Logo E-Commerce Brasil

O rombo financeiro das Americanas e as incertezas que pairam sobre os investidores

Por: Lincoln Fracari

Fundador e diretor executivo do Grupo China Link

Fundador e diretor executivo do Grupo China Link. Especialista e consultor na área de negócios com a China e Ásia, empresário, investidor, escritor e palestrante. Formado em Administração pela Universidade Paulista e especializado em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas.

Durante uma viagem pela América do Sul, feita por John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borger, americanos que seguiam em direção a Buenos Aires, tinham a intenção de iniciar um empreendimento no estilo Five and Ten Cents, formato de negócio que já dominava os Estados Unidos e a Europa naquela época (década de 1920). A concepção de lugar ideal para iniciar o novo projeto mudou quando, durante a viagem, conheceram os brasileiros Aquino Sales e Max Landesman, que os convidaram a conhecer o Rio de Janeiro.

Que impacto o rombo financeiro das Lojas Americanas tem para o e-commerce?

Histórico no Brasil

Na passagem por Niterói, os estrangeiros viram na cidade um grande potencial para iniciar a criação do sonhado empreendimento, e então fundaram a atual Lojas Americanas em 1929. Inicialmente, a empresa visava atender donas de casa e militares que possuíam renda estável mas restrita, uma parcela de mercado que não era o público-alvo de nenhuma outra grande marca, o que foi interpretado por eles como uma brecha perfeita para atender com variedade um público que até então precisava ir a quatro ou cinco mercados e mercearias para encontrar diversidade de produtos e preço baixo. A rede nunca se virou contra esse posicionamento e ainda hoje oferece variedade para o público geral que frequenta as lojas.

No que se trata de capital, em 1940, a empresa abriu oficialmente ações na bolsa e, em 1982, a organização atual da marca começu a caminhar para o cenário que podemos acompanhar hoje. Naquele ano, os principais acionistas do Banco Garantia – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira – entraram na composição acionária das Lojas Americanas como controladores.

Expansão

No primeiro semestre de 1994, concretizou-se a formação de uma joint venture com o nome de Wal Mart Brasil S/A, com participação de 40% das Lojas Americanas S.A, e 60% por parte da Wal Mart Store Inc. na composição do capital. Daí em diante, a rede experimentou ascensão em praticamente todas as regiões do país, consolidando a imagem das Lojas Americanas e inserindo outra marca subsidiárias no mercado, a Americanas Express, em 2006. Após fundir a rede de Lojas Americanas ao Submarino, nasceu a B2W, que a partir de então seria a responsável por gerir todas as marcas pertencentes ao grupo.

Conhecidos no meio econômico como investidores de alto risco, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira sempre lucraram muito com posicionamentos agressivos em prol da obtenção de lucros.

Rombo

Vindo para os tempos modernos, nos primeiros dias de 2023, como uma bomba, a mídia divulgou informações de que a rede de lojas acumulava um rombo de cerca de R$20 bilhões, resultantes de uma sucessão de inconsistências contábeis e falta de transparência com investidores. O mercado recebeu a notícia da pior forma possível e, no dia seguinte, as ações da empresa desvalorizaram em até 90%, o que levou centenas de pequenos acionistas a questionarem o risco de perder todo o fundo de investimento, motivando centenas de ações judiciais contra a marca.

Para continuar com suas operações, as Lojas Americanas entraram com pedido de recuperação judicial, na tentativa de paralisar novos processos ou afastar o risco de congelamento de bens, o que nesse momento seria mais uma pedra no barco já inicialmente afundado do Grupo B2W. Por conta disso, a empresa deixou de patrocinar o Big Brother Brasil 23 e reduziu expressivamente os investimentos em marketing.

Segundo a administração do Grupo, as operações da marca Americanas não sofreram alterações nesse primeiro momento – não foram anunciados cortes no efetivo de funcionários e a situação com grandes fornecedores também não deve sofrer interferências.

Plano de recuperação?

Entre muitas especulações, o que até então não foi divulgado foi o plano de recuperação econômico que a empresa pretende adotar para minimizar os impactos dessa crise. Alguns especialistas arriscam dizer que o caminho natural da crise é a exclusão ou pelo menos a diminuição de gasto com operações pouco lucrativas, o que pode significar ter que escolher entre o digital e o físico.

Mas será que a marca estaria pronta para essa transformação? Atualmente, 45% dos lucros da rede partem das compras feitas pelo site, enquanto que os outros 65% advêm das lojas físicas – essa operação retorna o maior valor bruto, mas também custa muito aos cofres, já que exige maior investimento em estrutura, mão de obra e administração. Como equilibrar a rentabilidade de ambas as operações, seguindo um plano minimamente ostensivo de recuperação econômica? Os diretores da rede de certo enfrentaram uma equação difícil de resolver e com muitos poréns.

Fato é que a curto prazo a dívida bilionária das Lojas Americanas não deve influenciar diretamente os pequenos fornecedores, ou quem vende pelo e-commerce da rede, mas o que não sabemos é até onde o pequeno empreendedor será poupado, ou se haverá reajustes de taxas ou alguma outra mudança que atinja diretamente o consumidor final ou o pequeno fornecedor.

Para os próximos capítulos dessa novela, espera-se um posicionamento real e não especulativo com acionistas e fornecedores. Mesmo após assumir o desregulo fiscal, as Lojas Americanas ainda mantêm as informações nebulosas e não ofereceram até então nenhum suporte que ao menos tranquilize os membros investidores e os bancos que ao longo dos anos prestaram capital às operações.