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IA nas vendas: transformação, não substituição

Por: Maurício Trezub

CEO na OmniChat

Com mais de 20 anos de experiência no varejo brasileiro como investidor, Mauricio Trezub é empresário e executivo de tecnologia e um dos maiores especialistas em chat-commerce do Brasil, fundador da OmniChat.

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A inteligência artificial, especialmente em sua vertente generativa, já está remodelando a forma como trabalhamos e, ao contrário do que muitos temem, esse impacto tem sido mais transformador do que substitutivo.

Robô humanoide e mulher observando juntos a tela de um notebook, em um ambiente moderno e iluminado.
Imagem: Envato.

Um estudo recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontou que entre 30% e 40% dos profissionais na América Latina já interagem com alguma aplicação de IA generativa. E talvez o dado mais relevante esteja na forma como essa tecnologia está afetando o trabalho: entre 8% e 14% das funções analisadas tornaram-se mais eficientes com IA, enquanto apenas de 2% a 5% correm risco de automação total.

Esses números reforçam uma mudança de paradigma: a IA não está aqui para ocupar o lugar de quem vende, mas para ampliar a capacidade de entrega, análise e estratégia dos times comerciais.

Vendas conversacionais como nova fronteira de eficiência

No contexto do e-commerce e do varejo digital, é comum associar a IA à automação de marketing ou atendimento. Mas seu maior impacto hoje acontece no campo das vendas conversacionais, especialmente em canais como o WhatsApp, em que o consumidor brasileiro já está habituado a comprar, negociar e pedir ajuda.

Nesse ambiente, a IA atua como um reforço ao trabalho humano, e não como substituição. O que observamos no mercado é uma reorganização de papéis: tarefas operacionais – como triagem de mensagens, busca de produtos, sugestões de resposta, recuperação de carrinho e coleta de dados – são delegadas à IA. Com isso, o vendedor ganha mais tempo para atuar como um consultor, entregando personalização, leitura de contexto e argumentação.

Essa combinação entre IA e humano é particularmente eficiente quando aplicada a canais de alta densidade de interação, como o WhatsApp, em que a jornada do cliente exige velocidade, empatia e continuidade.

IA não tira o emprego – ela reposiciona o papel do vendedor

Com a introdução da IA em fluxos de venda, profissionais da área passam a ter novas atribuições. Se antes o foco era apenas responder e registrar pedidos, agora o desafio está em interpretar dados, adaptar abordagens e agir com proatividade.

Essa transição está exigindo um novo tipo de capacitação para os times comerciais, que precisam dominar:

– Ferramentas de IA aplicadas à jornada de compra;
– Interpretação de insights gerados por dados de CRM e comportamento;
– Práticas de comunicação consultiva via canais digitais.

Novos indicadores para novas jornadas

Com a integração da IA aos fluxos de vendas, os indicadores de performance também estão mudando. As empresas já não podem mais depender apenas de métricas como taxa de abertura de e-mails ou ROI por canal. Agora, é necessário acompanhar dados mais conectados à experiência conversacional, como:

– Taxa de conversão por interação com IA;
– Tempo médio de atendimento resolvido por assistente virtual vs. humano;
– Eficiência por jornada ativa (ex.: recuperação de carrinho via WhatsApp);
– Engajamento em campanhas de mensagem personalizada;
– Produtividade individual com apoio de recursos de Copilot.

Esses dados revelam com mais precisão como o uso da IA melhora o desempenho do time e a experiência do cliente, desde que estejam alinhados à jornada real de compra, e não a fluxos pré-definidos e engessados.

O futuro da performance comercial é colaborativo

Se há algo que a IA generativa nos ensinou até agora, é que seu valor não está em substituir o humano, mas em amplificar o que fazemos bem: criar relações, identificar problemas, apresentar soluções.

No universo das vendas, isso se traduz em um modelo híbrido, no qual a IA atua nos bastidores – cuidando do volume, da repetição e da organização -, enquanto o vendedor se dedica ao que exige olhar humano: construir confiança, ouvir com atenção e encantar com repertório.

O desafio das empresas de e-commerce não está em escolher entre IA ou pessoas. Está em redesenhar seus processos para que as duas frentes atuem juntas, com clareza de papéis, metas integradas e foco no cliente.

A inteligência artificial não representa o fim das vendas como as conhecemos, mas o início de uma era em que as conversas certas, no momento certo, com o suporte certo, podem escalar resultados e fortalecer relacionamentos ao mesmo tempo.