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Pix, fraudes e o impacto do MED no e-commerce

Por: Nassor de Oliveira Ramos

Nassor de Oliveira Ramos é analista de compliance na Unicopag e especialista em comércio eletrônico e experiência do consumidor. Com mais de uma década de atuação no setor, analisa estratégias digitais e acompanha de perto as principais tendências do varejo online. Seu trabalho é voltado ao estudo de como tecnologia, comportamento de compra e eficiência operacional podem impulsionar resultados e fortalecer a fidelização de clientes no ambiente virtual.

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De acordo com o Banco Central do Brasil, com mais de 160 milhões de usuários ativos em 2025 e participação crescente nas vendas online, o Pix consolidou-se como referência mundial em inovação financeira. Essa popularidade, porém, trouxe desafios inéditos, entre eles o Mecanismo Especial de Devolução (MED), criado pelo Banco Central para restituir valores em casos de fraude e proteger consumidores vítimas de golpes. Na prática, entretanto, o MED vem sendo acionado de forma ampla e muitas vezes indevida, servindo como atalho para insatisfações comerciais e ameaçando o equilíbrio financeiro do e-commerce.

Mão segurando celular com logo do Pix ao lado de cartão escrito MED sobre mesa escura.
Imagem gerada por IA.

Segundo pesquisa do DataSenado, entre quase 22 mil entrevistados, os mais afetados por fraudes são jovens de 16 a 29 anos (27%), seguidos por adultos de 30 a 39 anos (23%), 40 a 49 anos (20%), 50 a 59 anos (14%) e idosos com 60 anos ou mais (16%). Quando o MED é acionado sem comprovação de fraude, o impacto é imediato e concreto: lojistas e marketplaces enfrentam fluxo de caixa imprevisível, prejudicando planejamento e investimentos, enquanto consumidores correm o risco de banalizar sua própria proteção, reduzindo a eficácia de um instrumento criado para situações graves.

O papel estratégico dos gateways de pagamento

Diante desse cenário, surge a questão: qual é a responsabilidade dos agentes em equilibrar proteção antifraude e previsibilidade financeira? A resposta está em combinar eficiência técnica e clareza de processos. Nesse contexto, os gateways de pagamento assumem papel estratégico que vai além da simples intermediação financeira. Estima-se que o setor de gateways de pagamento alcançou US$ 16,27 bilhões em 2024, com projeção de crescimento para US$ 34,80 bilhões até 2029, segundo a Mordor Intelligence.

Soluções antifraude baseadas em inteligência de dados e machine learning podem reduzir a probabilidade de golpes antes da liquidação da transação. Trilhas robustas de comprovação – como logs de checkout, validação de identidade, autenticação em múltiplos fatores e integração com sistemas de rastreamento logístico – fornecem evidências que ajudam a evitar acionamentos indevidos do MED.

Como proteger o negócio e o consumidor de forma sustentável

Alguns podem argumentar que restringir o acesso ao MED poderia prejudicar consumidores que realmente sofreram golpes. De fato, a proteção ao usuário deve permanecer inegociável. Mas o papel do gateway não é apenas reagir; é atuar de forma preditiva. Assim como é possível prever atrasos logísticos, também é viável antecipar fraudes e desacordos, transformando dados em proteção e previsibilidade.

Os gateways de pagamento estão no centro desse equilíbrio, garantindo que o e-commerce brasileiro continue a crescer de forma sustentável. O futuro do setor depende da confiança do consumidor em não ser lesado, da previsibilidade de caixa para o lojista e da atuação ética e estruturada da tecnologia. O Pix mudou a forma de pagar; agora, cabe ao mercado transformar a forma de proteger de maneira preventiva e estruturada.