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Impacto do Pix no e-commerce: como foi a aceitação dos varejistas?

Por: Rafael Lavezzo

Com atuação nas áreas de Operações, Vendas e Desenvolvimento de Negócios, tem sua carreira construída no setor de tecnologia e serviços financeiros. Passou por empresas como IBM, Cielo e, mais recentemente, participou da construção da operação da WorldPay no Brasil e América Latina. Administrador formado pela PUC de Campinas/SP, possui MBA na Fundação Getúlio Vargas. Atualmente atua como Chief Revenue Officer (CRO) na Zoop.

Pix

Qual tem sido o impacto do Pix no e-commerce? Será que essa solução realmente teve a adesão dos varejistas e dos consumidores conforme esperado?

Mesmo antes do lançamento do Pix em 16 de novembro do ano passado, esse meio instantâneo de pagamentos e de transferências já estava cercado de expectativa pelo varejo.

Um dos motivos é que a facilidade e a rapidez com as quais os valores são transacionados poderiam ser um forte impulsionador de compras para o público.

Para o e-commerce, especificamente, o sistema de pagamento instantâneo é uma excelente maneira de melhorar a experiência de compra do cliente.

Quando em substituição do boleto bancário, por exemplo, elimina o tempo de espera pela compensação do valor e reduz o prazo de envio do produto ao comprador.

Mas será que essas vantagens foram suficientes para que o impacto do Pix no e-commerce fosse realmente positivo? Quais desafios ainda precisam ser enfrentados pelo setor para uma maior aderência desse meio de pagamento?

O lado positivo do impacto do Pix no e-commerce

O Pix, sistema de pagamento instantâneo brasileiro, tem como principal característica a realização de pagamentos e transferências 24 horas por dia, 7 dias da semana, incluindo finais de semana e feriados.

Somado a isso, o valor transacionado sai imediatamente da conta de quem paga e, em até 10 segundos, é creditado na conta de quem recebe.

Para o varejo, essa é uma ferramenta que tem tudo para ajudar a alavancar as vendas. Afinal, otimiza o processo de compra e facilita a vida tanto de quem paga quanto de quem recebe.

Destacando o lado positivo do impacto do Pix no e-commerce, temos as seguintes vantagens:

  • aumento da oferta de meios de pagamento;
  • diversificação do público atendido;
  • aumento da competitividade;
  • melhora da experiência de compra do cliente; 
  • aprimoramento da gestão de estoque;
  • contribuição para diminuir o número de carrinhos abandonados;
  • incentivo à compra;
  • redução de custos para o lojista;
  • melhora do fluxo de caixa.

Aumento da oferta de meios de pagamento

A proposta do Pix não é acabar com as outras ferramentas de transferência de valores, como TED e DOC, nem tão pouco substituir os meios de pagamento já existentes, a exemplo do cartão de débito, de crédito ou boleto bancário.

A intenção do sistema de pagamento instantâneo é ser mais uma forma de realizar transações financeiras, ou seja, se tornar uma nova alternativa para pessoas físicas e jurídicas movimentar valores.

Em outras palavras, disponibilizar o Pix no seu e-commerce como uma das formas de pagamento aceitas é entregar ao cliente mais uma opção. 

Dessa forma, você o deixa livre para escolher a solução que melhor o atender naquele momento, contribuindo também para a sua decisão de compra.

Diversificação do público atendido

Outro impacto do Pix no e-commerce é a possibilidade de atender uma parcela maior de consumidores. Sobre isso, alguns pontos precisam ser destacados. Por exemplo, muitas pessoas têm cartão de crédito, mas não se sentem seguras em utilizar esse meio de pagamento em compras online.

Oferecer o Pix como alternativa ajuda a abranger também esse público, que poderá de maneira fácil e rápida concluir a sua compra sem precisar informar os dados do seu cartão.

Por outro lado, há aqueles potenciais clientes que não têm cartão de crédito, ou ainda qualquer relação com algum banco, ou seja, os desbancarizados.

Nesse caso, as alternativas de pagamento online podem ser boleto bancário ou a carteira digital.

O uso do boleto bancário, especificamente, gera um tempo maior de espera pelo recebimento da mercadoria, uma vez que é preciso aguardar o prazo de compensação do valor, que pode demorar até 3 dias úteis.

Já com o Pix isso não acontece, visto que a confirmação do pagamento acontece de maneira instantânea. 

Além disso, ele pode ser atrelado à carteira digital dos clientes que utilizam essa solução, otimizando ainda mais o seu processo de compra.

Aumento da competitividade

A oferta do Pix como meio de pagamento no e-commerce também deve ser vista como um importante diferencial competitivo, impulsionando a competitividade entre os varejistas.

Já não é mais segredo que, quanto maior for a diversidade de meios de pagamento que um comércio oferece, mais atrativo ele se torna para o público. Esse fator, por sua vez, impacta diretamente no seu volume de vendas.

Seguindo essa linha de raciocínio, se um cliente pretende realizar uma compra online e pagar via Pix, porém a loja que está visitando não oferece essa opção, é bem provável que ele procure um concorrente que atenda à sua preferência.

Melhora da experiência de compra do cliente

A vantagem anterior, por si só, já é uma forma de melhorar a experiência de compra do cliente. Afinal, o e-commerce estará entregando a ele a solução de pagamento que pretende utilizar naquele momento.

Somado a isso, a compensação instantânea do valor promovida pelo Pix otimiza o tempo de envio do produto ao consumidor.

Ao contrário do que acontece, principalmente, com o boleto bancário, no sistema de pagamento instantâneo não é necessário aguardar vários dias até que o valor fique disponível para o varejista.

Essa redução de tempo de liberação do produto melhora a experiência de compra, bem como o relacionamento do cliente com a marca e também é um importante diferencial estratégico.

Aprimoramento da gestão de estoque

Outro impacto do Pix no e-commerce está relacionado a uma melhora na gestão de estoque. Quando o varejista precisa aguardar a compensação de um pagamento, o produto escolhido pelo cliente fica “reservado” no seu estoque, a fim de evitar que seja vendido duas vezes e gere outros transtornos.

Porém, se o cliente não efetiva o pagamento do boleto, ou se a operadora de cartão de crédito não autoriza a transação, há o risco de reter essa mercadoria desnecessariamente e de perder a chance de vendê-la para outro comprador.

Todo esse processo já não acontece quando o pagamento é compensado tão logo seja realizado.

Diminuição no número de carrinhos abandonados

Anteriormente, foi mencionado que quanto mais ampla for a oferta de meios de pagamento, mais atrativo o comércio se torna para o consumidor e maiores são as chances de fechar uma venda, se lembra?

Pois bem, os meios de pagamento têm relação direta com o número de carrinhos abandonados.

Entre os principais motivos que levam uma pessoa a escolher os produtos, colocar no carrinho, mas desistir da compra estão:

  • valor do frete alto;
  • cadastro muito complexo;
  • prazo de entrega longo;
  • site do e-commerce com problemas;
  • atendimento ao cliente inadequado;
  • política de devolução restrita ou com poucas vantagens 
  • poucas opções de meios de pagamentos, ou opções insatisfatórias.

Sabemos que o abandono do carrinho é um dos principais pontos de perda de faturamento no e-commerce.

Dados da Statista mostram que, em todo o mundo inteiro, a taxa de abandono de carrinhos foi de 69,57% em 2019. Esse número indica que quase 3 a cada 10 carrinhos de compra online não se tornam, efetivamente, uma venda.

No Brasil, aproximadamente 82% dos carrinhos são abandonados pelos clientes, de acordo com um dos relatórios E-commerce Radar.

Incentivo à compra

O incentivo à compra é outro ponto de impacto do Pix no e-commerce que merece ser destacado. A intenção é que a facilidade de realizar o pagamento leve os consumidores a tomarem decisões de aquisição mais rapidamente.

Esse meio de pagamento pode, inclusive, ser aplicado em promoções, saldos, queima de estoque e ofertas temporárias, como estratégia para aumentar o volume de vendas.

Redução de custos para o lojista

O Pix é gratuito para transações financeiras entre pessoas físicas. Para pessoas jurídicas, os valores são determinados pela instituição financeira utilizada. 

Porém, por determinação do próprio Banco Central, os custos das operações via Pix não podem ser maiores que os cobrados por outras soluções, como TED e DOC.

Além disso, as taxas dos pagamentos instantâneos tendem a ser menores que as pagas pelo uso de máquinas de cartão e outros meios de pagamento.

Vale lembrar também que o Pix não gera qualquer custo para o cliente (pessoa física), ainda que esteja fazendo o pagamento para uma pessoa jurídica. Esse fator se torna mais um ponto de incentivo para o uso dessa alternativa.

Melhora do fluxo de caixa

Como os valores caem instantaneamente na conta do lojista, esse consegue melhorar o seu fluxo de caixa.

Dessa forma, é possível aprimorar a gestão financeira da empresa e até eliminar a necessidade de buscar empréstimos, dependendo da situação. Com a saúde financeira da empresa em dia, também se torna mais propício investir no crescimento do negócio. 

Desafios a superar quanto ao uso do Pix no e-commerce

Mas ainda que o impacto do Pix no e-commerce apresente todas essas vantagens, não se pode fechar os olhos para os desafios que precisam ser superados.

Um deles é o fato que o pagamento instantâneo foi positivamente aceito pela população, no entanto, como uma melhor alternativa para realizar transferências bancárias, e não como meio de pagamento.

Dados do Banco Central mostram que a maior parte das operações via Pix foram realizadas entre pessoas físicas.

Segundo estatísticas do órgão regulador, em dezembro de 2020, foram realizadas 105.951.584 transações de pessoa para pessoa, número que representa mais de R$ 48 milhões movimentados.

Por outro lado, a quantidade de transações via Pix de pessoa física para empresa foi de apenas 7.966.717, um pouco mais de R$ 6 milhões transacionados.

Mas por que essa menor adesão ao uso do Pix como meio de pagamento aconteceu? Um dos motivos pode ser a baixa participação do varejo, bem como a impossibilidade de parcelar as compras.

Entenda esses e outros pontos em detalhes.

Necessidade de incentivar o consumidor a usar o Pix

Para que o Pix seja mais amplamente utilizado, a participação e o incentivo do varejo é fundamental. Ou seja, o setor deve funcionar como um “educador” quanto ao uso dessa solução.

Por exemplo, é importante salientar para o público que a utilização desse meio de pagamento não gera qualquer custo a ele.

Além disso, questões como a redução do tempo de entrega do produto, especialmente no e-commerce, merecem e precisam ser destacadas.

Tempo para adaptação do varejo

Outro ponto que pode ter contribuído para a baixa aderência do Pix como meio de pagamento é que muitos bancos e adquirentes ainda não definiram junto aos varejistas os valores que serão cobrados pelas transações.

Por conta disso, vários estabelecimentos comerciais e e-commerces ainda não estão oferecendo essa opção aos seus clientes, comprometendo a adesão.

Dependendo do porte da empresa, a confirmação do pagamento também pode ser um fator complicador.

Ainda que o Pix caia instantaneamente na conta do recebedor, esse precisa verificar o seu extrato para confirmar o pagamento e, somente depois, concluir a venda ao cliente.

Dependendo da solução de gestão financeira utilizada pela empresa, essa conferência pode ser um processo bastante desafiador que requer ajustes até que funcione de forma automática.

Impossibilidade de realizar compras parceladas

O relatório “Panorama dos meios de pagamento no varejo brasileiro” da SBVC, Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, mostrou que o cartão de crédito ainda é a principal opção oferecida pelos e-commerces.

Na primeira edição da pesquisa, 92% dos varejistas de comércio eletrônico entrevistados disseram aceitar crédito parcelado em suas lojas. Na segunda edição, esse percentual foi de 90%.

Quando questionados sobre o pagamento via cartão de crédito à vista, 100% dos participantes da primeira edição e 90% da segunda afirmaram aceitar. Essa oferta, inclusive, vai ao encontro da preferência dos consumidores. 

Ainda de acordo com o mesmo levantamento, o cartão de crédito como meio de pagamento está no topo da lista tanto para compras via computador quanto para as realizadas via smartphone/mobile.

O crédito parcelado é a preferência de 48% dos participantes da segunda edição do estudo para compras pelo computador, e de 41% para compras mobile e/ou smartphone.

Os outros dois meios de pagamentos mais utilizados são cartão de crédito à vista e boleto bancário.

Considerando que o Pix ainda não permite a realização de compras parceladas, esse se torna mais um desafio a ser superado para aumentar a sua utilização.

Isso acontece porque o dinheiro precisa estar disponível, em sua totalidade, na conta do cliente no momento do pagamento. Porém, dependendo do valor da compra, sabemos que nem sempre isso é possível.

Tempo para os clientes se sentirem seguros

Por ser uma solução de pagamento nova, é importante considerar que muitos ainda têm receio em utilizá-la.

O público, em geral, está habituado a utilizar outros meios de pagamento e se sente seguro com essas alternativas. Porém, essa sensação de segurança precisou de um tempo até ser sentida.

O mais provável é que o mesmo aconteça com o Pix. Será preciso que o varejo se posicione de forma que colabore para que os clientes se sintam seguros a utilizar essa ferramenta.

Inclusive, as próprias empresas precisam se sentir prontas e seguras para disponibilizar essa solução.

Uma pesquisa realizada pela Zoop, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, mostrou que 71,9% dos entrevistados disseram estar bem informados quanto ao Pix.

Entre os participantes, 64,1% afirmaram estar prontos para trabalhar com o sistema de pagamentos instantâneos.

Quando perguntados, de 0 a 10, quanto a solução vai impactar suas empresas, a nota atribuída pelos participantes foi de 5,9.

Vale destacar ainda que 12,6% consideram que o Pix será importante apenas para vendas presenciais, e 23,3% apenas para as vendas online.

O futuro do Pix no varejo virtual e presencial

Mesmo que o impacto do Pix no e-commerce ainda esteja cercado de desafios, um ponto não se pode negar: essa solução faz parte das estratégias e tendências do setor para 2021.

Quando falamos sobre o futuro do varejo, especialmente relacionando ao mercado de meios de pagamento, não há como deixar de citar essa solução.

Inclusive, quem tem loja física além da virtual, precisa se atentar e se preparar para a utilização cada vez maior dos meios de pagamentos digitais.

Soluções como pagamento por aproximação é um bom exemplo, além do QR Code, que terá aumento de uso tanto em vendas presenciais quanto em virtuais graças ao Pix.

Além disso, é preciso considerar a expansão da aplicação do pagamento instantâneo em um futuro próximo, incluindo a sua utilização em boletos, os saques em lojas físicas e o Pix Cobrança.

Uso do Pix em boletos bancários

Bruno Diniz, co-fundador da consultoria Spiralem e professor da FGV, já comentou sobre a utilização do Pix em boletos bancários de companhias públicas. Na ocasião, ele destacou que alguns acordos quanto a essa aplicação já estavam sendo realizados.

Essa junção abre caminho para que o pagamento instantâneo seja utilizado em variados modelos de cobrança, além dele próprio.

Saque de valores em lojas físicas

Está previsto para este ano que o Pix permita saque de valores em lojas físicas.  Com essa nova possibilidade de uso da solução, o varejo presencial ganha a chance de gerar novas vendas.

Além disso, vai diminuir o volume de dinheiro em espécie no local e reduzir os gastos relacionados a transporte e segurança de valores. 

Pix Cobrança

O Pix Cobrança é uma solução que permite a realização de pagamentos com datas futuras, semelhante ao que acontece com o boleto.

Com previsão para entrar em vigor em março deste ano, essa será uma boa alternativa para os clientes que precisam de alguns dias para pagar as suas compras, mas não utilizam, ou não têm, cartão de crédito.

Com funcionamento parecido com um boleto bancário, o Pix Cobrança permite que o varejista inclua diversas informações sobre a transação comercial, tais como data de vencimento, juros e multas em caso de atraso, entre outras.

A principal diferença entre as duas soluções é que, com o Pix Cobrança, tão logo o pagamento seja realizado, o valor cai imediatamente na conta do recebedor.

Em resumo, é oferecer ao cliente a possibilidade de utilizar o boleto bancário como forma de pagamento, sem que seja preciso aguardar os dias de compensação para finalizar a transação comercial.

Como oferecer o Pix no e-commerce

Como você pôde ver até agora, o Pix tem tudo para transformar o e-commerce em diversos pontos.

Entre as principais mudanças estão:

  • otimização do processo de envio de mercadorias;
  • possibilidade de oferecer descontos maiores, já que as taxas desse tipo de transação é bastante reduzida;
  • aprimoramento da gestão financeira e da gestão de estoque;
  • redução de custos com transações financeiras.

Somado a isso, não podemos deixar de destacar a entrega de uma experiência de compra ao cliente mais dinâmica e satisfatória e o aumento do poder competitivo da empresa.

Mas para obter todas essas vantagens, é preciso saber como oferecer o Pix no e-commerce.

Na prática, isso pode ser feito de duas formas: gerando um QR Code para o cliente no momento do checkout, ou um código para o pagamento.

Em compras realizadas pelo computador, por exemplo, o cliente pode usar o seu smartphone para fazer a leitura do QR Code e debitar o valor diretamente do seu banco ou carteira digital.

No caso das compras que estão sendo feitas via dispositivos móveis, basta que o consumidor copie o código gerado e cole no seu app bancário ou e-wallet.

Nos “bastidores”, é preciso que o e-commerce tenha parceria com um banco ou fintech que ofereça essa solução para o seu negócio.

As fintechs têm a vantagem de, além de ajudar para a oferta do Pix ao público, possibilitar o desenvolvimento de outros meios de pagamento personalizados para os consumidores do e-commerce.

As soluções Banking as a Service, por exemplo, ajudam a fidelizar clientes ao permitir que o e-commerce crie o seu próprio banco digital, com produtos e serviços como conta digital, cartão de crédito, débito e/ou pré-pago, transferências, Pix, entre outros.

Como tudo leva a marca do comércio eletrônico, isso aumenta a credibilidade do negócio, o destaca dos concorrentes e o torna mais atrativo para novos clientes.

Assim, além de passar a entregar uma forma de pagamento que, ao que tudo indica, terá seu uso aumentado este ano, você também alinha a sua empresa às expectativas dos seus clientes com a entrega de novas soluções financeiras.