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Luxo sem fronteiras: como marcas high ticket encantam na era digital

Por: Camila Dulman

Diretora Comercial e Especialista em Luxury Brands na Infracommerce

Camila Dulman atua há mais de 20 anos com o setor de luxo. Formada em Administração de Empresas pela PUC-SP, tem ampla experiência na gestão comercial de marcas de grife, tendo sido responsável por mais de 60 lojas físicas e do e-commerce, desde seu lançamento até o acompanhamento diário da operação. Hoje, Camila é Diretora de B2C e da Unidade de Luxo na Infracommerce e agente transformadora do segmento, é responsável pela digitalização de marcas como Dior, Cartier, Armani Exchange, dentre outras.

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Imagine caminhar por um corredor silencioso, no qual cada passo é acolhido por um tapete felpudo, as luzes revelam brilhos sutis em vitrines de cristal, e o aroma que paira no ar é exclusivo, desenvolvido para provocar memórias que nem sabíamos que tínhamos. Essa é a entrada para o universo do luxo. Um universo que, por décadas, se manifestou no físico, no toque, na presença, no tempo desacelerado da escolha. Mas hoje, mais do que nunca, o digital se entrelaça a essa experiência. E o faz com maestria.

Mulher elegante trabalha no laptop enquanto bebe vinho, com bolsa de grife sobre a mesa.
Imagem: Envato.

Ao longo dos anos, vi de perto a evolução desse mercado. O luxo, que sempre pareceu intocável, agora pulsa no digital, sem jamais perder a sofisticação, a exclusividade e a arte do encantamento. E é exatamente sobre essa transição que quero te contar. Uma transformação que não é apenas tecnológica, mas sensorial, emocional e estratégica.

O luxo como experiência: mais do que produtos, momentos

Marcas como Cartier, Dior, Estée Lauder e Giorgio Armani mostram que o luxo vai muito além do objeto. Ele está no detalhe, na antecipação de um desejo não verbalizado, na personalização que surpreende. Não se trata de vender uma joia, é sobre fazer com que o seu brilho seja ainda mais belo. Não é apenas um batom, é sobre como ele faz alguém se sentir ao aplicá-lo.

Essa sofisticação é levada ao extremo em espaços físicos como o Armani Hotel, em Milão e Dubai. Com restaurantes assinados, spas e ambientes imersivos decorados com peças da própria linha Armani/Casa, o hóspede não apenas se hospeda, ele vive a marca.

Ou então no Dior Café, onde a moda se transforma em gastronomia e o cliente experimenta o sabor da maison em uma xícara de café, em ambientes que refletem o DNA visual da marca. O Tiffany Blue Box Café, em Nova York e também em São Paulo, segue a mesma linha: tomar um café em porcelanas azul Tiffany é, em si, um ato de luxo emocional. E essa sofisticação agora também cabe em um clique.

O digital como extensão sensorial

E como toda essa experiência é transportada para a interação online com o consumidor? Nesse ponto, a digitalização do luxo se mostra como uma dança sutil entre conveniência e encantamento. E é aí que a tecnologia se torna essencial.

As marcas estão investindo em ferramentas como realidade aumentada, visualização 3D de produtos, atendimento via WhatsApp com consultores especializados – o chamado concierge commerce -, além da inteligência artificial, que aprende preferências para sugerir o que realmente faz sentido. A Dior, por exemplo, traz a sofisticação de suas boutiques para pop-ups stores, nas quais o cliente compra na loja e recebe em casa, mantendo a fluidez e a personalização da experiência.

Essa abordagem omnichannel se mostra essencial. Afinal, luxo é sobre continuidade. O cliente que experimenta um perfume em uma pop-up integrada com um spa da Dior no Copacabana Palace, por exemplo, deve encontrar esse mesmo universo quando navega pelo e-commerce, seja pela paleta de cores, pelas palavras do copy ou pelo tom de voz do atendimento. Cada ponto de contato é uma nota na sinfonia que compõe a experiência.

América Latina: o palco de uma nova expansão

A América Latina, que tradicionalmente ocupava um papel mais discreto no mapa global do luxo, vem ganhando protagonismo. Em 2025, o mercado de bens de luxo na região alcançou US$ 33,2 bilhões, com projeção de crescimento constante até 2032 (segundo o Latin America Luxury Goods Market Report and Forecast 2026-2032).

Esse salto se deve, em parte, à digitalização. O e-commerce se tornou a ponte entre as grandes maisons e os consumidores de cidades secundárias, antes fora do alcance das boutiques físicas. Pagamentos seguros, logística aprimorada e maior familiaridade com o digital abriram novas oportunidades para marcas de alto padrão.

E mais: a democratização da experiência (não do produto) se tornou uma estratégia-chave. Cafeterias, pop-ups e eventos efêmeros permitem que mais pessoas toquem o universo do luxo, criando desejo, identificação e comunidade. É o luxo como estilo de vida.

Pop-ups, clubes e encantamento como serviço

Você já imaginou comprar um skincare de alta performance enquanto degusta um espresso servido por um barista em uma loja temporária da sua marca favorita? Ou receber em casa uma caixa personalizada com seu nome, fragrâncias exclusivas e uma carta escrita à mão pelo consultor que te atendeu online?

Essas ações são reais e cada vez mais frequentes. As lojas pop-up têm se mostrado ferramentas poderosas. Elas geram urgência, oferecem exclusividade e criam experiências multissensoriais com som, luz, textura e aroma. São como um teatro: o cliente é o protagonista e o produto, o cenário. Muitas vezes integradas ao universo digital com QR codes, filtros em realidade aumentada e áreas instagramáveis, essas ativações se tornam verdadeiros espetáculos de marca.

A fidelização também ganha novas camadas com o surgimento de clubes globais, que cruzam fronteiras físicas e premiam clientes com acesso antecipado, brindes exclusivos e experiências personalizadas em qualquer loja, em qualquer país.

O que move o luxo é o desejo. E o que o sustenta é a experiência

A tecnologia nos permite escalar esse desejo do luxo, mantendo-o vivo em cada ponto de contato. Mas o luxo verdadeiro continuará sendo sobre pessoas. Sobre como uma marca faz você se sentir, seja ao receber um colar da Tiffany em uma embalagem perfeita ou ao ser chamado pelo nome em um atendimento online da Hermès.

A arte, agora, está em traduzir essa emoção para o digital. E fazer com que, ao clicar em “comprar”, o cliente sinta o mesmo frio na barriga de quando entrou pela primeira vez na boutique da sua marca favorita.

Porque, no fim, luxo é isso: encantar. E fazer com que cada interação, física ou digital, seja memorável.