De acordo com o Banco Central do Brasil, com mais de 160 milhões de usuários ativos em 2025 e participação crescente nas vendas online, o Pix consolidou-se como referência mundial em inovação financeira. Essa popularidade, porém, trouxe desafios inéditos, entre eles o Mecanismo Especial de Devolução (MED), criado pelo Banco Central para restituir valores em casos de fraude e proteger consumidores vítimas de golpes. Na prática, entretanto, o MED vem sendo acionado de forma ampla e muitas vezes indevida, servindo como atalho para insatisfações comerciais e ameaçando o equilíbrio financeiro do e-commerce.

Segundo pesquisa do DataSenado, entre quase 22 mil entrevistados, os mais afetados por fraudes são jovens de 16 a 29 anos (27%), seguidos por adultos de 30 a 39 anos (23%), 40 a 49 anos (20%), 50 a 59 anos (14%) e idosos com 60 anos ou mais (16%). Quando o MED é acionado sem comprovação de fraude, o impacto é imediato e concreto: lojistas e marketplaces enfrentam fluxo de caixa imprevisível, prejudicando planejamento e investimentos, enquanto consumidores correm o risco de banalizar sua própria proteção, reduzindo a eficácia de um instrumento criado para situações graves.
O papel estratégico dos gateways de pagamento
Diante desse cenário, surge a questão: qual é a responsabilidade dos agentes em equilibrar proteção antifraude e previsibilidade financeira? A resposta está em combinar eficiência técnica e clareza de processos. Nesse contexto, os gateways de pagamento assumem papel estratégico que vai além da simples intermediação financeira. Estima-se que o setor de gateways de pagamento alcançou US$ 16,27 bilhões em 2024, com projeção de crescimento para US$ 34,80 bilhões até 2029, segundo a Mordor Intelligence.
Soluções antifraude baseadas em inteligência de dados e machine learning podem reduzir a probabilidade de golpes antes da liquidação da transação. Trilhas robustas de comprovação – como logs de checkout, validação de identidade, autenticação em múltiplos fatores e integração com sistemas de rastreamento logístico – fornecem evidências que ajudam a evitar acionamentos indevidos do MED.
Como proteger o negócio e o consumidor de forma sustentável
Alguns podem argumentar que restringir o acesso ao MED poderia prejudicar consumidores que realmente sofreram golpes. De fato, a proteção ao usuário deve permanecer inegociável. Mas o papel do gateway não é apenas reagir; é atuar de forma preditiva. Assim como é possível prever atrasos logísticos, também é viável antecipar fraudes e desacordos, transformando dados em proteção e previsibilidade.
Os gateways de pagamento estão no centro desse equilíbrio, garantindo que o e-commerce brasileiro continue a crescer de forma sustentável. O futuro do setor depende da confiança do consumidor em não ser lesado, da previsibilidade de caixa para o lojista e da atuação ética e estruturada da tecnologia. O Pix mudou a forma de pagar; agora, cabe ao mercado transformar a forma de proteger de maneira preventiva e estruturada.