No segundo trimestre de 2023, segundo o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (IODE-PMEs), a movimentação financeira real média das pequenas e médias empresas brasileiras registrou expansão de 3,1%. O número refere-se a uma comparação anual, após +2,5% no primeiro trimestre. No acumulado do primeiro semestre do ano, o índice revela crescimento de 2,8% frente ao mesmo período do ano anterior.
Suporte ao mercado de PMEs
Nos últimos meses, o mercado de PMEs mostra continuidade da tendência de crescimento, ainda que com importantes diferenças de desempenho entre os grandes setores da economia. Apesar da manutenção das taxas de juros em níveis historicamente elevados, existem alguns elementos importantes que fornecem suporte ao mercado de PMEs, como:
– a resiliência observada no mercado de trabalho (com desemprego novamente abaixo do patamar de 8,5% e rendimento médio em níveis mais elevados frente ao ano anterior);
– a desaceleração da inflação;
– e os efeitos dos estímulos fiscais (tais como o reajuste do salário mínimo e a antecipação do décimo terceiro para aposentados e pensionistas do INSS).
Para Felipe Beraldi, economista e gerente de Indicadores e Estudos Econômicos da Omie, há uma manutenção do crescimento em meio a projeções prévias bem mais pessimistas. “Neste sentido, as perspectivas de mercado para o PIB brasileiro em 2023 têm subido sistematicamente no último mês, com a mediana de mercado (monitorada pelo Boletim Focus do BCB) apontando atualmente para uma expansão de 2,2% ante 2022”.
Consumidores estão mais confiantes
Diante deste contexto relativamente mais positivo, a confiança dos consumidores tem mostrado significativo avanço no decorrer dos últimos meses. Por consequência, isto se configura como um importante condicionante à evolução do consumo no curto prazo. O índice de confiança do consumidor da FGV (ICC-FGV) avançou 4,1 pontos em junho, alcançando o patamar mais elevado desde fevereiro de 2019. Reflete, por exemplo, na melhora da percepção da situação atual e de expectativas mais positivas dos consumidores para os próximos meses.
Nos recortes setoriais, o IODE-PMEs mostra que o crescimento das PMEs no segundo trimestre de 2023 foi condicionado pelo avanço da movimentação financeira real na Indústria (+4,0% ante o segundo trimestre de 2022) e em Serviços (+1,3%).
Recuperação das PMEs do setor Industrial e de Serviços
As PMEs do setor industrial mostraram recuperação nos últimos meses, após retrações observadas entre o final de 2022 e o início deste ano. O resultado foi puxado por alguns segmentos da indústria de transformação, tais como:
– fabricação de móveis;
– fabricação de autopeças e implementos rodoviários;
– e impressão e reprodução de gravações.
Apesar da menor contribuição de atividades relacionadas à indústria extrativa, observou-se no período bom desempenho da Extração de minerais não metálicos. O setor de Serviços, por sua vez, também manteve ritmo de expansão nos últimos meses, após avançar também no primeiro trimestre (+1,4% YoY).
Recuo do Comércio e Infraestrutura
Em contrapartida ao crescimento das PMEs da Indústria e de Serviços, o estudo mostra um recuo da movimentação financeira real média das PMEs do Comércio (-3,0% ante o segundo trimestre de 2022) e de Infraestrutura (-5,7%).
No Comércio, a queda foi disseminada entre os grandes segmentos, com retração no atacado (-2,1% YoY) e no segmento varejista (-6,0%). No varejo, o fraco resultado dos últimos meses foi puxado pela retração das PMEs de segmentos como Livrarias, Madeira e artefatos e Calçados. Por outro lado, a evolução positiva do comércio varejista de produtos alimentícios em geral restringiu queda ainda mais abrupta do setor nos últimos meses.
IODE-PMEs por região
O crescimento no mercado de PMEs no segundo trimestre regionalizado foi sustentado especialmente pelo avanço dos negócios nas regiões Sudeste (+6,7% ante o segundo trimestre de 2022) e Sul (+8,1%). Ainda assim, verificou-se um crescimento — ainda que em menor medida — das PMEs do Centro-Oeste e do Norte (+2,0% em média). Por outro lado, houve modesta retração da movimentação financeira real média das PMEs na região Nordeste (-0,4%).
PMEs devem manter ritmo de crescimento no curto prazo
Como ocorreu no primeiro trimestre do ano, novamente o IODE-PMEs confirma certa resiliência da atividade econômica doméstica (em meio a um contexto de juros em níveis historicamente elevados).
Por conta do resultado acima do esperado nos últimos meses, o desempenho econômico das PMEs deve fechar 2023 com crescimento de 3,2% ante 2022. No acumulado do ano até junho, o indicador já apresenta crescimento de 2,8% frente ao mesmo período do ano anterior. Ainda que se mantenham desafios pela frente — sobretudo relacionados ao elevado índice de famílias endividadas no país —, a perspectiva de crescimento mais robusto da economia brasileira no ano e o avanço da renda devem sustentar o avanço dos negócios em diversas atividades do setor de PMEs.
Para 2024, o IODE-PMEs projeta crescimento adicional de 2,4% ante 2023, com potencial de manutenção do crescimento das PMEs industriais e recuperação do setor varejista. A previsão reflete a expectativa de certa desaceleração da atividade econômica, com contribuição mais contida do mercado de trabalho sobre a evolução da renda das famílias.