Embora o e-commerce esteja em um momento de crescimento formidável, a estrutura logística no Brasil não conseguiu evoluir no mesmo ritmo: as entregas continuam sendo realizadas da mesma forma como eram antes da pandemia. Novos canais de distribuição estão surgindo, no intuito de pulverizar os tipos de entrega e desafogar as formas convencionais, como Correios e outros serviços de postagens. Porém, o recurso “entregador” — que seria a maneira mais rápida de viabilizar outras maneiras de solucionar o problema — está cada vez mais escasso.
Quem trabalha com distribuição vive o desafio diário de encontrar estratégias para entregar mais e melhor. A saída tem sido investir em tecnologia que possam ser aplicadas a modelos diferenciados de delivery, aproveitando todas as possibilidades de mão de obra disponível para mais produtividade.
Um dos planos inovadores é contar com estabelecimentos parceiros que funcionem como hub de entregas em determinadas regiões, com a possibilidade de, inclusive, realizar o delivery a pé. Isso funciona muito bem em cidades menores e bairros mais afastados.
Imagine que um único veículo sai com 50 entregas para determinada região (ele passaria o dia inteiro fazendo isso se fosse efetuar o delivery para cada um de seus destinos). Este veículo deixa as entregas nestes hubs e, a partir daí, o delivery é viabilizado por estes novos parceiros, por meio de motoboys que normalmente realizam entregas de alimentos e possuem horários de pico bem definidos.
Ao contar com motos na malha logística, é possível otimizar o transporte de mercadorias com despachos on demand e reduzir a ociosidade destes trabalhadores, aumentando sua margem de renda. A vantagem é significativa para os dois lados, uma vez que, para o consumidor, o frete fica mais bem em conta (afinal, em relação aos carros e aos caminhões, a moto é o veículo que gasta menos combustível e paga menos seguro e impostos).
Outro cenário seria contar com estabelecimentos que recebessem as mercadorias e as armazenassem até que o cliente pudesse retirar. Estamos falando de milhares de pequenos negócios que podem cumprir um papel dentro desta cadeia, participando ativamente do crescimento de todo um setor. Vão desde padarias, minimercados, pet shops até salões de beleza que podem utilizar seus colaboradores em tempo ocioso para efetuar um trabalho que até então nunca havia sido cogitado.
Esta realidade é possível nos dias de hoje com a tecnologia servindo como pano de fundo para esta evolução de mentalidade: todos podem ser entregadores e atuar no processo de distribuição do e-commerce.
Este modelo se assemelha ao conceito de ship from store e também de crowd shipping, porém, com algumas adaptações necessárias para funcionar atendendo as peculiaridades do mercado brasileiro. A ideia é utilizar todos os recursos disponíveis para fazer o delivery, permitindo ainda que os pequenos negócios de bairro participem e contribuam com esta nova realidade.
Há muito espaço para expandir este modelo
Segundo a Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp), este ano, houve redução de cerca de 25% no número de motoristas de aplicativos. Sabemos que estes trabalhadores estão migrando de setor por causa da alta dos combustíveis e também por não concordarem com as políticas de trabalho, logo o setor de logística deve ficar atento para não perder a oportunidade de abraçar esta força de trabalho tão relevante.
Pelo fato de a demanda estar maior do que a oferta de entregadores, é fundamental otimizar os recursos já existentes com criatividade e versatilidade. A tecnologia existe para isso: para possibilitar inovações que melhorem a experiência do consumidor com segurança, sempre surpreendendo pelo resultado final. Esta é a busca incessante do e-commerce: encantar o tempo inteiro.
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