundamental, uma vez que o ambiente é marcado pela complexidade.

Estudo recém-lançado pela Conversion, sobre a Nova Jornada de Compra, evidencia bem essa situação, mostrando que não existe mais jornada única de compra, mas roteiros paralelos.

No momento de descoberta, enquanto 87% da geração Z encontram produtos no Instagram e 80% no TikTok, 58% dos baby boomers ainda utilizam a televisão como canal principal. Durante a etapa de pesquisa, 59,5% da geração Z utilizam a inteligência artificial, comparados a 31% dos boomers.

Na decisão de compra, o preço permanece como fator universal, mas os critérios de confiança divergem completamente entre gerações.

E, como indica o estudo E-commerce Trends 2026, a jornada de compra nas redes sociais também não é linear.

Entre os consumidores que compraram após ver um anúncio, 74% disseram que clicaram para conferir, mas só compraram depois. Outros 13% compraram na hora, enquanto os 13% restantes afirmaram que nem clicaram, mas se lembraram da oferta em outro momento e finalizaram a compra.

Esse comportamento evidencia a força do branding como peça-chave no processo de decisão. Mais do que apenas converter no clique, a marca precisa ser reconhecida, desejada e lembrada.

A personalização da jornada de compra no e-commerce não é mais uma opção, mas uma necessidade. E há muito a ser feito nessa área pelas empresas brasileiras.

No CX Trends 2025, 38% dos consumidores ainda avaliam que as marcas brasileiras são apenas “regulares” na entrega de personalização. Nessa pesquisa, 68% afirmam que experiências personalizadas influenciam ou influenciaram fortemente sua decisão de compra, um aumento de 3% em relação à pesquisa anterior.

Ao adotar o conceito de unified commerce e investir em plataformas integradas, o varejo brasileiro não apenas acompanha a evolução do comportamento do consumidor, mas também potencializa suas oportunidades de crescimento e fidelização.

A experiência do usuário, agora no centro de todas as decisões, torna-se o verdadeiro diferencial competitivo, capaz de transformar simples transações em relacionamentos duradouros.

Integrar canais, otimizar a gestão e buscar inovação constante são caminhos essenciais para quem deseja se destacar e prosperar no universo digital.

Quais são os pilares do comércio unificado?

Experiência

O principal, nesse caso, é garantir a fluidez e a consistência da marca em todos os pontos de contato. Para isso, o requisito principal é assegurar que a empresa tenha uma visão única do cliente (CRM unificado) e personalização.

Nesse ambiente, mudam também as métricas de sucesso, uma vez que o foco deve recair sobre taxa de retenção e NPS unificado.

Logística

Na experiência unificada, a logística deve ser baseada no uso otimizado do estoque da rede para atendimento de pedidos online.

A melhor forma de viabilizar isso é por meio da integração OMS, WMS e ERP em tempo real.

Um dos pontos que precisam ser monitorados é a capacidade da operação na redução de custos de last mile.

Tecnologia

Os fatores determinantes são a centralização e a automação do ciclo de vida dos pedidos.

É imprescindível, nesse ambiente, que o OMS (Order Management System) atue como um hub que centraliza a captura e o ciclo de vida dos pedidos, conectando inventário, pedidos e clientes em todos os canais de venda (website, app, loja física, marketplace).

Cultura e organização

Mais do que em qualquer outro momento, agora é fundamental que as operações façam o alinhamento de equipes e liderança centradas no cliente.

Essa condição só será alcançada com treinamento contínuo e métricas de desempenho unificadas.

Ainda refletindo sobre o que determina o sucesso das operações de comércio unificado, é importante enfatizar a relevância do Customer Lifetime Value (CLV).

Essa é a métrica mais estratégica no omnichannel, pois mede o valor total de lucro que um cliente gera para a empresa ao longo de todo o seu relacionamento. E, nesse sentido, trata-se de um indicador crucial para determinar o quanto se pode investir de forma rentável na aquisição (CAC) e nas estratégias de retenção de clientes.

No cálculo do CLV, temos (ticket médio × frequência de compra × tempo de relacionamento) × margem.

Outros KPIs importantes são:

– Precisão do estoque;

– Taxa de conversão O2O (Online to Offline);

– Tempo médio total da venda por canal;

– Percentual de itens devolvidos por canal.

Quais as vantagens obtidas com o unified commerce?

A adoção do unified commerce exige alterações significativas nas estratégias das empresas, mas a boa notícia é que os resultados tendem a ser altos.

No estudo da Manhattan Associates, que avaliou 220 varejistas da América do Norte, os números foram animadores: líderes em comércio unificado faturam três vezes mais, e têm Lifetime Value (LTV) 170% maior.

Outro dado importante é o fato de as empresas terem obtido, em média, 31% de redução nos custos de fulfillment e 24% de aumento na satisfação do cliente.

Vale o registro de que esses resultados foram alcançados pelas operações que já alcançaram maturidade no comércio omnichannel, determinada pela oferta de experiências altamente personalizadas tanto nas lojas físicas quanto online.

Para a classificação, os varejistas foram avaliados em mais de 300 recursos, contemplando quatro áreas essenciais da experiência: compras, checkout, fulfillment e serviço.

A concorrência nessas frentes tende a exigir cada vez mais das empresas. Segundo o estudo, de 2023 a 2025 o nível de exigência para a liderança no comércio unificado aumentou significativamente. 33% dos recursos que diferenciavam os líderes em 2023 agora são considerados básicos, enquanto um novo conjunto de recursos únicos surgiu.

Mas, como citamos, o esforço será recompensado: compradores multicanal gastam 15% a mais por pedido, combinando compras em redes sociais, marketplaces, lojas físicas e live commerce. Equipes de lojas líderes entendem essa mudança, influenciando até 34% de todas as descobertas digitais, mais de 1,5 vez a média do setor.

Outro ponto destacado é a necessidade de aprimoramento do checkout, combinando eficiência operacional com maior engajamento e personalização. 70% dos líderes oferecem experiências de carrinho inteligentes que sincronizam e se adaptam entre canais, em comparação com apenas 31% dos demais.

E o estudo indica que varejistas que tratam o checkout como um ponto estratégico registram 20% menos abandono de carrinho do que a média do setor.

Na mesma linha, os investimentos nos serviços de entrega devem continuar como prioritários. No estudo, 50% dos líderes do setor têm estratégias mais eficientes nessa área, permitindo, por exemplo, que os clientes modifiquem pedidos e preferências de entrega após a compra, em comparação com apenas 13% dos demais.

A situação no atendimento também chama a atenção: 90% dos líderes unificaram seus pontos de contato de atendimento ao cliente, garantindo uma transição fluida entre loja, digital e suporte telefônico.

E as aplicações de IA têm um papel fundamental, uma vez que é por meio delas que as empresas têm conseguido criar experiências hiperpersonalizadas.

Como vimos neste artigo, a adoção do comércio unificado não é mais uma tendência, mas uma necessidade para as empresas.

A jornada de compra omnichannel exige que as empresas integrem seus canais, otimizem a gestão e busquem inovação constante.

Nesse novo ambiente, a personalização da experiência do usuário é o verdadeiro diferencial competitivo, transformando transações simples em relacionamentos duradouros.

Tanto é que empresas que lideram no comércio unificado não apenas aumentam suas receitas, mas também melhoram a satisfação do cliente e reduzem custos operacionais. Portanto, alinhar equipes e liderança centradas no cliente, investir em tecnologia e aprimorar a logística são passos essenciais para os negócios, independentemente do ramo ou porte da operação.