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A invasão do Mobile Commerce: Tendência ou Realidade?

Por: Gabriel Lima

CEO da Enext. Formado em Publicidade e Propaganda pela ESPM, com mestrado em Administração de Empresas pelo Insper. Entre os anos de 2017 e 2020, foi representante do Brasil na Unido e também é autor dos livros Comércio Eletrônico: Melhores Práticas do Mercado Brasileiro e Líderes Digitais.

Há muito tempo se fala da tendência do Mobile Commerce, e que o Mobile dominará o cenário da Internet e do Ecommerce cedo ou tarde. A realidade é que muito foi falado até então e pouco foi visto ou feito de verdade neste sentido. Por isso sempre que me deparo com alguma notícia alarmando Mobile sempre fico com um pé atrás. Dito isso, minha curiosidade foi desperta para este mundo, quando no final do ano de 2011 vi a notícia no Jornal Estado de São Paulo que Celulares e Tablets haviam sido um dos presentes mais dados no Natal do ano anterior. Resolvi, então, investigar um pouco deste universo e aqui vão minhas conclusões.

Primeiramente, procurei sobre a definição formal do que é Mobile Commerce, e encontrei o seguinte: Mobile Commerce é qualquer atividade conduzida através de uma rede sem fio de comunicação ou um aparelho móvel que leva a uma transação comercial. Bem, visto isto, um aumento por si só do volume de vendas de celulares ou mesmo tablets não levaria a uma maior participação das vendas através de aparelhos móveis no comércio eletronico. Precisaríamos de mais três fatores: Incremento das vendas de Smartphones, pois apenas Smartphones tem possibilidade de acessar a internet com um browser que garanta a qualidade do acesso, barateamento do custo de acesso via Mobile e melhora da conexão, para que realmente mais pessoas possam se conectar e finalmente sites adaptados para a navegação móvel em uma tela não maior do que 2 polegadas.

A primeira destas afirmações, diz que a venda de smartphones deveria ser maior, o que de fato aconteceu, segundo uma pesquisa do IDC divulgada pelo portal G1 da Globo, no ano de 2012 devem ser vendidos por volta de 16 milhões de celulares com alta capacidade de processamento, o que representa um incremento de 73% em relação ao ano de 2011. Isto significa que as pessoas tem a possibilidade real de acessar sites através da internet móvel com estes aparelhos, mas para isso elas precisam ter um acesso barato, rápido e confiável, o que leva a segunda das afirmações.

E mais uma vez parece que o mundo realmente esta conspirando a favor do Mobile, em uma matéria publicada pelo Portal de Tecnologia do UOL em Março de 2012, o valor médio para acesso ao celular pela internet atualmente varia de aproximadamente R$ 0,33 a 0,50 por dia, sendo que na maior parte dos casos os clientes só usam o que pagam. Além disso, as 4 principais operadoras oferecem velocidades de 1 Mbps, o que é mais que suficiente para o acesso a internet através de redes sem fio. Outro fator positivo e que geralmente não entra nestes cálculos é a difusão do acesso ao wi-fi gratuito, o que infelizmente não possui material a respeito.

Com isso, para que Mobile Commerce pudesse acontecer, bastaria que os varejistas virtuaisdesenvolvessem aplicativos para telas pequenas e adaptadas aos sistemas operacionais dominantes como o IOS e o Android, ou mesmo versões de seus sites adaptados para os browsers destes aparelhos. Para validar esta afirmativa, pesquisei nos 10 maiores sites de comércio eletrônico em volume de acessos, segundo o alexa.com, e acessei de meu smartphone cada um deles. De todos os 10, apenas a Netshoes oferecia uma boa navegação e um site realmente adaptado para o browser de meu celular.

Isto me deixou bastante desanimado, todos os indicadores apontando para o desenvolvimento do Mobile Commerce e os varejistas virtuais aparentemente sem nenhuma iniciativa de atender as necessidades de seus consumidores. Pendei então que isto poderia acontecer, pois, mesmo com o incremento no volume de Smartphones e o baratemaento e a melhora dos acessos as pessoas continuassem não acessando, e finalmente comprando através dos celulares. Resolvi então me voltar para a base de clientes da eNext, que desde sua fundação em 2008 desenvolveu mais de 50 projetos de comércio eletrônico e possui uma amostra significativa dos varejistas virtuais e busquei através do Google Analytics analisar o perfil dos acessos e de compra dos usuários através dos computadores e compará-la com o mesmo perfil através do Mobile e os resultados comprovaram minhas indagações. O crescimento da participação de aparelhos móveis no volume total de acessos que no ano de 2011 foi de 1,26% passou para 5,58% de Janeiro a Julho de 2012, um crescimento de 4,4 vezes! O mais surpreendente ainda estava por vir, os usuários que acessam os sites analisados através de celulares ou tablets compram mais que usuários que acessam através de PCs, e o crescimento foi ainda mais significativo, pois em 2011 eles representavam 1,54% e em 2012 passaram a representar 7,14% das compras totais destes varejistas, um aumento de 4,6x. Se levarmos em consideração que nenhum destes clientes analisados possui aplicativo ou mesmo uma versão para aparelhos com telas pequenas esse resultado é ainda mais impressionante.

Finalmente, se levarmos em consideração que o faturamento total no ano de 2012 esta projetado para R$ 24 bilhões, segundoprevisão da ACSP, podemos esperar que aproximadamente R$ 2 bilhões destas transações deverão acontecer através do Mobile Commerce, um numero que por si só já mostra que as compras através de aparelhos móveis não é mais uma Tendência e sim uma Realidade.