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Fundador da CERC discute o impacto das novas regras e as perspectivas de tokenização de recebíveis

Por: Redação E-Commerce Brasil

Equipe de jornalismo E-Commerce Brasil

Qual é o ativo mais abundante da economia brasileira? Acertou quem respondeu “recebíveis”, isto é, a soma de todas as vendas à prazo, cujas parcelas ainda não foram pagas, especialmente no cartão de crédito. “Esse valor é muito maior que o mercado de ações, títulos de renda fixa ou qualquer outro ativo econômico do Brasil”, explicou Fernando Fontes, CEO e fundador da CERC, em sua palestra na 14ª edição do Fórum E-commerce Brasil.

Imagem de palestrante e apresentador sobre o palco do Fórum E-Commerce Brasil 2023
De acordo com Fernando Fontes, o Banco Central está envolvido na criação e regulação de um ecossistema de criptoativos e ativos tokenizados, que permitirá manusear ativos digitais com validade jurídica / Foto: André Rosa

Apesar do volume, existe a percepção de que empresários que recorrem à busca por crédito ou antecipação dos recebíveis esbarram na falta de confiança dos credores. “Os financiadores desconfiavam, por décadas, de que esses recebíveis pudessem ter algum risco. Sempre houve dificuldade de saber se esse recebível realmente existe, principalmente num contexto não presencial, ou se esse recebível já foi usado ou não como garantia em outro contrato”, explicou.

Esse contexto culminou com uma grande agenda regulatória do Banco Central, que começou em 2019 e vem aprimorando leis e nas normas envolvendo recebíveis, ampliando a oferta de crédito. Entre as normas, associadas ao movimento de Open Finance, há uma estrutura de governança e interoperabilidade entre os sistemas de registros centralizados — como é o caso da CERC.

“Os estabelecimentos comerciais não precisam mais antecipar seus recebíveis apenas a partir da maquininha que registrou a transação ou por meio do marketplace que fez a venda. Ele pode usá-los para obter crédito bancário, dar como garantia a um fornecedor ou transferir como pagamento”. Fontes lembrou, inclusive, que alterações na regulação podem representar novas oportunidades de negócio. “Existem fintechs que oferecem modelos de negócio construídos em cima dessa dinâmica”.

Varejo sempre dependeu de crédito

Antes de se debruçar sobre regulação, Fontes trouxe à plateia uma robusta contextualização sobre a relação entre o varejo e os recebíveis. Empresas como a CERC, um negócio tecnológico que registra informações de 32 milhões de estabelecimentos comerciais, são inspiradas no modelo de transformação do mercado de ações.

“Nos últimos quarenta anos, saiu de um contexto baseado em papel, movimentação de ativos físicos, dependência por cofre. Hoje permite que milhares de empresas possam abrir capital em um ambiente totalmente digital”, lembrou, antes de traçar uma linha do tempo que remete ao carnê dos grandes magazines.

“Por anos o varejo financiou o consumo desde os tempos do crediário, oferecido pelas próprias lojas, passando pelo cheque pré-datado. Recentemente, o cartão de crédito se tornou o principal meio de pagamento do brasileiro”. Essa dinâmica explica por que há necessidade de crédito no varejo no Brasil.

Tokenização: Brasil está à frente do mundo

Da forma como está, as regras envolvendo informação de recebíveis já conseguem reduzir a assimetria dos dados, riscos de duplicidade e, por consequência, parte dos riscos. “Os bancos estão competindo mais, as operações com recebíveis aumentou e o spread caiu nos últimos dois anos. Nossa perspectiva é que o impacto será ainda maior quando isso englobar duplicatas”, previu.

Num futuro próximo, o impacto será ainda mais forte. Isso porque o Banco Central está envolvido na criação e regulação de um ecossistema de criptoativos e ativos tokenizados, onde será possível manusear ativos digitais com validade jurídica. Isso inclui a criação do chamado “Real digital”, que já está em fase de testes.

E o que dá para fazer com isso? “Imagine que suas contas a receber ainda estão aprisionadas em sistemas legados de outras empresas. Mas, ao tokenizá-los, ele se torna um ativo na sua carteira digital. Nela você poderá armazenar todo tipo de ativo digital, como um recebível tokenizado. O nível de circulação de um recebível será o mesmo de qualquer outro ativo financeiro”.

“Vai dar para fazer as mesmas coisas que se fazem com título público, uma ação… Dá para facilmente transferir isso para alguém. Hoje você não consegue, por exemplo, transferir uma duplicata”, finalizou Fontes. Em sua visão, “estamos num horizonte de dois a três anos para que isso seja possível”.

Esse texto foi escrito por André Rosa, em cobertura especial para o Fórum E-Commerce Brasil 2023.