A corrida global pela inteligência artificial não é apenas sobre quem constrói os modelos mais poderosos, e sim sobre quem consegue manter as mentes que os constroem. A disputa por talentos de IA atingiu um novo patamar, e os dados mostram que essa guerra já move bilhões.

No Brasil, a participação das transações de fusões e aquisições envolvendo inteligência artificial quase quintuplicou em 2024, passando de 5% das operações totais em 2023 para 23% no ano passado, segundo levantamento do escritório BZCP, que analisou 70 transações com valores entre R$ 50 milhões e R$ 500 milhões. O movimento marca o retorno do crescimento após o índice estabilizar em 13% entre 2021 e 2022, um sinal claro de que a “compra de cérebros” virou parte central da estratégia de expansão corporativa.
A tendência é impulsionada por um ecossistema em franca transformação. Um estudo da Amazon Web Services (AWS) revela que 53% das startups brasileiras já utilizam IA em seus negócios, enquanto 31% estão desenvolvendo novos produtos baseados na tecnologia. O mesmo levantamento aponta que 78% acreditam que a inteligência artificial transformará seus setores nos próximos cinco anos.
A escassez de especialistas como obstáculo
Essa corrida ainda enfrenta um obstáculo crescente – a escassez de especialistas. Pesquisa global da Bain & Company, realizada com líderes corporativos de cinco países, mostra que 44% afirmam que a falta de expertise interna já atrasa a adoção da IA em suas empresas. No Brasil, o cenário não é diferente: 39% dos executivos de tecnologia relatam o mesmo desafio em 2025, um salto em relação aos 25% de 2024. A consequência é direta: salários em alta e rotatividade acentuada. A demanda por profissionais de IA cresce 21% ao ano, impulsionando remunerações e tornando a retenção de talentos uma vantagem competitiva por si só.
Cultura, propósito e o diferencial além do código
O episódio recente da Meta, que tentou atrair engenheiros das rivais como OpenAI e Anthropic mesmo após oferecer pacotes milionários, é emblemático. Ele mostra que a lealdade em tecnologia não se compra, se conquista. Bonificações escalonadas, golden handcuffs e planos de vesting prolongados ajudam na retenção de talentos, mas os verdadeiros motores são o propósito e o prestígio intelectual.
Mais do que cifras, o que retém profissionais de IA é a sensação de estar moldando o futuro. As empresas que entenderam isso criam culturas de aprendizado contínuo, liberdade criativa e impacto real – atributos que valem mais do que qualquer pacote de bônus. Nesse contexto, o diferencial competitivo deixou de ser o código-fonte e passou a ser quem escreve o código.
Em um mundo onde dados são commodities e modelos podem ser replicados, o capital intelectual se tornou o ativo mais escasso e estratégico do século XXI. E talvez a pergunta que definirá a próxima década não será quanto vale uma startup, mas quanto valem as pessoas capazes de criá-la.