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Assinaturas valem ouro (até virarem armadilha invisível)

Por: Eduarda Camargo

Chief Growth Officer da Portão 3 (P3)

Com mais de 10 anos de experiência na área de marketing, atuando como Chief Growth Officer e responsável pela Aquisição e receita de novos clientes na Portão 3, esta executiva é especializada em gestão de crise, crescimento e posicionamento de marca. Sua carreira inclui passagens por empresas como Zoop, Hurb (anteriormente conhecido como Hotel Urbano), Ancar Ivanhoe, HSBC, Bradesco e Losango. Além disso, ela também é habilidosa em fornecer treinamentos de media training para executivos de alto escalão, tendo trabalhado com a liderança sênior da Elgin. Seu amplo escopo de atuação abrange diversos setores, incluindo tecnologia, serviços financeiros B2C e B2B, e-commerce, turismo, indústria e varejo, demonstrando um conhecimento abrangente em projetos de comunicação integrada.

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O modelo de assinaturas já foi visto como o Santo Graal dos negócios digitais. Receita previsível, relacionamento contínuo com o cliente e escalabilidade formavam o tripé perfeito para empresas em busca de estabilidade. Mas nem tudo que reluz é ouro: se mal estruturado, o modelo de recorrência pode esconder uma taxa corrosiva de cancelamentos – o chamado churn silencioso -, que mina a base de clientes mês após mês, sem alarde.

Pessoa fazendo compra em um e-commerce de sapatos pelo notebook, segurando um cartão de crédito.
Imagem: Envato.

Dados da consultoria Churnkey mostram que a taxa média de cancelamento em modelos de assinatura varia entre 4% e 7% ao mês, dependendo do setor. Em áreas como o e-commerce de caixinhas (subscription boxes), o índice pode ultrapassar os 10%. A Subbly, plataforma internacional de gestão de assinaturas, estimou um churn médio de 7,4% em 2024, revelando que nem mesmo marcas experientes estão imunes à perda constante de assinantes. Na prática, uma taxa mensal de 5% pode significar perder metade da base em apenas um ano.

Entrega de valor contínuo

O que separa um modelo de assinatura saudável de um castelo de cartas é a entrega contínua de valor percebido. Empresas que oferecem apenas a conveniência do débito automático tendem a perder relevância com o tempo. Por outro lado, marcas que criam interações regulares, entregam conteúdos novos, promovem upgrades inteligentes e mantêm um diálogo transparente com o usuário conseguem reter até 85% da base no primeiro ano, segundo dados da Spring Fair. A lógica é simples: se o cliente sente que está ganhando algo de valor a cada renovação, ele não cancela – ele se engaja.

Outro ponto crítico é a fricção no cancelamento. O que especialistas chamam de “Roach Motel” – aquelas plataformas que facilitam a entrada, mas dificultam a saída – vem sendo combatido por legislações em países como o Reino Unido e pelos próprios consumidores. Tornar o cancelamento simples não significa perder clientes, mas demonstrar respeito. Paradoxalmente, empresas que permitem saídas rápidas tendem a gerar maior confiança, o que favorece a recompra futura. Dados da Recurly indicam que entre 0,8% e 1% do churn ocorre de forma involuntária, principalmente por falhas no pagamento, como cartões expirados, e pode ser revertido com ferramentas de atualização automática e alertas proativos.

Qualidade do relacionamento

No fundo, o sucesso de um modelo de assinatura não está na quantidade de cadastros iniciais, mas na qualidade da relação construída ao longo do tempo. Modelos bem-sucedidos tratam o assinante como alguém com quem se tem um compromisso de longo prazo, não como um número no relatório de receita mensal. Assinaturas são ouro, sim, mas só para quem entende que retenção exige presença, escuta e valor constante. O contrário é apenas uma armadilha sofisticada: o cliente permanece até não aguentar mais, e o negócio só percebe quando é tarde demais.