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Quem sabe faz ao vivo! Livecommerce dá seus primeiros passos no Brasil

Por: Redação E-Commerce Brasil

Equipe de jornalismo E-Commerce Brasil

O isolamento social adotado para conter os avanços da pandemia de coronavírus impossibilitou as formas mais tradicionais de vendas. De acordo com uma pesquisa online do Google com 700 empreendedores brasileiros no mês de maio, 42% dos respondentes afirmaram ter sofrido um grau severo de impacto com a pandemia, com queda de faturamento de, no mínimo, 50%. Diante de estabelecimentos fechados, grandes nomes do varejo viram nas transmissões ao vivo a possibilidade de manter as vendas, com o chamado livecommerce. O modelo – consolidado na China e tendência do varejo no mundo todo -, é uma estratégia de divulgação online que une o streaming e o e-commerce. 

Pesquisa do Google realizada com mil consumidores online, entre 5 e 7 de junho, mostra que o brasileiro está aberto a um comércio digital mais interativo. No total, 20% dos entrevistados disseram já ter usado algum mecanismo de venda online interativa, enquanto outros 26% afirmaram que conhecem o formato, mas nunca usaram, e 27% atestaram não conhecer o livecommerce, mas que há interesse em experimentar esse tipo de interação.

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Para In Hsieh, ainda não praticamos o livecommerce em sua totalidade no Brasil, mas há potencial de crescimento no formato por aqui. “No Brasil, não temos social commerce, que permite a interação das pessoas entre si e com as empresas. Ainda estamos na fase intermediária no Brasil, mas as coisas estão mudando”. O executivo é cofundador da Chinnovation e Marco Polo – iniciativas de negócios e investimentos entre Brasil e China -, e ex-head de e-commerce da Xiaomi na América Latina. Confira a entrevista completa com o especialista a seguir:

E-Commerce Brasil: O que é livecommerce?

In Hsieh: O livecommerce é o formato de venda que junta transmissão em vídeo ao vivo com o e-commerce e social commerce, dentro de um mesmo ambiente interativo. O livecommerce começou em meados de 2015 na China, já está consolidado e deve crescer ainda mais com a pandemia. Ano passado, quase 10% do e-commerce aconteceram via livecommerce no país. Ainda não há números, mas a previsão é de que o percentual dobre neste ano. Se o livecommerce chinês fosse um país, teria cinco vezes o volume do e-commerce brasileiro em 2019.

No Brasil, grandes varejistas já fazem o livecommerce, mas a modalidade ainda não é realizada de forma completa porque não temos social commerce. Ela permite a interação das pessoas entre si e com as empresas, e isso aumenta o engajamento e as transações.

E-Commerce Brasil: Por que o livecommerce brasileiro ainda não é realizado de forma completa?

In Hsieh: A ideia dolivecommerce é a transmissão ao vivo com interação e compra dentro do mesmo ambiente, seja um aplicativo ou plataforma. Na China, é bastante utilizado o app Douyin, por exemplo, pois ele tem todas as funcionalidades do livecommerce, mas ainda não está disponível no ocidente. Quando o usuário entra no app para assistir às transmissões, ele pode interagir no chat, tirar dúvidas com o vendedor, comentar e comprar produtos dentro do app. O que acontece no Brasil é que as pessoas podem assistir a vídeos no Instagram ou no YouTube, mas precisam finalizar a compra em outra plataforma. Ainda estamos na fase intermediária no Brasil, mas as coisas estão mudando.

E-Commerce Brasil: Utilizar livecommerce é mais vantajoso do que outras estratégias de marketing?

In Hsieh: O livecommerce tem potencial de representar metade das vendas porque se aproxima -e muito – da experiência física de compra, pois é alguém do outro lado que pode tirar dúvidas sobre cores, tamanhos etc., o que aumenta a conversão nas vendas. E é interessante ver outras pessoas comprando, porque motiva outros consumidores. Não é uma foto ou texto, mas mecanismos que engajam a comprar mais. 

E-Commerce Brasil: No que o livecommerce brasileiro se diferencia do modelo chinês?

In Hsieh: O e-commerce chinês não é só ligado ao varejo, mas principalmente à tecnologia, o que possibilita a experimentação. O mercado de e-commerce tem outros formatos. Aqui no ocidente,  ele é mais estático com modelos de negócios tradicionais. Já os chineses tentam várias modalidades, ao mesmo tempo que o mercado de streaming cresce muito rápido, com as plataformas começando a monetizar o modelo de assinatura virtual. 

No Brasil, as poucas lives realizadas são musicais. Por aqui, o livecommerce nasceu com as lives musicais. Na China, há formatos desde hard sell, com vendedores sentados na mesa mostrando os produtos, grandes marcas de luxo vendendo carros em vídeos sofisticados, e até foguetes. Vende-se praticamente tudo. Nesse meio, o limite é a criatividade. Claro que, no caso de compra de carros, não precisa pagar o valor integral do produto, mas pelo menos um depósito para mostrar o comprometimento do usuário.

E-Commerce Brasil: O livecommerce como tendência chegou para ficar?

In Hsieh: A pandemia foi fundamental para a difusão do livecommerce. O formato tem um ponto de saturação, mas não se sabe qual é. No sudeste asiático, ele é bastante presente por influência da China, mas outros países também começaram a adotar, cada um à sua maneira.

E-Commerce Brasil: Quais as principais vantagens e desvantagens de se vender ao vivo?

In Hsieh: Montar um livecommerce é rápido: não precisa tirar foto, é só fazer a live. Muita gente com conta no Instagram começa a fazer lives, mas o ideal é utilizar uma plataforma específica para isso. Mas é necessário seguir os mesmos processos do e-commerce para fechar a venda, como uma boa plataforma de pagamento, separar os produtos, enviar etc. Em contrapartida, a principal desvantagem do livecommerce é o fato de ser ao vivo. Pode acontecer qualquer coisa, como o apresentador  vender muito além do estoque.

E-Commerce Brasil: A venda ao vivo pode ser benéfica para o varejo físico também? No que ela pode ajudar no omnichannel?

In Hsieh: Sem dúvida. Na China, muitas vezes, o local de realização do livecommerce é a loja física. É interessante, pois isso integra ainda mais as operações, sem exclusão, e aumenta o fluxo na loja. O livecommerce é a plataforma de vendas, mas todo o resto é igual ao jeito habitual de vender online. 

E-Commerce Brasil: Quais são os principais cuidados na hora de fazer um livecommerce?

In Hsieh: É necessário atenção na precificação correta, na qualidade do produto e na credibilidade de quem está vendendo. O apresentador precisa estar alinhado à marca e ao produto para falar com propriedade. Também é importante se atentar aos detalhes, como bons equipamentos, cenário, qualidade de transmissão e um ótimo pós-venda. Além disso, é importante pensar em um formato que faça sentido para a audiência e cuidado com o engajamento. Não adianta ter chat aberto se o apresentador não interagir com as pessoas, pois pode parecer um vídeo gravado, dando a impressão de que o cliente está falando sozinho.

Por Dinalva Fernandes, da Redação E-Commerce Brasil