Para muitas empresas que ainda se permitiam engatinhar no digital a pandemia está sendo uma virada de chave para se adaptar e manter-se competitivo, ou sair ainda mais prejudicado da crise. Nos setores que trabalham diretamente com alimentos e consumidores, essa mudança é ainda mais impactante. Primeiro devido a todas as mudanças nos hábitos alimentares e formas de conseguir comida. Segundo, pela baixa presença digital da maioria das empresas.
Somados, esses dois pontos acabam exigindo ainda mais das indústrias alimentícias, supermercados, varejos, restaurantes e fast foods em aderir às transformações digitais — muito mais que em outros setores.
É preciso se adaptar à cada dia no cenário que estamos, e estar sempre atento e preparado para mudanças. Por isso todos os dias surgem novas ideias, campanhas e estratégias por parte das empresas que tratam diretamente com alimentos.
Mudanças de hábitos durante a quarentena
Estudos feitos pelo E-commerce Brasil e pela Opinion Box logo após o início da pandemia já mostraram mudanças gritantes nos hábitos da população. Olhando diretamente para a alimentação as pesquisas apontaram aumentos de:
- 50% nos gastos com comida;
- 33% no número de pessoas que passaram a cozinhar;
- 26% nos pedidos de delivery;
- 25% novos usuários em supermercados online.
Além disso, essas pesquisas também revelam a tendência desses números continuarem altos, mesmo no pós-pandemia.
Outros dados interessantes de serem analisados são os de aumento no uso da internet. Entre os entrevistados de uma pesquisa feita pelo E-commerce Brasil, 53% estão utilizando mais internet e 60% estão passando mais tempo nas redes sociais.
Oportunidades em comunicação e conteúdo
Olhando os dados acima fica fácil justificar, por exemplo, o canal de receitas da UOL ter tido um crescimento de 230% de audiência comparando os meses de junho e março, segundo o portal UOL Tab.
Outro exemplo é o crescimento da página no YouTube do programa MasterChef. Ela ganhou 129 mil novos seguidores durante a pandemia, com crescimento de 51% nas visualizações, segundo a Endemol Shine Brasil.
As oportunidades em conteúdos relacionados à alimentação tem crescido de forma acelerada. Entretanto, poucas são as marcas que aproveitam essas oportunidades de forma efetiva, sejam das indústrias alimentícias, dos varejos ou dos fast foods. Essa estratégia de conteúdo visa aumentar o tráfego orgânico do site e das redes sociais, além de aumentar a conexão com o consumidor.
Por isso, além da comunicação padrão feita pelas empresas, utilizar conteúdos relevantes que realmente engajem o consumidor — como os de “receitas”, “nutrição”, “práticas higiênicas”, por meio de canais digitais como um blog, o Instagram ou YouTube — está se tornando uma estratégia essencial em um mundo que está cada vez mais digital.
Tendências do mercado e oportunidades de negócios
Além da forma de se comunicar, notamos outras tendências estratégicas que acompanham as novas necessidades do consumidor e estão sendo impulsionadas pela pandemia.
Nos varejos (supermercados, hipermercados etc.), as atuais movimentações são a digitalização das compras por meio de um e-commerce ou aplicativo. Poucas eram as empresas que ofereciam compras online, e raramente as estratégias para as vendas online tinham um grande foco e eram feitas de forma atrativa. A atual necessidade e os novos hábitos dos consumidores têm feito a maioria das marcas repensarem suas estratégias.
Nas indústrias de bens de consumo também vemos uma movimentação das grandes marcas ocorrer há alguns anos na implementação de vendas online. Seja na implementação de e-commerce B2B, como a feita pela Unilever com o site compraunilever.com.br, focado em pequenos negócios. Seja no B2C, como as da Nestlé e Bauducco, que abrem sazonalmente no período de Páscoa e Natal.
Os fast foods possuem um desafio diferente, voltado para o delivery. O controle do mercado de deliverys passou nos últimos anos para as mãos de aplicativos como Uber Eats, Rappi e Ifood. E, agora com as mudanças de hábitos dos consumidores, os fast foods ficaram reféns dos aplicativos de entrega — muito por não terem uma estrutura definida de delivery. Além das perdas financeiras, também ocorre a perda de dados para estruturar uma boa estratégia. Possuir um aplicativo próprio que forneça a oportunidade ao consumidor de fazer pedidos por meio dele, é algo que deve ser implementado pelas grandes redes ainda nos próximos meses, como uma das formas de minimizar essas perdas.
Essas são algumas das principais movimentações e preocupações que tenho visto nesses últimos meses de empresas desses setores.
Ninguém poderia prever a chegada de uma pandemia. Mas a falta de digitalização é um erro que tem acontecido há muito tempo por muitas empresas. É momento de aproveitar essa onda digital.