Conhecendo a sede de uma empresa, fui apresentado à “sala de descompressão”. Demonstrei interesse – e realmente estava entretido naquele jogo de cores. Sofás, almofadas, TV, mesa de pingue-pongue e nenhuma alma viva. Na verdade, a única que vagava por lá estava mergulhada num notebook, afogada em algumas planilhas.
A sala era realmente bacana, mas o que me chamou a atenção mesmo foi o nome. Sala de descompressão. Um espaço para aliviar o stress da labuta diária. Pressupõe-se que, muito provavelmente, seu emprego vai te gerar uma pressão suficiente para você se jogar numa câmara isobárica e só sair de lá com as caraminholas funcionado para gerar mais e mais resultados para a empresa.
Na prática, o que acontece pela tangente são olhares que desencorajam um joguinho maroto de tênis de mesa durante o expediente ou qualquer outra atividade. A não ser, e olhe lá, se a expressão de cansaço for visível para todo o time, demonstrando longas horas num campo de guerra.
Não quero defender aqui o ócio permanente, muito menos ir contra o esforço coletivo na busca de algo. Minha intenção é apenas entender qual a real função de toda essa parafernália se, na prática, a empresa não dedica real preocupação com todos os envolvidos naquela ciranda.
Parece-me um jogo em que a ordem é se matar por algo, quase um haraquiri coletivo. Mas, no final, a honra fica toda com os donos da empresa, os corpos são festejados com um happy hour e está tudo certo.
O Brasil é campeão mundial no índice de ansiedade e líder em depressão na América Latina. Essas vitórias, com poucos louros, traduzem o cotidiano de um bocado de gente imersa em assédio, competição e busca por números que interessam a tão poucos. Conquistas que, por fim, estão ali para alimentar o ego de alguns.
Gasto fosfato e os dedos nesta escrita para questionar o sentido desse dia a dia frenético por algo sem verdade, tanto nas relações profissionais quanto no próprio existir das empresas. Nos últimos tempos, temos vivido intensamente a questão existencial da Chico Rei, criando perguntas que precisam gerar respostas honestas e transparentes do time inteiro, sem exceção.
Debaixo de chuva, suor (e cerveja), estamos construindo uma empresa onde podemos acreditar nos valores e na importância das relações. Pontes reais entre a gente, os clientes e a comunidade, num pensar coletivo. E fazemos isso com a marca na pele de quem já passou por maus bocados. Pagamos caro por tentar vender há um tempo aquilo que não éramos de verdade, comercializando produtos cheios de felicidade, quando na prática vivíamos uma rotina de stress e tensões.
Esse processo tem sido fundamental para construir pessoas melhores, uma empresa mais consistente e vendas de tirar o chapéu. Não desassociamos o cuidar de pessoas dos resultados financeiros. Pelo contrário, entendemos que investir em gente – seja dentro de nossa casa, os que consomem os nossos produtos e a sociedade à nossa volta – gera grana, que amplia esse círculo de construção consciente.
Se o motivo da empresa é simplesmente o de gerar riqueza para alguns, embora ache isso muito pouco, que o faça. Mas que seja verdadeiro no discurso entre aqueles que constroem aquilo cotidianamente, que embarcam num sonho que por fim pertence a tão poucos. Porque, na prática, o mundo do marketing e o viver das empresas se tornaram um grande conto, com poucas verdades, muita criatividade na fala e pouca ação.
Para começar um processo de relações genuínas, sugiro dedicar tempo para um bom papo, com liberdade e reais interesses dos líderes em relação aos liderados. Que estejam dispostos a entender as dores e os sabores de seu time. Gente com gana gera resultados. Resultados devem falar sobre pessoas, elas dedicam um tempo gigante para que tudo isso aconteça.
Bora criar espaços para um tanto de gente fazer história?
Artigo publicado, originalmente, na Revista E-Commerce Brasil
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