A necessidade é a mãe da invenção! Uma coisa que ficou bastante clara em todo o mundo com a pandemia da Covid-19 foi a grande importância que o setor de supply chain e a logística de modo geral desempenham em nosso mundo globalizado.
Embora ao falar de supply chain muitas pessoas ainda pensem em caminhões, armazéns, contêineres, aviões de carga e navios de contêineres, essas percepções estão mudando e com muita rapidez. O entendimento de que o setor de supply chain é a espinha dorsal e o pilar da economia, afetando a todos nós, tem se tornado um consenso geral nos tempos recentes.
Esse é um fato não apenas para os governos, mas também entre os investidores. A Nasdaq registrou um aumento de 32% de investidores em startups de logística em estágio inicial. É o maior crescimento de investimentos neste setor, perdendo apenas (e por pouco) para a área da saúde e de soluções de trabalho remoto — algo já esperado neste momento de crise sanitária e distanciamento social. Nos últimos meses vimos algumas mudanças muito interessantes impactando o setor de supply chain, desde a China até o resto do mundo. Vamos falar um pouco sobre isso e o que virá em seguida?
Veja a seguir lista com 10 fatos interessantes relacionados ao supply chain e à pandemia da Covid-19:
1 – Novos métodos de entrega estão sendo implementados
Mais pessoas estão comprando produtos e serviços online. Isso significa muito mais negócios de entrega na última milha. E, nesse sentido, duas iniciativas principais têm sido vistas em todo o mundo:
- A entrega sem contato está sendo implementada por muitas empresas e em muitos países da América Latina;
- Há um maior interesse por robôs de entrega autônomo.
2 – Companhias aéreas estão convertendo aeronaves de passageiros em aviões de carga
Como o frete aéreo está com uma demanda alta e o volume de passageiros caiu cerca de 95%, temos visto muitas companhias aéreas convertendo aeronaves de passageiros em aviões de carga. Temos, por exemplo, o caso recente de um avião privado da NFL New England que foi usado para o transporte de máscaras a fim de ajudar a superar restrições de capacidade do setor.
3 – Frete marítimo em baixo nível
90% dos produtos físicos são transportados por frete marítimo em todo o mundo. A movimentação do transporte de contêineres é um dos principais indicadores da estabilidade econômica mundial. Um critério essencial para medir isso é a capacidade global não utilizada (ou capacidade ociosa) desse tipo de transporte. E adivinhe só? A capacidade ociosa alcançou o nível recorde de 11% — equivalente a 2,5 milhões de TEUs —, segundo a empresa de análise marítima Alphaliner. O nível está um pouco mais alto do que o observado no auge da crise financeira de 2008 (11,7%).
4 – As compras de supermercado online estão explodindo
Antes da Covid-19, o nível de penetração das vendas de supermercado online em um mercado maduro era de cerca de 3% a 4%. Nas últimas semanas, temos visto uma explosão das compras de supermercado online — e podemos esperar que esse crescimento atinja um nível semelhante ao da penetração no varejo. Os downloads de aplicativos como Instacart e Walmart Grocery registraram aumento de 218% e 160%, respectivamente.
Em países como México, estima-se que a Covid-19 deva acelerar a adoção do comércio eletrônico em dois anos.
5 – Transformação do varejo
De acordo com a Statista, as vendas de comércio eletrônico no Brasil aumentaram 40% em março, após o aumento da pandemia no principal mercado de comércio eletrônico da América Latina.
Com todas as lojas físicas fechadas, as marcas que vendem em múltiplos canais viram o online se tornar uma prioridade fundamental, já que passou a ser a única maneira de vender neste momento. Temos visto um enorme impacto nas vendas de varejo na América Latina e também no resto do mundo, com algumas categorias de produtos crescendo 300% em países como Argentina e Brasil.
6 – Empresas aderindo à uma onda de solidariedade
Muitas empresas transformaram seu Supply Chain para dar suporte em meio à essa crise. Empresas como Dyson, Michelin, GAP, Nike, Lego, Mattel, BMW, LVMH, L’Óreal e Bacardi, por exemplo, converteram suas operações para produzir suprimentos médicos e hospitalares.
A Tesla cedeu gratuitamente sua rede logística para auxiliar na entrega de respiradores aos hospitais. A Zara ofereceu sua rede de Supply Chain ao governo espanhol para ajudar durante a crise.
Empresas de comércio eletrônico, como o MercadoLivre, anunciaram que renunciariam às taxas de administração para vendedores de produtos de primeira necessidade. Muitas organizações de grande porte estão contribuindo!
Então, a questão principal é… O que virá em seguida?
7 – Aceleração da inovação
A automação, a mecanização e a inovação que facilitarão as atividades logísticas com o mínimo de interação humana ganharão um forte impulso nesse momento. Soluções como a implementação e a regulamentação de drones e robôs evoluirão mais rapidamente para se tornarem uma realidade no universo logístico. Essa pandemia acelerou o processo de “testes” de robôs e drones no ambiente público. Isso porque as autoridades buscam os meios mais rápidos e seguros de limitar a contaminação e a propagação do vírus.
A Rappi, por exemplo, anunciou um projeto piloto de robôs de entrega autônomos em cooperação com a KiwiBot, na Colômbia.
A Meituan Dianping, um aplicativo de entrega da China, aumentou suas opções de “entrega sem contato” por meio de veículos e robôs autônomos. A start-up com sede em Shenzhen, Pudu, implementou a entrega de medicamentos e refeições a domicílio por meio de robôs.
O serviço de entrega de alimentos Ele.me usou robôs para entregar refeições a indivíduos suspeitos de ter o vírus, mantidos de quarentena em um hotel.
A empresa japonesa Terra Drone transportou suprimentos médicos e hospitalares (dentre outros) com segurança do Centro de Controle de Doenças do condado de Xinchang até o Hospital Popular do condado, sem expor as pessoas à infecção.
O uso de drones acelera o transporte em 50% em comparação com o transporte rodoviário, de acordo com relatórios da GPS World. Além da velocidade superior, não expõe a riscos os condutores humanos nas entregas.
8 – A transformação do varejo e a crescente importância do setor de supply chain na sala da diretoria
A revolução do varejo será impulsionada ainda mais e as vendas online ganharão importância significativa na sala de diretoria. O Mapa de Calor da Covid-19, da Moody, apontou os três setores que mais “ganharão” com essa crise: empresas de serviços de internet, o varejo online e a mineração de ouro. Os varejos online e o online experimental irão se tornar o principal canal de varejo nos próximos cinco anos.
Todos os grandes varejistas do México, Brasil, Colômbia, Argentina e todos os outros mercados precisarão se concentrar nessa transformação. E, consequentemente, criar supply chains e organizações capazes de fornecer suporte para esse crescimento.
Os departamentos de supply chain geralmente prestam contas ao departamento de manufatura ou de operações. No entanto, após essa crise, podemos esperar mudanças nas grandes organizações. Isso porque o supply chain passará a ser uma área essencial para muitas empresas permanecerem relevantes e competitivas — e para que algumas simplesmente sobrevivam.
9 – Aceleração de comércio eletrônico
Comércio eletrônico, comércio eletrônico, comércio eletrônico! Ele crescerá mais rapidamente do que nunca devido à situação da Covid-19. Podemos esperar um crescimento contínuo em algumas categorias (as duas que mais se beneficiarão serão as de produtos de supermercado e produtos farmacêuticos).
O MercadoLivre anunciou 1,7 milhão de novos compradores online apenas no último mês na América Latina — todos estão ingressando no universo online.
10 – Amazon ganhando força
A Amazon sairá dessa crise mais forte do que nunca. Ela anunciou que terá contratado 175.000 pessoas até o fim da crise. Pode-se esperar que os melhores dias da empresa ainda estejam por vir. Basta olhar para a movimentação das ações com aumento recorde! Ficou claro que esta crise permitirá a ampliação e o domínio da empresa no e-commerce mundial.
O que não acontecerá
Uma coisa que muitas pessoas estão falando é sobre a regionalização do setor de supply chain — ou o que alguns descrevem como “nearshoring”. Depois do tsunami no Japão, muitas pessoas também falaram sobre isso e, na prática, nunca aconteceu. Por quê?
Um aspecto crítico do supply chain em larga escala se baseia em três aspectos: talento, capacidade de produção e infraestrutura. A China, por exemplo, investiu pesadamente (como nenhum outro país) nos últimos 20 anos nessas três categorias.
Para se ter uma dimensão disso, os gastos médios com infraestrutura na China são de 8,3% do PIB. Comparativamente, os EUA gastam cerca de 2,3% do PIB com infraestrutura.
A China construiu uma potência de fabricação altamente competitiva. Isso exigirá que qualquer país ou região invista por anos antes que possa realmente competir em grande escala — estou ciente de que algumas empresas já migraram suas produções para fora da China, mas são exceções.
A “coopetição” chegou para ficar e se faz ainda mais presente em tempos de crise. Nas últimas duas semanas, vimos algumas parcerias inacreditáveis de concorrentes históricos. Em maio, Apple e Google anunciaram parceria inesperada para criar uma tecnologia de rastreamento do coronavírus para iOS e Android — particularmente, pensei que nunca veria esses logotipos lado a lado.
Há pouco tempo, Sanofi e GSK uniram forças em uma colaboração sem precedentes na busca de uma vacina para combater a Covid-19.
Acredito que ainda veremos outras ações de cooperação entre setores e players de grande porte que concorrem no universo da logística, assim como uma maior consolidação da indústria como um todo.
Talvez também tenhamos algumas grandes parcerias nas principais economias da América Latina. Isso porque as empresas precisarão se ajustar às novas expectativas do consumidor na era após a Covid-19. Afinal de contas, estamos vivendo um dos momentos mais relevantes da história para o setor de logística e supply chain. Fiquem ligados!