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Pequenos varejistas não precisam mais estar distantes das grandes marcas

Por: Nicolás de Paul

Commercial & Customer Success Head da BackChannel

Executivo com ampla experiência em insights, estratégia e marketing, atuou em posições de liderança em empresas multinacionais e projetos de alcance regional e global. Sua trajetória combina visão analítica, pensamento estratégico e profundo entendimento do consumidor, com passagens pelos setores de tecnologia, bens de consumo e consultoria na América Latina.

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Para muitos varejistas espalhados pelo Brasil, especialmente em cidades pequenas e médias, o acesso a marcas desejadas ainda parece um privilégio reservado aos grandes centros urbanos. O cenário é conhecido: poucas alternativas de fornecimento, preços pouco competitivos, pedidos mínimos altos e a sensação constante de estar em desvantagem em relação aos grandes distribuidores.

A imagem mostra um pequeno varejista sorridente organizando tênis brancos na vitrine de uma loja de roupas casuais.
Imagem: Reprodução.

Esses varejistas enfrentam mais do que restrições logísticas. O desafio diário de crescer com pouco acesso a oportunidades não está ligado à falta de demanda, mas sim a barreiras estruturais que os impedem de competir em igualdade com lojas situadas em capitais ou regiões metropolitanas com mais infraestrutura e oferta direta das marcas.

Do ponto de vista de quem já vende online, sobretudo em modelos B2B, esse desequilíbrio se traduz em maiores prazos para abastecimento, perda de margem frente à concorrência e menor previsibilidade sobre o fluxo de reposição – um fator crítico em qualquer operação de e-commerce que trabalha com giro rápido ou categorias sazonais.

Soluções logísticas e tecnológicas para varejistas menores

Muitos fornecedores priorizam grandes volumes de compra, o que deixa negócios menores fora da fila. Enquanto isso, o Brasil ainda apresenta uma alta concentração de canais de distribuição em polos urbanos, o que acentua as disparidades regionais. Segundo a consultoria McKinsey, globalmente, mais de US$ 740 bilhões em produtos permanecem não vendidos por ano, um reflexo de sistemas ineficientes que não conseguem conectar estoques excedentes a demandas reais, muitas vezes fora dos grandes centros.

No contexto do e-commerce, esse tipo de ineficiência representa não só uma perda logística, mas a perda de uma oportunidade para canais digitais que poderiam operar com maior amplitude regional e maior capilaridade se o acesso aos estoques e fornecedores fosse mais simples.

Soluções com integração logística, modelos descentralizados de abastecimento e reorganização dos fluxos de compra entre marcas e distribuidores de pequeno e médio porte têm sido alternativas adotadas por operações B2B e D2C em países que buscam mais competitividade local no digital. A adoção de ferramentas que automatizam pedidos, ajustam inventário em tempo real e oferecem acesso segmentado a produtos têm refletido em uma maior eficiência operacional para quem vende online em regiões fora do eixo tradicional.

O novo modelo de relacionamento entre indústria e varejo

A mudança, no entanto, não depende apenas de tecnologia, mas de novos modelos de relacionamento entre indústria, distribuidores e varejo online. É nesse ponto que o conceito de “acesso competitivo” passa a ser central: não se trata apenas de vender bem, mas de conseguir comprar bem, com curadoria, com frequência e com agilidade.

Mais do que conectar produtos a pessoas, o que está se consolidando é uma rede na qual lojistas independentes ganham poder de escolha, previsibilidade e escala sem depender do volume de compra ou de contar com a sorte de uma oportunidade pontual.

Para quem atua no digital e deseja escalar suas operações de forma sustentável, estar inserido em um ecossistema de fornecimento estruturado significa reduzir lead time, ampliar mix de produtos com segurança e minimizar riscos de ruptura ou excesso de estoque. Isso se traduz em maior flexibilidade comercial e, consequentemente, maior capacidade de atender a nichos e demandas emergentes.

Com organização e visão de longo prazo, o que antes era visto como excesso de estoque pode se tornar um motor de crescimento para o varejo. Estoques representam uma chance concreta de movimentar o caixa, testar novos canais e atender perfis de consumidores cada vez mais atentos a preço e propósito. Reaproveitar esses itens de forma estratégica permite que varejistas ganhem competitividade sem recorrer a grandes aportes financeiros, além de ser um modelo que tende a se fortalecer no país.

Em um cenário no qual o e-commerce representa uma parte estratégica do abastecimento e da diversificação de canais, repensar o modelo de compra e acesso a fornecedores é urgente. Com as ferramentas certas, estar bem conectado vale mais do que estar bem localizado. E no novo varejo que se desenha, ganha vantagem quem consegue se mover com inteligência, não necessariamente com tamanho.