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“Mentoria Corporativa” ou “Mentoring” no mundo do e-commerce: mitos e verdades

Por: Luiza Fontana

eRetail Manager

Com quase 14 anos de experiência em Digital e e-Commerce, a carreira da Luiza vem sendo pautada neste universo que está em constante mudança e da qual se assume uma grande apaixonada e entusiasta. Com passagens por empresas como Disney, Emirates Airlines, Philips e Reckitt Benckiser, há 3 anos atua como Gerente de eRetail B2C na Heineken, onde encabeça o desafio de acelerar as vendas do canal ao lado de um time multifuncional assim como aumentar a presença digital das marcas do grupo. Professora, Mentora e Embaixadora do projeto Mulheres no e-Commerce, Luiza adora dividir conhecimento e formar profissionais mais preparados e pessoas mais confiantes em suas carreiras.

Tenho 3 anos de Grupo Heineken e neste tempo, cada vez que precisei de alguma orientação eu ouvi muito o seguinte direcional: “Fale com Fulano. Veja de fazer uma mentoria com ele” ou “Sicrana é ótima nesse tema. Bate um papo com ela e veja se rola uma mentoria”. E eu pensava “Mas como assim ‘mentoria’?”. Na verdade eu achava esse papo de “mentoria” era quase que como um “coaching gratuito”. Você já teve essa impressão?

Com a Pandemia, pela minha função de Gerente Sr. de eRetail (ou e-commerce mesmo), eu passei a ser muito assediada e procurada para dar mentorias. O grande boom do canal despertou não apenas a curiosidade de profissionais de outras áreas da companhia, como gerou uma nova demanda para aqueles que queriam “surfar a onda” e se manterem antenados à grande aposta do momento: o canal online.

Ao iniciar com as mentorias, não posso negar que no princípio eram muito mais “bate papos” cheios de dúvidas e curiosidades totalmente aleatórias sobre o canal e que depois de deixar meus mentorados, ou menteess, mais confortáveis com a nossa linguagem particular – vamos concordar que existem muitas siglas e termos em inglês no nosso canal e que precisamos estar atentos a sempre traduzir ou nos fazer entender – consegui estruturar melhor os papos, sugerir leituras, dividir materiais e as vezes até propor exercícios. Quase que como uma aula. Quem seguiu corretamente e se manteve no foco dos encontros e da aplicação dos aprendizados, me passaram feedbacks de que seus clientes passaram a ter um share da categoria no canal de quase 30% sem muito esforço – lembrando que a média do mercado é de 10%.

Com o tempo fui me aprofundando no tema e descobri que mentoring formal e estruturado é algo relativamente novo em nosso país e é justamente por isso que existem tantos conceitos e referências incorretas sobre o tema e, mais ainda, desconhecimento sobre esta ferramenta fantástica que pode ser, inclusive, uma forma de diminuir o turn over nas empresas, isso porque tanto o mentorado quanto o mentorando, sentem-se mais próximos dos colaboradores, cria-se uma empatia e um sentimento de pertencimento maior que aqueles que nunca se submeteram a um processo de mentoring.

Isto dito, muitos podem dizer que “o processo de Coaching e Mentoring são a mesma coisa”. E este é o nosso primeiro MITO! O coach estimula o coachee a buscar sozinho as respostas, já o mentor é aquele que ajuda a executar determinada tarefa e oferece ferramentas para que o mentorado alcance seus objetivos. No coaching procura-se alcançar as metas e objetivos, no mentoring o foco está na transferência de conhecimento e a expertise para o desenvolvimento de competências pessoais e profissionais.

O pensamento de “quem tem mais conhecimento e experiencia é o melhor mentor” também é um MITO. O mentor pode dominar um assunto específico e ser inicialmente procurado por causa dele, contudo muita gente é competente na sua profissão mas não possui a atitude certa, a disponibilidade mental e física, ou as competências para ser um bom mentor. Ser mentor exige, acima de tudo, predisposição. Também é super importante procurar ter uma conexão com o mentorando, assim o processo fica mais descontraído e os encontros ficam mais leves, que ajudam e muito no processo de aprendizado e de divisão do conhecimento. Buscar fazer mentoria com uma pessoa que você admira como pessoa é tão importante quanto o lado profissional.

“É comum que uma pessoa precise de mais de um mentor” e isso é uma VERDADE. É comum que uma pessoa precise de mais de um mentor. Afinal, às vezes temos carência de conhecimento e segurança em diversas áreas que não podem ser supridas por um único mentor. Analogamente, um mentor pode mentorar diversas pessoas ao mesmo tempo, dependendo do conhecimento e da experiência que tenha e da sua disponibilidade de tempo.

“Dar conselhos faz da pessoa uma montora”. Taí mais um MITO. O aconselhamento é sim uma das funções do mentoring, mas é apenas uma delas. Para que alguém seja considerado mentor é preciso que desenvolva uma relação de confiança com o mentorado por meio da qual serão desenvolvidas também outras funções, como orientação, papel de modelo e mais. Pensar que “Mentoring é basicamente partilhar conhecimento e dar conselhos” é uma visão limitada do processo já que o mentoring abrange muitas mais dimensões.

Achar que o processo de mentory precisa ser sempre feito através de encontros formais é mais um MITO. Ao se criar um vínculo, uma relação de confiança, muitas vezes uma ligação ou troca de mensagens para se pedir um aconselhamento pontual ou até mesmo desabafar, não se faz necessária uma agenda formal. Afinal, um dos objetivos do processo de mentoria é fazer com que o mentorando tenha acesso ao mentor e possa ser aconselhado ou direcionado à solução de um problema ou até mesmo desabafar num “safe space”.

Para Bianca Waitman, Headhunter da consultoria Vittore Partners, e minha amiga, uma fala de Victoria Black, diretora de um programa de mentoria e coaching de pares na Texas State University, resume bem o processo ”A chave para a mentoria é uma parceria aberta e recíproca entre mentor e mentee. Pense nisso como estando em uma longa viagem de carro juntos onde o mentee é o motorista e o mentor é o copiloto, ajudando-os a chegar ao seu destino”.

Encontrar um mentor que te inspira, que você consiga criar uma conexão genuína a ponto de compartilhar seus objetivos, medos, inseguranças, interesses e necessidades é essencial. Ela finaliza dizendo que “considerar que a mentoria é uma via de mão dupla, uma construção conjunta em que juntos vocês conseguem criar um espaço para diálogos, conselhos e troca, tornará o processo ainda mais rico e efetivo”.

Por fim, sendo o mentoring um processo de desenvolvimento profissional, é fundamental que o programa preveja o processo e indicadores para avaliação da sua eficiência e eficácia. Estes podem ser definidos entre o mentor e o mentee, não precisando assim de um processo for mal ou da intervenção do RH.

Posso dizer com propriedade que aquele meu pensamento inicial de “se teria tempo pra mim em meio a tantas outras atividades” caiu por terra no momento em que eu me vi dentro de uma grande companhia, durante uma pandemia, bem quando as pessoas nunca tinham tido contato com o mundo do digital e e-commerce. E eu me vi extremamente demandada por curiosos, entusiastas e pessoas querendo doar parte de seu tempo para fazer este canal acontecer. Foi fantástico e segue sendo. Sigo sendo mentora e mentorada.

Bom, agora que você já sabe mais sobre o processo de mentoring, aproveite as dicas e faça uma autoanalise de se você precisa de uma mentoria ou se quer ser um mentor. E, o mais importante: independente da resposta, lembre-se de que dar o primeiro passo e ser protagonista da sua própria história é sempre muito bem quisto dentro de uma organização – e mostra o quanto você é comprometido com seu crescimento e dos demais a sua volta.