O tema dos layoffs já está um tanto corriqueiro no segmento de tecnologia, que viveu seus áureos tempos durante a pandemia e trouxe velocidade à digitalização dos negócios. Mas agora vivemos uma conjuntura econômica de altos juros e inflação que assolam empresas em todo o mundo.
O setor varejista não passa imune a este momento, vivendo uma crise de consumo baseado em crédito. Porém, isso traz vários impactos ao setor de e-commerce, que agrupa tecnologia e varejo.
Redução dos investimentos e riscos em tecnologia
Grandes varejistas impactados pelas adversidades econômicas estão reduzindo tanto suas equipes de tecnologia como os investimentos em novos projetos tecnológicos. Isso diminui a capacidade de compra e o ritmo de avanço em inovações com seus vários fornecedores de tech, gerando um ciclo negativo em toda a cadeia de valor.
No universo do e-commerce, há situações em que os cortes de equipe e custo no varejo – que podem causar prejuízos em itens como segurança e logística – podem acabar negligenciando os riscos envolvidos, levando inclusive ao fim do negócio em si.
Se a segurança foi impactada, trará impacto aos usuários. E, assim, a queda da credibilidade tecnológica causará automaticamente queda nas vendas. Do mesmo modo, se houver falhas em dados ou ruptura de estoques, o cliente não receberá o produto conforme combinado, e a reputação e as recorrências futuras serão prejudicadas.
Em outros casos, fornecedores tech podem não receber os serviços executados e se deparar com o cancelamento de novos projetos e contratos com clientes varejistas. E qual a consequência disso? Eles também vão encolher suas equipes e eliminar projetos de avanços tecnológicos, o que traz estagnação e outros riscos de fornecimento ao setor de e-commerce.
Esse ciclo poderá ser quebrado com a alavancagem de consumo baseado em crédito. Mas, para isso, tanto as empresas de tecnologia como as varejistas dependem dos avanços governamentais no setor econômico. Um cenário que traga tranquilidade e transparência aos mercados e, dessa forma, passe a reduzir as taxas de juros, que são baseadas diretamente pelo risco de crédito – visto que o segmento de varejo é intensivo de capital para financiar as compras parceladas tão enraizadas no Brasil.
Abertura de novos mercados para tecnologia
O momento econômico e o baixo índice de investimento estão culminando com o avanço da tecnologia de inteligência artificial. Apesar de existente há um bom tempo, a IA vem evoluindo substancialmente e foi lançada agora para ocupar o espaço de parte da mão de obra que foi reduzida. Tem atuado, também, como alternativa para automação do SAC.
Esse processo deve atenuar os custos, mas, como toda nova tecnologia, levará um tempo até atingir a maturidade de uso e suprimir as falhas. O mesmo vale para a adaptação de segurança quanto a riscos e violações éticas.
Se há redução nas equipes de tecnologia tanto nas empresas tech como nos varejistas, e é sabido que esse setor responde por salários maiores, o layoff por si só também vai fazer com que essas pessoas reduzam seus consumos. Isso até haver a recolocação em companhias menores, que, neste momento, são as melhores alternativas, pois vivem menor impacto perante as grandes empresas.
Da mesma forma, vários profissionais desligados estão passando a empreender, criando suas próprias startups e consultorias. Logo, novas oportunidades de negócios, tecnologias e avanços tecnológicos serão criados por eles – ainda mais neste período da nova onda de ferramentas de IA, que passaram a fazer parte do dia a dia dos profissionais. Nada melhor do que alguém de tecnologia, os “early adopters”, para utilizá-las, criar novos negócios inovadores e promover rupturas.
E como reduzir os riscos?
Empresas de todos os cantos do Brasil fazem avaliações de riscos ao negócio, desenham cenários e projeções. Contudo, o item que será primordial neste momento é a manutenção da carteira de clientes, com um fluxo mínimo de compras recorrentes daqueles que já estejam engajados com suas plataformas de e-commerce favoritas.
O fluxo contínuo de compras, ainda que em menor escala, fará com que, mesmo com impactos causados pelo momento econômico de juros altos e restrições mais duras ao crédito, as empresas possam continuar operando, enquanto aguardam um novo ciclo virtuoso para renovar seu parque tecnológico.
Varejistas de cunho oportunista passam a “fazer a festa” neste momento no mercado brasileiro – seja pela dificuldade de a Receita Federal auditar os Correios e transportadoras, com o imenso volume imenso de pequenos pacotes que passaram a transitar no país, seja por sermos um dos países com a maior taxa de juros no mundo. Neste momento, fica ainda mais evidente que experiência, marca e credibilidade se tornam ainda mais partes do contexto de e-commerce.
No varejo, não há espaço vazio. Logo, quem não conseguir atender seus clientes com uma boa experiência tecnológica ou que represente algum risco de não entrega dos produtos – por falta de estoque, erro na logística, falha de comunicação ou problema de qualidade de seus parceiros – dará espaço para aqueles que estejam mais bem posicionados, sejam eles concorrentes nacionais ou estrangeiros. E, nisso, o risco maior está na tecnologia que ancora todos os processos.
O grande recado ao mercado consumidor para este momento é cuidado redobrado com os varejistas que representem quaisquer riscos, e para as empresas é cuidado redobrado com sua marca, imagem e experiências de consumo.