Tenho visto uma pergunta surgir com frequência quase religiosa em mentorias, eventos e imersões com profissionais de marketing: como a inteligência artificial pode impulsionar nossas vendas? É uma dúvida legítima, mas a resposta exige mais profundidade do que as manchetes vendem. O que temos visto no Brasil, especialmente no setor de serviços e no varejo digital, é uma enxurrada de iniciativas envolvendo “IA” que, na prática, têm pouco de inteligência e muito de improviso.

Vivemos uma era em que basta dizer “nosso produto tem IA” para ganhar atenção, atrair investidores ou justificar decisões apressadas. Só que do ponto de vista comercial e estratégico, esse comportamento pode ser um tiro no pé. Muitas empresas estão embarcando na onda sem antes responder a uma pergunta fundamental: que problema real do meu cliente estou resolvendo com isso? O resultado são soluções bonitas na apresentação e irrelevantes na rotina de quem vende ou atende.
E se você lidera um e-commerce, um time de inside sales ou está estruturando canais digitais de venda, preste atenção: nem toda IA gera resultado e muitas estão mais confundindo do que ajudando.
Armadilhas comuns no uso da IA
Quatro armadilhas têm aparecido com frequência. A primeira é a tecnologia sem dor real: a IA implementada só porque parece certo, mas que não responde a nenhuma necessidade concreta do cliente. Depois vem a IA sem entrega: encanta no discurso, mas trava a operação e frustra a linha de frente com o consumidor. Soma-se a isso a mania de copiar o concorrente e, por fim, os protótipos que funcionam em demo, mas colapsam na vida real, na qual cliente não segue roteiro.
O conceito de IACommerce
É por isso que a inteligência artificial precisa estar a serviço de uma estratégia – e não o contrário. Durante uma palestra, ouvi de um cliente: “Você acredita no nascimento de um e-commerce com cérebro?”. Sim, acredito. E já estamos vendo isso acontecer. Chamamos de IACommerce: a integração entre inteligência artificial aplicada, processos de vendas consultivas, automações via CRM e canais digitais que entendem o consumidor em tempo real. Trata-se do e-commerce deixando de ser apenas um canal transacional e assumindo um papel mais estratégico, inteligente, adaptável e personalizado.
Só que IACommerce não é sobre tecnologia pela tecnologia. É sobre resolver uma dor concreta, acelerar decisões sem comprometer a confiança e melhorar a experiência de compra sem aumentar a fricção. É sobre fazer a tecnologia trabalhar para o negócio, e não o contrário. E isso só acontece quando há clareza sobre o público, maturidade no processo comercial e uma entrega de valor consistente.
A importância da estratégia humana
A provocação que deixo para os líderes de marketing, vendas e atendimento é direta: a IA pode ser o motor da sua operação, mas quem guia ainda é você. Antes de assinar contrato com uma nova plataforma, pergunte: isso resolve um problema real ou só me deixa com cara de inovador? Meu time vai usar ou vai boicotar? O cliente vai se engajar ou se afastar? Essa funcionalidade ajuda a vender ou só adiciona mais uma etapa? Porque no fim do dia, a decisão continua sendo humana e os humanos compram de quem entende suas dores e desejos.
O hype vai passar, como passaram os apps “revolucionários” e as automações que prometiam vender sozinhas. Mas a IA, como tecnologia de suporte a processos bem desenhados, vai ficar. E quem souber usá-la para entregar valor real, escalar o que já funciona e ampliar margens vai sair na frente. A IA não salva o que já está ruim. Mas, nas mãos certas, é combustível para ir muito, mas muito mais longe.
O futuro das vendas está sendo redesenhado agora. Não por quem busca atalhos, mas por quem entende que tecnologia sem estratégia é só barulho. E a pergunta que fica é: você vai liderar essa transformação ou ser mais um espectador do hype?