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Nova demanda das PMEs: gestão prática e apoio estratégico?

Por: Julian Tonioli

Julian Tonioli é CEO e sócio-fundador da Auddas, consultoria focada em parcerias operacionais. Com mais de 20 anos de experiência em estratégia, vendas, operações e M&A, atuou em empresas como Spring Wireless e BIG Market. Engenheiro naval pela POLI-USP, é investidor-anjo, conselheiro e mentor no G4 Educação.

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De uma forma cíclica, o universo corporativo elege algumas características indispensáveis para lideranças. Nos últimos meses, tenho acompanhado discussões nesse sentido em que a palavra da vez é humildade. A análise desse adjetivo, definido nos dicionários como a capacidade de indivíduos de reconhecer os próprios erros, defeitos ou limitações, abriu caminho para algumas reflexões sobre as dificuldades encontradas por empreendedores ao estruturar o caminho do crescimento sustentável de seus negócios.

Homem e mulher posam confiantes com os braços cruzados dentro de uma pequena loja.
Imagem: Envato.

Há mais de dez anos no ramo de consultoria para médias empresas e companhias de dono, venho percebendo uma mudança muito clara na mentalidade do empreendedor brasileiro. Ao comparar o cenário atual com o início da minha atuação como consultor, em 2014, percebo um empreendedor que, de um modo geral, opta por serviços de consultoria com muito mais tranquilidade, em um processo mais fluido.

Esse empresário identifica, de uma forma bem mais orgânica, suas limitações, seja de formação ou capacitação, e que a consultoria pode, de fato, atuar como diferencial para fazer o negócio dele crescer. Na primeira conversa, esse empreendedor quer saber se o negócio dele realmente faz sentido. Na maioria das vezes, a resposta é sim. Então, ele tenta nos mostrar a sua visão do negócio. É exatamente aqui que o trabalho da consultoria pode ser um divisor de águas.

Reconhecer limitações e extrair valor

Na consultoria, o trabalho não é mudar radicalmente a linha de atuação do empreendedor, mas aprimorá-la, sobretudo com relação à forma como é executada. Ultrapassada a barreira do modelo de negócio, o empreendedor busca o apoio do consultor para entender como extrair o maior valor possível do seu negócio. Isso só é possível com uma série de ações e medidas envolvendo estratégia e gestão.

E é aqui que ele precisa de ajuda, pois, em geral, o empreendedor brasileiro tem muita dificuldade para acessar informações que permitam comparações com seus pares do mesmo segmento, que permitam acessar metodologias de trabalho práticas e aplicáveis a seus níveis de maturidade e conhecer sobre as técnicas de gestão adotadas nas consultorias e nas grandes empresas.

São muitas as dúvidas sobre os resultados e as métricas mais adequados à estrutura da empresa e como avaliar o desempenho frente à concorrência. Essa pitada de humildade na gestão tem tornado o segmento do empreendedorismo muito mais aberto à decisão de contratar serviços de consultoria mais orientados a um problema específico. É um movimento que vem avançando muitos passos na última década e abrange muitas empresas familiares.

Educação corporativa como estratégia

O desdobramento da interação de consultorias com empreendedores converge para o aprimoramento da formação do próprio empresário e de seu time. Em mais de 600 projetos executados, com foco em estratégia, gestão, governança e capital, a proximidade com empreendedores me fez enxergar uma lacuna. A maioria desses empresários sente falta de uma vivência mais prática voltada para problemas reais do negócio.

Somado a isso, existe uma percepção que nosso modelo de formação e educação universitária não acompanha as necessidades cada vez maiores do mercado de trabalho e, dessa forma, existe uma necessidade de transformar toda empresa em uma formadora de profissionais em algum grau.

Para atender a essas demandas, proliferam os programas de educação corporativas com focos em diversas áreas e temas, e esse já virou um mercado de educação enorme. Mais recentemente, as consultorias de gestão também começaram a entregar, através de programas como esses, conteúdo e formação para empreendedores e seus times. O foco aqui não é ensiná-los a serem consultores, mas sim ensinar e transferir a eles as técnicas utilizadas pelas consultorias em suas atividades ou, ainda, desenvolvê-los em conteúdos temáticos relevantes e práticos para o ambiente de negócios.

O escopo de atuação das consultorias focadas no empreendedor de pequeno e médio porte tem evoluído para abarcar toda a sua jornada, desde sua formação e educação, como o desenvolvimento de seus times e lideranças e as atividades clássicas de consultoria, envolvendo a construção de planos e implementação deles através da adoção de ferramentas de planejamento e execução adequadas.

E, por outro lado, os empreendedores aprenderam que devem buscar apoio de empresas que não são compostas por “consultores de carreira”, mas sim por pessoas que viveram, experimentaram, praticaram na vida real e, por isso, têm muito mais capacidade de entregar e transferir esse conhecimento de maneira rápida, prática e eficaz.

A jornada começa com a humildade de reconhecer que você não sabe tudo e que não sabe o que não sabe e termina com a sua disposição de se cercar de gente boa e investir tempo e dinheiro em sua formação, na formação do seu time e na construção de condições e estruturas de apoio que levem seu negócio mais longe.

Falamos aqui que todo negócio pode ser gigante se o empreendedor tiver ambição, mas ele será apenas do tamanho da sua disposição. Que essa não lhe falte!