Comprar pela internet, buscar preços acessíveis, consumir com consciência. Até parece que essas coisas foram inventadas agora nessa pandemia, quando todos voltaram os olhos para o e-commerce e, ao mesmo tempo, repensaram sua forma de consumir. Mas, o conceito de venda online aliado à sustentabilidade já existia muito antes de o coronavírus aparecer e sempre foi a mola propulsora dos e-commerces de seminovos de luxo.
Talvez essa seja a resposta mais curta para a pergunta do título. Os brechós de luxo crescem no meio da crise porque, antes mesmo de ela existir, eles já ofereciam uma proposta de consumo inovadora. É aquela velha história de entregar uma solução para um problema que você nem sabia que tinha! E então veio a recessão e quem ainda não tinha se atentado para a compra online consciente acabou descobrindo esse velho novo mundo.
A alta do e-commerce de seminovos de luxo
Sim, os e-commerces de seminovos de luxo estão em alta. Antes da crise os números já eram animadores: o mercado mundial teve um crescimento de 12% ao ano, contra apenas 3% dos produtos novos, segundo um estudo do Boston Consulting Group (BCG). Em 2018, o segmento de brechós de luxo movimentou US$ 25 bilhões — e a expectativa é de que, até 2021, esse número salte para US$ 36 bilhões. Se essa estimativa se concretizar, esse setor vai responder por 9% de todo o mercado global de luxo.
Durante a pandemia os resultados não apenas continuaram positivos, como melhoraram. Ainda não há um estudo mais profundo sobre o setor no atual cenário, mas as notícias de grandes empresas do segmento são otimistas. A Vestiaire Collective, empresa francesa com atuação em toda a Europa, viu as vendas subirem 20% no final de abril. Já a americana Rebag vendeu mais bolsas no final de abril do que na Black Friday. Na Poshmark, por sua vez, a terceira semana de abril foi a melhor da empresa em termos de vendas.
O fato de, neste momento, as vendas acontecerem principalmente no ambiente digital é um dos motivos que explica esse crescimento. Se há três meses algumas pessoas só compravam em lojas físicas, com o cenário do isolamento social elas foram obrigadas a procurar opções de e-commerces e descobriram os brechós de luxo online. Além disso, boa parte dos consumidores que tinha reservado dinheiro para lazer e viagens foi surpreendida pela quarentena e substituiu esses investimentos por compras de produtos.
A alta do dólar e o consumo consciente
A questão da economia também pesou nesse momento de incertezas causadas pela crise. Quem compra está interessado em preços mais acessíveis. E, por outro lado, quem tem boas peças e precisa de dinheiro enxerga a consignação desses produtos como oportunidade. Outro fator que influencia nesse sentido é a alta do dólar, que gera um encarecimento de peças originais de marcas internacionais. Dessa forma, o brechó é a opção mais econômica para quem não quer abrir mão da beleza e da qualidade de uma peça de grife.
Por fim, o entendimento do consumo consciente veio à tona com mais força neste período de crise. O conceito de economia circular — que está baseado na extensão da vida útil do produto e na diminuição dos impactos sociais e ambientais de novas produções — se tornou bandeira até de grandes celebridades. Sim, isso também já existia muito antes do coronavírus. Mas a ideia de uma empatia coletiva e a valorização de negócios que geram remuneração para mais atores na cadeia ganhou outra dimensão nessa pandemia.
Percebe como, para o mercado de e-commerce de seminovos de luxo, tudo mudou sem nada ter mudado? Mais do que nunca as pessoas querem comprar online, priorizando economia e consumo consciente. Para os brechós de grife, que já ofereciam tudo isso, resta agora preparar a carteira de “novos clientes” para um volume histórico.