Quando o assunto é expectativa de consumo, o segundo semestre de 2024 traz consigo um cenário de expectativas e incertezas no Brasil.
Com a economia global e local passando por desafios, como a inflação elevada e a oscilação no poder de compra, os consumidores estão mais cautelosos e exigentes.
Além disso, o endividamento da população deve impactar as expectativas de consumo para 2024.
De acordo com o termômetro de consumo das organizações Globo, oito em cada dez brasileiros continuam com pelo menos metade da renda familiar destinada a cobrir despesas fixas mensais.
Nesse contexto, empresas precisam se preparar para entender as novas demandas do mercado consumidor, adaptando-se a um perfil de consumo que valoriza a personalização, a conveniência e a sustentabilidade.
Análise do cenário econômico e seu impacto no consumo
O cenário econômico brasileiro, influenciado por uma combinação de fatores globais e locais, exerce um impacto significativo no comportamento de consumo.
O crescimento do PIB é um indicador crucial, refletindo a saúde geral da economia. O Ministério da Fazenda, de acordo com divulgação da revista Exame, elevou a expectativa de alta do PIB em 2024 de 2,5% para 3,2%.
Em períodos de crescimento econômico, o aumento da renda disponível e a confiança do consumidor tendem a impulsionar o consumo.
No entanto, a inflação elevada, que compromete o poder de compra, pode contrariar esses efeitos positivos, levando a um comportamento de consumo mais cauteloso e à priorização de necessidades básicas.
De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), em publicação do Diário do Comércio, o Brasil está projetado para ser a oitava maior economia do mundo em 2024.
Esse avanço resulta de uma previsão de crescimento do PIB, impulsionado principalmente pelos setores de comércio, serviços e agropecuária, além do aumento dos investimentos e do consumo das famílias, favorecidos pela redução da taxa Selic e pela queda no desemprego.
Embora a taxa Selic tenha caído recentemente, os juros básicos do país ainda são uma barreira para o empreendedorismo.
Atualmente, o dinheiro parado rende inflação (IPCA) mais 6,4% ao ano, o que significa que o retorno sobre investimentos empresariais precisa ser extremamente atraente para justificar o risco.
É essencial que os juros continuem a cair de forma equilibrada e sustentável, sem reduções forçadas.
Economia global
A economia global também desempenha um papel importante, uma vez que a interação com mercados internacionais afeta a estabilidade econômica local.
Fatores como taxas de juros globais e políticas comerciais podem influenciar a inflação e a taxa de câmbio, impactando diretamente os preços internos e o custo de vida.
Desemprego
No Brasil, o desemprego e a renda disponível são determinantes críticos da confiança do consumidor.
Altas taxas de desemprego reduzem a capacidade de compra e afetam de forma negativa a confiança, resultando em uma diminuição do consumo.
Por outro lado, a criação de empregos e o aumento da renda disponível podem estimular a demanda.
Fatores climáticos
Ainda temos de considerar os fatores climáticos, que têm impactado a economia no Brasil, já que a população está menos confiante devido a tragédias, como as enchentes no Rio Grande do Sul no primeiro semestre.
Tragédias como essa, além de impactarem a economia local, acarretam a necessidade de recursos federais para reconstrução e assistência às vítimas, gerando ainda um efeito sobre as finanças públicas, o que reduz o ritmo de crescimento econômico do país.
Para o segundo semestre de 2024, a combinação desses elementos – crescimento do PIB, inflação, desemprego, renda disponível e fatores climáticos – moldará a confiança do consumidor e seu poder de compra.
Em um cenário de inflação controlada e crescimento econômico sustentado, a confiança do consumidor tende a aumentar, favorecendo um comportamento de consumo mais robusto.
Em contraste, altos níveis de inflação e desemprego podem levar a uma contenção de gastos, com consumidores ajustando suas despesas em resposta às condições econômicas adversas.
Tendências de consumo para o segundo semestre de 2024
Em uma análise macro para expectativa de consumo e tendências para o segundo semestre de 2024, podemos destacar os pontos abaixo.
Sustentabilidade
No segundo semestre de 2024, a tendência de consumo por sustentabilidade continuará a crescer.
Os consumidores estão cada vez mais preocupados com o impacto ambiental de suas compras e buscam marcas que adotam práticas responsáveis.
Produtos que minimizam a pegada ecológica, como embalagens recicláveis e processos de produção sustentáveis, estão em alta.
Marcas que se destacam por suas iniciativas ambientais e sociais não só atraem consumidores conscientes, mas também fortalecem sua imagem de responsabilidade, ganhando preferência no mercado.
Empresas como Natura e Ambev, que investem em transparência e sustentabilidade, estão melhor posicionadas para capturar a lealdade de clientes que valorizam o compromisso com a preservação do meio ambiente.
Personalização e experiência do cliente
A personalização e a experiência do cliente continuam a ser uma prioridade no segundo semestre de 2024.
Com o avanço de tecnologias como inteligência artificial e automação, as empresas estão cada vez mais aptas a oferecer experiências de compra mais imersivas e adaptadas às preferências individuais dos consumidores.
A utilização desses recursos permite uma maior personalização das ofertas, recomendações mais precisas e uma experiência de compra mais fluida e eficiente.
As empresas que investem na criação de jornadas personalizadas e interativas para seus clientes tendem a se destacar e a cultivar uma base de clientes mais satisfeitos e engajados.
Comportamento de compra online x offline
O conceito omnichannel, que integra as experiências de compra no e-commerce e no offline, será essencial no segundo semestre de 2024.
Os consumidores esperam uma transição suave entre os canais, podendo iniciar uma compra online e finalizar na loja física, ou vice-versa.
Empresas que oferecem uma integração eficaz entre seus canais de venda, proporcionando uma experiência de compra coerente e sem fricções, estarão em uma posição vantajosa.
A capacidade de sincronizar inventários, oferecer opções de retirada em loja, e facilitar devoluções e trocas entre canais contribui para aumentar a satisfação do cliente e fidelizar a base de consumidores.
O papel das promoções e datas sazonais
As promoções e datas sazonais, como Black Friday e Natal, têm um papel crucial no desempenho do varejo durante o segundo semestre, especialmente em um cenário econômico instável.
Esses eventos são responsáveis por impulsionar o consumo em massa, pois oferecem aos consumidores oportunidades de adquirir produtos com descontos significativos, muitas vezes planejando suas compras de forma antecipada.
A Black Friday, por exemplo, se tornou um dos maiores eventos de consumo do Brasil, com empresas de todos os setores oferecendo promoções para atrair compradores que buscam por preços reduzidos.
O Natal, por sua vez, é tradicionalmente um período de compras com apelo emocional, voltado para presentes e confraternizações, impulsionando as vendas em diversos segmentos.
Para o varejo, a preparação para essas datas é essencial para alavancar vendas e compensar possíveis quedas no consumo durante o restante do ano.
Em um cenário de economia instável, como o observado em 2024, as empresas precisam ajustar suas estratégias para se destacarem diante da concorrência.
Investir em promoções bem planejadas, marketing eficiente e uma experiência de compra sem atritos, tanto no ambiente online quanto offline, pode ser decisivo.
Além disso, é importante utilizar dados de consumo para personalizar ofertas e melhorar a eficiência do estoque, garantindo que produtos desejados estejam disponíveis nos momentos de maior demanda.
A chave para aproveitar o potencial dessas datas está em oferecer não apenas descontos atraentes, mas também uma experiência de compra otimizada, que inclua atendimento ao cliente eficiente, facilidades de pagamento e logística bem estruturada.
Empresas que se prepararem adequadamente para a Black Friday e o Natal, antecipando as tendências de consumo e as expectativas dos clientes, poderão não apenas aumentar suas vendas, mas também fortalecer o relacionamento com seus consumidores, garantindo fidelidade em um momento de incerteza econômica.
Desafios e oportunidades do varejo físico
O varejo físico enfrenta desafios e oportunidades no atual cenário, marcado pelo aumento da automação e pelo uso crescente de tecnologia para aprimorar a experiência do cliente.
Como adiantamos, um dos principais desafios é adaptar-se às novas expectativas dos consumidores, que demandam conveniência e rapidez nas lojas físicas, muitas vezes comparando-as com a eficiência das compras online.
A automação surge como uma solução importante para superar esses desafios, permitindo que as lojas físicas ofereçam uma experiência mais moderna e fluida.
O uso de tecnologias como robôs de atendimento, sensores de estoque e soluções de autoatendimento tem o potencial de transformar a forma como o varejo físico opera. Robôs podem ser empregados para orientar os clientes dentro da loja, oferecendo informações de produtos e melhorando o engajamento.
Soluções de autoatendimento, como caixas de pagamento automatizadas e sistemas de checkout por smartphone, permitem que os consumidores finalizem suas compras com rapidez e autonomia, reduzindo filas e melhorando a satisfação geral.
Ao mesmo tempo, essas inovações tecnológicas representam grandes oportunidades para o varejo físico, ao criar uma experiência híbrida que combina o toque humano com a eficiência automatizada.
Além de melhorar a operação interna, como a gestão de estoque e o reabastecimento mais rápido, a automação pode liberar a equipe para focar em um atendimento mais personalizado.
A adoção dessas tecnologias não só otimiza a operação, mas também aumenta a competitividade do varejo físico, atraindo consumidores que ainda valorizam a experiência presencial, mas que esperam uma jornada de compra simplificada e integrada ao mundo digital.