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Repensar o consumo nos aproxima de uma economia mais inteligente, sustentável e alinhada aos desafios do futuro

Por: Lucas Infante

Formado em Administração pela PUC-Campinas e pós-graduado em Gestão de Negócios pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), Lucas Infante atuou na administração de grandes negócios, como a Ultragaz e o Carrefour na Espanha. Desde jovem, tinha uma inquietação sobre o destino da comida jogada fora e o desperdício de comida no mundo. Por isso, em 2021, fundou a Food To Save, app nº1 no combate ao desperdício de alimentos no Brasil, com o propósito de revolucionar o desperdício de alimentos no país, além de promover o acesso a bons alimentos, de forma mais sustentável e ajudando o meio ambiente. Foi eleito empreendedor do ano pela EY, reconhecido como um dos Top 50 Creators do LinkedIn na categoria Food Industry & Food Tech e já participou de importantes fóruns e eventos nacionais e internacionais, participando de debates sobre o desperdício de alimentos no Brasil e como a tecnologia pode colaborar para mudar essa realidade.

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O conceito de “best before”, já adotado na União Europeia, Reino Unido, EUA e Canadá, indica que a data de validade não significa, necessariamente, que o produto não pode mais ser consumido. Após essa data, é necessário que o consumidor faça uma análise sensorial simples – verificando cheiro, aparência e sabor – para avaliar se o produto ainda está próprio para o consumo. Já no Brasil, essa política do “best before” tem ganhado cada vez mais espaço para debates.

Restos de alimentos em uma lixeira.
Imagem: Freepik.

Recentemente participei da sessão da Frente Parlamentar de Comércio e Serviços, em Brasília, em que foi discutida a PL 3095/2025. O encontro reuniu parlamentares, o presidente da ABRAS, João Galassi, ABIA | Associação Brasileira da Indústria de Alimentos e diversas entidades do setor. A proposta busca modernizar o prazo de validade dos alimentos, introduzindo o conceito de “best before” ou “consumir preferencialmente antes de”. A experiência internacional mostra que o best before reduz o desperdício e reforça o papel da educação alimentar como aliada da sustentabilidade.

| Associação Brasileira da Indústria de Alimentos e diversas entidades do setor. A proposta busca modernizar o prazo de validade dos alimentos, introduzindo o conceito de “best before” ou “consumir preferencialmente antes de”. A experiência internacional mostra que o best before reduz o desperdício e reforça o papel da educação alimentar como aliada da sustentabilidade.

Só para se ter uma ideia, o Brasil descarta um volume impressionante de alimentos, equivalente à capacidade do estádio Maracanã, totalizando cerca de 46 milhões de toneladas de comida desperdiçada, conforme dados da ONU. Além disso, cerca de 17% de toda a produção global de alimentos é desperdiçada, principalmente em residências, mas também em serviços de alimentação e comércio varejista, de acordo com relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA).

Impacto ambiental e econômico do desperdício

A boa notícia é que o combate ao desperdício de alimentos já se consolidou como um novo setor da economia verde, com impacto ambiental direto e potencial de escala global. Hoje, combater o desperdício é também uma forma de reduzir emissões e gerar valor econômico. As empresas que entenderem isso sairão na frente, porque o consumidor está mais consciente e quer fazer parte da solução.

Ao adotar o “best before”, seria possível estimular os consumidores a compreenderem melhor os rótulos. Também seria possível evitar o descarte de alimentos que ainda estão bons e seguros para consumo, ajudando a mudar hábitos e a promover um consumo mais responsável. Apesar de não ser uma solução única, podemos nos inspirar e olhar para esse modelo como uma ferramenta poderosa dentro de uma estratégia maior.

Desafios para modernizar a legislação

Mas, como toda mudança, há desafios, principalmente culturais e políticos. Atualizar a legislação brasileira é um passo essencial para evitar que alimentos próprios para consumo continuem sendo descartados por falta de clareza nas datas de validade. Modernizar o prazo de validade é muito mais do que uma questão técnica, é um passo cultural, que aproxima o Brasil de uma economia mais inteligente, sustentável e alinhada aos desafios do futuro.