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O seu e-commerce está preparado para o público 50+?

Por: Gustavo Chapchap

Graduado em Marketing com especialização em Gestão de Projetos, trabalha com comunicação há mais de 20 anos e com e-commerce desde 2006. Redigiu o projeto que originou o Dia do Profissional Digital #404DigitalDay aprovado no plenário da Câmara Municipal da Cidade de São Paulo em 2014. Colaborou com o lançamento do Guia de e-Commerce ABRADi-SP Sebrae-SP escrevendo o capítulo de plataformas, atua como CMO na JET. Em 2019 foi premiado como MVP no Fórum E-Commerce Brasil.

Desenvolver estratégias específicas para o público 50+ pode representar excelentes oportunidades para as empresas. Além do crescimento significativo desses grupos em termos quantitativos, vale lembrar que, mesmo no Brasil, estamos falando de pessoas com rendas mais estáveis.

Desenvolver estratégias específicas para o público 50+ pode representar excelentes oportunidades para as empresas.

O desafio para as empresas é buscar cada vez mais conhecimento sobre o comportamento dessas gerações, afinal, 50+ envolve públicos diversos.

Reunimos neste artigo informações importantes sobre as estratégias que podem ser adotadas. Confira!

Os desafios do “caldeirão multigeracional”

Em meio aos muitos desafios enfrentados no ambiente corporativo, é importante atentar para o chamado “caldeirão multigeracional”. A expressão tenta dar conta do fato de termos hoje várias gerações ativas do ponto de vista econômico.

A genZ está chegando com força ao mercado de consumo, mas isso não significa que todas as atenções possam ser direcionadas para ela.

Afinal, com o aumento da expectativa de vida, as demais gerações, como a X ou mesmo os babies boomers, estão em plena atividade, trabalhando, estudando e, claro, consumindo.

Veja este dado: a porcentagem da população mundial com mais de 65 anos passou de menos de 5% em 1960 para mais de 9% em 2019. Em 2050, espera-se que seja superior a 16%.

Olhando para o Brasil, o cenário é ainda mais complexo, porque o envelhecimento da população é um evento recente. Sempre fomos reconhecidos por sermos um “país de jovens”.

Por isso, nem sempre nos damos conta das mudanças que estão a caminho. Hoje, os 50+ são o grupo que mais cresce e vai seguir crescendo no Brasil – são 54 milhões de pessoas atualmente e, até 2050, devem chegar a 98 milhões de pessoas.

Público 50+ e os impactos da transformação digital

Refletindo sobre o cenário do e-commerce, algumas questões importantes devem ser consideradas no debate sobre o atendimento do público 50+.

Para começar, é importante pensar nos impactos relacionados à pandemia de Covid-19. A relação desse grupo com a tecnologia teve mudanças significativas.

Vários estudos têm mostrado que o processo de digitalização foi acelerado, até em função do emprego mais frequente do aparelho celular.

Isolados, uma vez que eram o grupo de maior risco, uma parcela dessas pessoas teve que aprender a usar melhor essa tecnologia para conseguir se comunicar com a família e, em muitos casos, realizar suas compras de casa, via internet.

Mas é preciso atenção nas estratégias, porque esse grupo ainda tem mais afinidade com as lojas físicas.

Uma questão que tem aparecido nos estudos é que eles gostam de ter mais assistência na hora da compra. Ou seja, um dos caminhos para que as lojas virtuais se mantenham relevantes para esse público é investir no atendimento especializado, mesmo quando a compra for à distância.

Nesse sentido, investir em soluções de assistência virtual pode representar boas oportunidades de negócio para as lojas virtuais.

E se o emprego do celular se tornou mais efetivo, funciona usar apps como o WhatsApp para estabelecer a conexão com esse grupo.

Por que aprimorar as estratégias de segmentação?

Temos falado muito sobre a questão da hiperpersonalização, uma das tendências que despontam para o varejo.

Quando olhamos para os 50+, fica evidente essa necessidade de uma abordagem mais criteriosa para atender aos diferentes perfis.

Um dos erros, nos projetos de segmentação, é desconsiderar que temos várias nuances que devem ser respeitadas na classificação do público. Por exemplo, entre os 50+, é importante considerar que uma boa parcela está ativa no mercado de trabalho.

Além da maior adesão à tecnologia, outro ponto tem sido destacado nas pesquisas: esse grupo foi o que teve mais estabilidade financeira nos últimos anos, justamente por contar com proventos mais estáveis, como a aposentadoria.

Veja esste dado do estudo “50+: novos tempos, novos hábitos/Transformações do isolamento e do amadurecimento”, projeto realizado pelo Agibank, em parceria com o Núcleo 60+:

– durante a pandemia, 54% dos 50+ não tiveram alteração na renda, enquanto que no grupo controle apenas 29% alcançaram essa mesma situação.

O estudo também confirma algumas tendências em termos de comportamento:

– o uso dos devices pelos 50+ já era uma realidade pré-pandemia. Agora, eles mostram que usam uma maior variedade de aparelhos, além do celular, em valores próximos aos do grupo dos 30-49. A internet pelo desktop, por exemplo, é mais usada pelos 50+ do que pelo grupo controle.

– o desejo de proximidade foi um grande propulsor do processo de digitalização dos 50+. Depois da primeira chamada de vídeo com a família, tudo fica mais simples.

– no contexto pós-pandemia, pode-se prever para o público maduro cada vez mais uma complementação de canais com foco em uma experiência diferenciada no ponto físico, algo que não se pode obter no digital da mesma forma.

– com a crescente digitalização, um possível abandono das experiências nos pontos físicos poderia ser observado, mas, na maioria dos casos, o que vemos é uma complementação dos dois canais.

– quando questionados sobre o uso de lojas físicas para realizar compras, 41% dos 50+ responderam que seguem comprando presencialmente. No grupo controle, o valor cai para 36%.

– entre os 50+, é mais variado o uso dos canais de atendimento bancário. Tem quem prefira o cartão, tem quem use mais a lotérica (classes D e E, principalmente). Tem quem use o dinheiro físico e quem prefira realizar a transação pelo app. Por isso, segundo o estudo, estar preparado para essa diversidade de canais é chave para atender à pluralidade dos hábitos dos maduros.

– quando se analisa a longevidade, a tendência é tentar encontrar padrões e comportamentos que perpassam todas as idades contempladas dentro dos “+”: 40+, 50+, 60+. Os comportamentos e os hábitos padrões existem, mas de nenhuma forma definem todos os grupos presentes no corte.

– refletindo sobre a diversidade dentro público, importante analisar a questão financeira: a independência financeira entre os 50-59 é maior do que entre os 30-49. Entretanto, no grupo de maiores de 80 anos, essa independência cai novamente.

Público 50+: como têm sido as compras online?

Os dados do relatório da Neotrust ajudam na análise sobre o comportamento específico desse público no e-commerce.

Em 2021, segundo o levantamento, as cinco categorias que lideraram o número de pedidos entre o público com mais de 50 anos foram:

– beleza;

– perfumaria e saúde;

– moda e acessórios;

– artigos para casa;

– móveis, construção e decoração;

– e entretenimento.

No comparativo entre 2019 e 2021, o destaque foi o setor de beleza, perfumaria e saúde, que atingiu o topo do número de pedidos pela primeira vez em 2021, até então liderado por moda e acessórios.

Em termos de categorias de produtos, não há diferenças significativas em relação aos demais públicos.

Contudo, como têm alertado os especialistas, é preciso atenção na abordagem dessas faixas etárias. Além da falta de representatividade, indicada em vários estudos, há o relato de que os consumidores 60+, por exemplo, não encontram produtos adequados ao seu perfil.

E veja que estamos falando de uma faixa etária bem importante do ponto de vista do mercado de consumo: o Brasil já possui mais mulheres 60+ do que crianças e adolescentes de zero a 14 anos.

O desafio neste momento, então, para as empresas é buscar formas de estreitar seus vínculos com essa parcela do público. É a partir daí que será possível compreender melhor os seus hábitos e, claro, desenvolver estratégias mais assertivas.

Como vimos, não se trata de algo para o futuro, mas para o presente. Há muitas oportunidades que podem ser exploradas por quem entender o comportamento do público 50+.