Faltando 22 dias para os Jogos, a cidade começa a sentir os efeitos colaterais de sediar a Olimpíada. Com a entrada em vigor do decreto 41.867 que, entre outras medidas, restringe a circulação de caminhões e veículos pesados em algumas das principais vias do Rio, do próximo dia 19 até 19 de setembro, empresas que trabalham com entrega de produtos terão que alterar radicalmente suas operações. A Federação de Transporte de Cargas do Rio (Fetranscarga) afirma que, só na cidade, cerca de 3 mil empresas deverão ter seus serviços fortemente impactados com a entrada em vigor da medida, que influenciará desde mudanças até entregas de eletrônicos e eletrodomésticos.
Lojistas preocupados
Diretor da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio), Jorge Luiz das Neves Morais afirma que os lojistas estão preocupados e que, com certeza, haverá uma repercussão. Ele disse esperar que “a prefeitura, que sempre se mostrou aberta para conversar, esteja sensível para fazer ajustes até chegar a um modelo que não comprometa a operação”.
Na área de maior restrição, no Centro e na Zona Sul, por exemplo, estarão proibidos o serviço de carga e descarga das 6h às 21h, nos dias úteis, e sábados até as 14h. Há exceção para Veículo Urbano de Carga (VUC) — com largura máxima de 2,70 metros e comprimento máximo de 7,20 metros, que poderá circular das 11h às 17h.
Diante das restrições, os Correios, por exemplo, decidiram suspender os serviços Sedex 10, Sedex 12 e Sedex Hoje — o Sedex convencional não será suspenso — em todo o Brasil para entrega na região metropolitana do Rio de Janeiro, assim como da região metropolitana do Rio para qualquer outro destino. Além da interrupção de alguns serviços, a empresa vai estender os prazos das demais entregas, pois alega que serão prejudicados pelas diversas interdições viárias.
Os serviços expressos — como Sedex, malote e remessa expressa — terão dois dias úteis acrescidos aos respectivos prazos padrão. Os serviços não expressos — encomenda PAC, remessa econômica e carta registrada — contarão com três dias úteis de acréscimo. Apesar dos prazos maiores do que os normais, a estatal afirmou que não haverá desconto nas tarifas.
“Cada uma das empresas ou profissionais que trabalham com entrega terão que se adequar a sua maneira para uma operação completamente diferente. Não dá para continuar com operação normal de entrega, pois além de ruas bloqueadas, há também a preocupação, por parte do comitê organizador, com a segurança”, diz Eduardo Reduzzi, presidente da Federação de Transporte de Cargas do Rio.
De acordo com Reduzzi, há um ano começaram as negociações entre a Empresa Olímpica Municipal (EOM) e a Fetranscarga. Desde então, iniciou-se um processo para chegar a um modelo que não colocasse em risco a mobilidade da Olimpíada e o abastecimento e entrega de produtos.
“No início, a ideia era restringir quase totalmente o serviço de carga e descarga, mas, para a nossa sorte, a prefeitura sempre esteve aberta à negociação. A gente sabe que muita gente teve que mudar os planos, mas com um bom planejamento, será possível passar por esse período”, acredita.
Quem teve que se ajustar, no entanto, reclama. É o caso do gerente Thiago Souza, que trabalha na empresa de entrega Nova Alfort, com sede em Benfica. Ele conta que muitos clientes não entendem as restrições e estão cancelando entregas. Além disso, os próprios funcionários não querem mudar o horário de trabalho.
“O Rio tem um problema grave na segurança. Já é difícil fazer entregas à luz do dia, o que dirá de madrugada. No meu caso, vou ter que pagar adicional noturno e pedir aos meus funcionários que trabalhem no período. Outro problema é que quem vai receber a mercadoria também precisa estar na loja fora do horário comercial. Vai ser um período conturbado”, explica Souza.
Procuradas, outras empresas, tanto de logística quanto de comércio online que trabalham com entregas via terceiros, não quiseram comentar o assunto.
Procura por moto
A empresa de entregas Transmoto, apesar de trabalhar com entregas por caminhonetes, decidiu priorizar, segundo o diretor comercial Marcio Barroso, a frota de motocicletas para dar conta da demanda durante o período, que já aumentou em 35%.
“A gente faz entregas de carro, mas, como a demanda já aumentou, decidimos adiar as férias e folgas para depois dos Jogos”, diz Barroso.
Para o diretor de operações da CET-Rio, Joaquim Dinis, a antecipação de sete dias do bloqueio de cargas e descargas em relação à chegada das delegações estrangeiras ao Rio serve para alinhar toda a operação e evitar que haja problemas.
A família olímpica começa a chegar ao Rio no dia 24. A gente precisa de um tempo de adaptação até para identificar mais pontos de bloqueios que serão necessários para a operação ser ajustada ou não.
Confira aqui os locais (por CEP): CEPs-Correios_RIO_2106-Olimpíadas (1)
Fonte: O Globo